Intervenção Social Generativa em Idosos Dependentes

LIMITES E POTENCIALIDADES DE UMA INTERVENÇÃO SOCIAL GENERATIVA NO DOMINIO DOS CUIDADOS INFORMAIS A IDOSOS DEPENDENTES. Texto de Maria João Escórcio Paixão, Licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior em Serviço Social, Mestre em Serviço Social pela Universidade Fernando Pessoa do Porto, e Cristina Pinto Albuquerque, Doutora em Letras, Especialidade Trabalho Social e Política Social; Docente na Universidade de Coimbra. Resumo: O envelhecimento da população está associado à dependência que no contexto socioeconómico confere ao cuidador informal principal um papel importante. Neste contexto, este estudo pretende compreender o fenómeno do envelhecimento ativo e saudável e identificar os limites e potencialidades emergentes da intervenção social generativa, quer junto do idoso quer junto das famílias cuidadoras. De cariz qualitativo, esta investigação desenha-se com recurso a entrevistas semiestruturadas, e grupos focais aos CPF e AS, nomeadamente, elaboração de mapas de rede de cuidadores e grupos focais a 8 cuidadores informais (CPF) e 12 profissionais, entre assistentes sociais (AS) do SAD do Instituto de Segurança Social da Madeira e dirigentes de IPSS. Complementando-se com os mapas de rede, antes e após a situação de dependência do idoso, analisando as redes de proximidade e de serviços na vida dos CPF, de forma a potenciar ou alargar o capital social das famílias e idosos dependentes. A análise e tratamento dos dados foi norteada pela lógica de análise categorial, que identifica as mudanças nos mapas de rede de CPF, projetando os cuidados informais como um processo significativo na vida das famílias, implicando as políticas públicas na prática profissional dos AS. Os dados revelam que são importantes respostas mais flexíveis nos cuidados a idosos dependentes, não apenas na comunidade, mas na construção de pilares que possam conduzir a ações diferentes, usando novos recursos (nomeadamente tecnológicos) e novas formas de articulação entre os recursos e respostas existentes formais ou informais. É iminente repensar a conceção de envelhecimento na base na prevenção, soluções que assegurem uma integração social ativa. Os resultados apontam que há um superficial conhecimento das políticas relacionadas com o envelhecimento e com os cuidados. Em termos de princípios, o Serviço Social posiciona-se a favor da cidadania e o aprofundamento da equidade e justiça social, através de comunidades amigas dos idosos, smart cities, subjacente ao bem-estar da pessoa idosa, revelando uma consciência na prevenção considerada um meio e um fim para o desenvolvimento do bem-estar. Palavras-chave: Cuidados Informais; Pessoa Idosa; Família; Serviço Social Generativo.

O Processo do Envelhecimento e os Bastidores dos Cuidados Familiares do Idoso Dependente

Numa sociedade cada vez mais envelhecida em que o aumento da longevidade surge associada a um aumento substancial das necessidades de apoio, a família desempenha um papel importante na provisão de cuidados informais para com os seus membros, tornando-se fundamental o papel da família cuidadora no bem-estar da população idosa. Nesta linha de análise, torna-se essencial analisar numa perspetiva generativa, a intervenção social junto dos cuidadores informais de idosos dependentes.

A este propósito, salienta-se que mais importante é dar mais vida aos anos do que dar mais anos à vida, tornando-se inevitável que o envelhecimento a curto prazo será em todos os casos bem diferente daquele que nos habituamos a constatar, perspetivando que viveremos em melhores condições de vida.

De acordo com Rodrigues (2018); Rocha (2018), o grande propósito é fazer acompanhar o aumento de esperança de vida com o período de vida saudável e, por conseguinte, confiar que vivemos os anos que estão para vir com a melhor qualidade de vida possível.

Do ponto de vista da saúde das pessoas idosas, é importante que os serviços se focalizem na prevenção das doenças investindo num acompanhamento multidisciplinar, prestado ao longo da vida e não somente no fim (Carvalho, 2016; Rosa, 2020).

Neste sentido, Simões e Sapeta (2017); Mota (2021) defendem que a nova geração de idosos previsivelmente com maior longevidade cuidará melhor de si e terá acesso a inovações, novos padrões de consumo, estilos de vida mais saudável, maior literacia em saúde e manutenção de atividades recreativas que criarão na sua conjugação, a possibilidade de viver com melhores condições de vida.

Nesta linha de análise, Ribeiro e Paúl (2018) por outro lado, acrescentam que cada pessoa é resultante das suas disposições naturais e das suas circunstâncias de vida. Por esse motivo, há que entender o envelhecimento como um continuum, “envelhecer como se viveu”, que, sobretudo depende da saúde, do estilo de vida e da educação, sublinha-se que, embora o envelhecimento seja um processo contínuo, cada pessoa envelhece à sua maneira, mas ao mesmo tempo é um processo determinado também pelo tempo e tipo de sociedade em que vive.

A Organização Mundial de Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” no final de 1990, sintetizado como uma oportunidade contínua de saúde, segurança e participação. Nesse contexto, “ativo” não está apenas relacionado com a capacidade física dos idosos, mas sobretudo, com a sua participação contínua na sociedade, nas questões relacionadas com a vida em comunidade onde vive, advogam Zaidi e Howse (2017).

A este propósito, a Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025, relaciona-se com a participação da pessoa nos diferentes vetores da sociedade como na vida social, económica, cultural, espiritual e cívica. Tal como a ONU e a União Europeia foram organizações que em 1980 e 1990 valorizaram o envelhecimento ativo. Estas abordagens procuraram combater simultaneamente a estereotipia do idadismo[1] neste segmento da sociedade, ganhando uma nova conceção na sociedade atual, valorizando as redes de solidariedade e sociabilidade ao longo da vida da pessoa idosa.

Exorta-se a ideia de que o envelhecimento é um fenómeno complexo e heterogéneo, que envolve questões de responsabilidade individual e social. Ao Estado também compete estabelecer normativos como forma de garantir condições de vida dignas aos cuidadores e aos idosos. Nesse contexto, o Estado deve reconhecer a família como fundamental no apoio e cuidados aos seus familiares idosos, usufruindo a família do suporte que possibilite tanto aos que cuidam como aos que são cuidados, ter uma vida digna e de bem-estar (Furtado, 2018; Soeiro e Araújo, 2020).

De acordo com os estudos relacionados, Fonseca (2018); Rolo e Alves (2020) constata-se que o conceito ageing in place apresenta um grande desafio na atualidade. O desejo de envelhecer em casa, num ambiente familiar adequado às modificações que implicam o processo de envelhecimento, é a situação preferida da maioria dos idosos. Isto por que, o domicílio é um espaço de relações afetivas e trocas sociais. Por conseguinte, a saída do idoso do meio familiar implica constrangimentos, conduzindo a maioria das vezes a um sofrimento.

Entendendo que a assistência e cuidado ao idoso dependente não dependerá somente da solidariedade familiar, mas de uma assistência abrangente que se reflete em todas as dimensões social, económica, saúde e bem-estar.

Nesse contexto, torna-se fundamental acionar mecanismos formais de ajuda, atendendo ao aumento da longevidade da população que crescerá de forma acentuada num futuro próximo.

A Construção Social do Envelhecer: Limites e Potencialidades da Intervenção do Serviço Social no Envelhecimento

A intervenção do Serviço Social junto das pessoas envelhecidas e famílias requer uma abordagem interdisciplinar, valorizando o ageing in place, significando continuar a viver em casa, mas também continuar na comunidade com segurança e de forma independente, beneficiando de um maior apoio social.

É nesta circunstância que o envelhecimento sempre foi um fenómeno analisado ao longo dos tempos, surgindo a pertinência da intervenção social junto da população idosa, nomeadamente aquela que tem carência de recursos, aumento da dependência, solidão, isolamento, fracas redes de sociabilidade, necessidades de cuidados de saúde e carências dos cuidadores (Paixão, 2017; Fragoso, 2018; Almeida, 2021; Anes et al., 2021).

Face a esta conjuntura, justifica-se a importância do profissional generativo alicerçado na capacidade dialógica que ao providenciar a intervenção social, assume o papel de mediador, auxiliando na identificação de necessidades e na procura de alternativas a nível individual e a nível coletivo, promovendo o empowerment junto das famílias cuidadoras.

Schnitman (2016) sustenta a ideia de que o processo generativo se desenrola quando o profissional considera a altura apropriada de fazê-lo, auxilia as pessoas a passar do foco no problema, para o foco na resolução do problema, ou seja, trabalhando para uma visão ou posicionamento produtivo baseado, alicerçado em estratégias inovadoras com vista a transformar o presente e o futuro.

Nesta lógica, Pereira (2017) advogam que são os mais vulneráveis, sobretudo, os que apresentam maior nível de dependência e fragilidades, que justificam a importância do profissional generativo no processo de cuidar de pessoas idosas.

Assim, é crucial o abandono de uma prestação clássica padronizada substituída por uma oferta “mais elástica”, capaz de dar uma resposta mais adequada à garantia dos direitos dos idosos, sem que as características da residência ou o seu poder económico, se tornem diferenciadores e influenciadores. É fundamental fazer frente a processos de desigualdade social, fazendo com que o idoso se reconheça como pessoa de direitos, deixando para trás uma intervenção com características assistencialistas (Rodrigues, 2018; APAV, 2020; Silva, 2021).

Corroborando a mesma perspetiva, o futuro passa por integrar soluções diversificadas, que respondam, simultaneamente, às diversas realidades do quotidiano local e regional, às comunidades e aos indivíduos. Porém, não existe a solução perfeita, mas podem existir várias formas ou trajetos para chegar ao mesmo objetivo ou a objetivos renovados, que possam fazer face ao processo de envelhecimento.

Destaca-se a importância de acompanhar as novas tecnologias e demonstrar a sua utilidade junto das pessoas mais idosas, de forma aceder a outras linguagens integradas na sociedade tecnológica e, desse modo, ajudar a recuperar uma imagem positiva do seu estado de velhice (Albuquerque, 2017; Rocha, 2018; Santos et al., 2018; Caraça, 2021).

Nesse contexto, é um desafio fortemente associado à intervenção social do cuidador, que a partir do desenvolvimento de infraestruturas digitais permitem ao cidadão tirar partido de novas oportunidades oferecidas pelas tecnologias como respostas fundamentais para responder às necessidades dos idosos.

Neste campo, a “política generativa” enquadra uma mudança de perspetiva: em princípio articulada para dar poder individualmente às pessoas, ela deve ser transplantada para uma dimensão coletiva, ou seja, deve ser implementada conectando as pessoas, de modo que façam as coisas juntas, e assim assumam a responsabilidade pelos problemas e soluções que compartilham, com isso superando a atomização produzida pelo Estado do Bem-Estar (Giddens, 1994). Reforçando a ideia de Serviço Social generativo, Giddens (1994) descreve a política generativa como uma “politica do domínio público (…) Produz efeitos ao fornecer condições materiais e estruturas organizacionais para as decisões de política da vida tomadas pelos indivíduos e grupos.” (Giddens, 1994, p. 11).

A intervenção generativa, impulsionadora de empoderamento tem como objetivo não só capacitar o cuidador informal como responsável pela gestão dos cuidados da saúde do idoso que está à sua responsabilidade, mas também desenvolver relações de parceria com a comunidade, recorrendo às tecnologias e obtendo efeitos positivos na sua própria saúde, potenciando sobretudo a capacidade e autocontrolo das emoções, conseguindo bem-estar físico, mental e social (Costa & Nunes, 2020; Nossa, 2020; Sousa et al., 2021).

Método

A metodologia utilizada foi qualitativa, associada ao paradigma interpretativo dos dados empíricos. Definiu-se como procedimento operacional para coletar informações pertinentes à pesquisa, a realização das entrevistas semiestruturadas e grupos focais aos CPF e profissionais. Procedeu-se para além da elaboração de mapas de rede dos CPF e análise documental sobre as políticas vigentes como técnicas auxiliares desta investigação.

A amostra estudada é formada por cuidadores principais familiares de idosos dependentes indicados pelos AS do SAD do Instituto de Segurança Social da Madeira. Foi selecionada uma amostra de oito cuidadores e a doze AS.

As entrevistas aos CPF e aos AS iniciou-se com a explicação da temática da investigação de forma genérica, bem como dos objetivos da entrevista. Foi distribuído um termo de consentimento pelos participantes, solicitando a permissão da gravação em áudio. Também foi explicado que a identidade dos entrevistados seria de cariz confidencial, salvaguardando, todas as informações prestadas durante as entrevistas Todos os participantes consentiram participar livremente nas entrevistas e que estas fossem gravadas. As entrevistas foram realizadas com a duração aproximada de 40 minutos cada.

A entrevistas semiestruturadas estão formadas por perguntas abertas e fechadas, remetendo para o enquadramento da temática, baseado em perguntas abertas e analisando a perspetiva dos cuidados informais.

Nas sessões de focus group, num primeiro momento, foi explicado de forma geral os objetivos da sessão, fazendo o enquadramento da temática da investigação. Seguidamente, foi distribuído pelos participantes o termo de consentimento de forma a garantir que toda a informação obtida nas sessões, seria de uso único e exclusivo à investigação. Neste âmbito, todos os participantes concordaram em participar nestas sessões, gravadas com o consentimento dos elementos presentes. Cada sessão teve a duração média de cento e vinte minutos, divididas em dois grupos: um grupo de CPF e profissionais de Associações e Instituições de apoio a idosos (AS e Dirigentes de IPSS).

As entrevistas e os grupos focais foram posteriormente transcritos e analisados a partir de uma leitura exaustiva. A análise dos dados correspondeu aos seguintes procedimentos: categorização sistémica do conteúdo, tabulação dos conteúdos, identificação das semelhanças e diferenças nos discursos, correlação dos testemunhos com as referências teóricas, interpretação e discussão dos dados recolhidos.

Resultados e Discussão

Após a recolha dos dados empíricos, procedeu-se a uma decomposição do conteúdo das entrevistas e grupos focais a CPF e AS, que se alinham com os depoimentos dos vários entrevistados sobre o impacto da prestação de cuidados a idosos dependentes, o processo de suporte social e políticas de apoio atuais aos CPF e, em particular, sobre a questão de uma intervenção social generativa através do capital social. Esta abordagem pretendeu ir de encontro a uma apreciação sobre as limitações e potencialidades do apoio social, considerando as necessidades e expectativas dos CPF, num contexto socioeconómico em mudança.

A propósito do impacto dos cuidados prestados pelos familiares ao idoso dependente, o reconhecimento social do papel do cuidador por parte da comunidade assume importância, embora muitos dos que rodeiam estes cuidadores não entendem o seu papel nas diferentes dimensões. Este reconhecimento foi salientado apenas pelas pessoas que já tinham experienciado o papel de cuidadoras.

Os cuidadores referindo-se aos apoios e ajudas técnicas, salientaram que são um contributo nos cuidados prestados, o que os leva a recorrer à segurança social para obter este suporte formal que melhora a qualidade de vida dos idosos dependentes.

Em consequência do ato de cuidar, os entrevistados demonstraram que a vizinhança também é um suporte essencial na ajuda dos cuidados a prestar aos idosos dependentes. Este suporte é valorizado pelo facto de muitas vezes, a família não reside com os idosos e a vizinhança possibilita um conforto ao idoso quando este não é facilmente garantindo pelo cuidador informal. Por outro lado, a vizinhança muitas vezes é reconhecida como um recurso também envelhecido, contudo, mesmo assim, é uma mais-valia simplesmente pelo facto de realizar tarefas simples como fazer companhia ou ajudar na confeção de uma simples refeição ao idoso.

Porém, destaca-se que o suporte no cuidado é sem dúvida a família, que agiliza a prestação de cuidados e permite um alívio mental e físico ao cuidador. Foi notório que alguns cuidadores manifestaram falta de apoio por parte de membros da família, o que muitas vezes provoca desconforto dentro do seio familiar, dificultando a realização das tarefas diárias.

Na composição do discurso dos entrevistados, constata-se que estão em concordância sobre a importância do trabalho em equipa. Ressalta-se o facto da desarticulação das respostas e a não integração das famílias, poderá conduzir ao afastamento destas ao longo do processo de intervenção. Neste contexto, devemos atuar não como ilhas isoladas, mas em rede, promovendo a partilha como um valor essencial, com vista a uma verdadeira sociedade do cuidado.

Salienta-se que não se trata de paternalismo ou protecionismo, trata-se de salvaguardar o bem-estar da pessoa idosa nesta fase da vida, que pressupõe o desenvolvimento de valores éticos que se alicerçados na solidariedade de modo que a sociedade consiga se tornar mais humana.

Face ao exposto, intui-se que deverá haver uma responsabilidade partilhada a nível da família, das redes informais e formais de apoio, das instituições sociais e sistemas de saúde, equacionando respostas variadas que possibilitem um cuidado seguro aos idosos dependentes e que simultaneamente, protejam quem assume o cuidado de forma informal.

A experiência de ser CPF de idosos dependentes é vivida com muita intensidade. As narrativas dos entrevistados fazem emergir sentimentos de impotência e receio, principalmente ao nível da gestão da doença, advindas do grau de impreparação e das dificuldades inerentes à prestação de cuidados, de uma forma geral. A maioria dos CPF manifesta incerteza sobre o futuro da prestação de cuidados aos idosos, estando relacionado com a gravidade do estado de saúde e a progressividade da dependência, conscientes, por um lado, do regime dos cuidados necessários e, por outro, da inadequação dos que atualmente existem às necessidades dos idosos e de quem deles cuida.

Presume-se que o aumento da longevidade e maior esperança de vida coloca em questão a existência de recursos suficientes para estabelecer um trabalho de proximidade entre o assistente social e a família cuidadora. Consideramos desde logo, que a intervenção social poderá desenvolver cada vez mais uma ação direta com os utentes e com as redes de apoio, contemplando as dimensões familiares, educacionais, económicas e habitacionais, objetivando o bem-estar dos idosos e familiares.

De acordo com Robertis et al. (2019), a intervenção social é designada como o “situar-se entre”, num processo de mediação e de confiança, ao dirigir-se à pessoa inserida na sociedade. Porém, Robertis (2011) reconhece também o assistente social como agente de mudança, o que significa que focaliza a sua ação nas suas potencialidades e na sua dinâmica, que ainda assim, transforma a situação das pessoas através da ação.

Do depoimento de GF_P3, emerge a necessidade de desenvolvimento de políticas direcionadas para a prevenção, através de programas promotores do envelhecimento ativo, no entanto, cuidar não se limita apenas à componente física, dado que: “(…) não podemos descuidar (…) dos outros dois pilares fundamentais, que é o psicológico e emocional, que é a própria forma como cada um de nós vive (…)”, cuja prevenção é essencial à garantia do bem-estar social do idoso e do cuidador.

Neste seguimento, as narrativas referem insatisfação pela ajuda atribuída pelos serviços, “apontando o dedo” ao Estado, pela ineficácia nas medidas políticas criadas, alegando que estas estão aquém da realidade e das necessidades sentidas pelos CPF. Para muitos dos CPF, também a demora na agilização dos apoios devido ao excesso de burocratização dificulta o processo de suporte social às famílias cuidadoras de idosos dependentes, resultando numa demora na aquisição do apoio ou até mesmo desistência por parte do CPF, como acrescentam alguns AS. Para tal, é indispensável que se invista no tempo direcionado para apoiar e prestar cuidados aos idosos, ao invés do tempo dispensado com a burocratização do processo. No entanto, os aspetos burocráticos diferem de localidade para localidade, o que poderá estar associado também à capacidade de agir dos profissionais.

Evidencia-se nos testemunhos uma outra particularidade especialmente associada à escassez de equipamentos, que colocam em causa a prestação dos cuidados e o bem-estar do idoso. Alguns CPF afirmam que, muitas vezes têm de recorrer à compra de ajudas técnicas (cadeiras de rodas e fraldas), pois estas não estão disponíveis nos serviços, bem como dos medicamentos necessários para o idoso, o que provoca mais um acréscimo aos gastos associados aos cuidados.

Um outro domínio passa pelo desenho de respostas variadas e imbricadas que possibilitem um cuidado seguro aos idosos e que simultaneamente protejam quem assume o cuidado de forma informal, tendo como foco as tecnologias de informação. Podemos perceber que as tecnologias são certamente características da sociedade em que vivemos, que passa hoje em grande medida pela capacidade de inovar e criar. A tecnologia afirma-se neste contexto como um meio para favorecer o intercâmbio do conhecimento e ampliação da rede do idoso e do CPF, preparando os contextos, contribuindo para uma política de longevidade. Assim, tendo como exemplo as tecnologias digitais podemos objetivar como resposta, por um lado, a rentabilização dos recursos e, por outro lado, a aplicação das tecnologias, na forma de teleconsulta, que facilitava o acompanhamento dos serviços ao idoso, tendo ainda a mais-valia de atenuar a sobrecarga do CPF.

Neste sentido, é importante abordar esta temática das tecnologias como promotor de capital social, no sentido de complementar o sistema mais tradicional, no processo de proximidade e interação em situação de dependência, construindo novas respostas para necessidades tradicionais, abrindo uma nova realidade a ser desenvolvida pelos AS, direcionando a intervenção social para a mudança social e geradora de novas comunidades (Albuquerque, 2016; 2017).

Não se tratando de uma projeção propriamente dita, mas de procuras, através das entrevistas e grupo focal dos CPF os entrevistados apontam para um momento de incerteza a médio ou longo prazo sobre a trajetória dos cuidados informais, havendo uma disfunção entre as necessidades reais dos CPF e a forma como se analisam e planeiam as políticas e apoios aos CPF e idosos, tanto numa perspetiva atual como nas estratégias a adaptar futuramente.

O Serviço Social generativo passa pela promoção de capital social como forma de revitalizar a sociedade civil para os problemas de governabilidade da sociedade contemporânea. Com efeito, o AS deverá refletir sobre as potencialidades do capital social, de forma a garantir um maior apoio aos CPF de idosos dependentes, não descurando as limitações existentes. Face a esta conjuntura deverá haver uma oferta mais elástica em substituição de uma prestação padronizada, capaz de dar uma resposta mais adequada, tendo em conta as novas características do idoso e do CPF, do presente e do futuro.

Por meio de iniciativas de políticas públicas mais ambiciosas, espera-se que um melhor bem-estar seja experimentado pela maioria da população idosa e pela sociedade em geral.

Conclusão

Para fazer face à dependência da pessoa idosa, foram sendo implementados progressivamente na sociedade portuguesa, um conjunto alargado de serviços e equipamentos sociais de suporte que contribuem para a manutenção dos idosos no meio sociofamiliar o maior tempo possível bem como, pretendeu aliviar a prestação de cuidados do cuidador informal.

A literatura e a observação da realidade dos entrevistados demonstram a necessidade da complementaridade do cuidado profissional e do cuidado informal.

É indultável que o aumento de esperança de vida está muitas vezes associado a uma maior prevalência de doenças crónicas que contribuem para situações de dependência, implicando a necessidade de cuidados informais e de apoio das famílias cuidadoras.

O problema que se coloca às políticas relacionadas com o envelhecimento é o de encontrar mecanismos certos para garantir a solidariedade, no presente e no futuro, assim como para responder às necessidades emergentes advindas do envelhecimento. Considera-se que o desenvolvimento e fortalecimento das redes podem ser de facto uma influência benéfica no processo de envelhecimento.

Os resultados desta pesquisa apontam a importância da prevenção, na preparação do envelhecimento que se quer cada vez mais ativo e saudável, vinculada numa perspetiva generativa, identificando os limites e potencialidades da intervenção social junto das pessoas idosas.

Neste sentido, identificamos a necessidade de formação para os CPF e profissionais e a importância da monitorização do trabalho realizado junto dos idosos dependentes e cuidadores informais, de forma garantir uma melhor qualidade de vida destas populações.

O conceito de envelhecer em casa (ageing in place) pressupõe adequar os espaços domésticos bem como espaços exteriores contribuindo para um envelhecimento ativo e a dignidade da pessoa idosa. A intervenção do AS para além da sua função reguladora e educativa, tem pois de incrementar, no domínio do envelhecimento, uma dimensão que instiga a inclusão social, estimulando a participação, e que o coloca não só como mero facilitador da coesão e capital social (Putnam, 2002), mas acima de tudo como um profissional que inova, que cria e que estimula medidas adaptativas na rede social e nos sistemas públicos e privados, que possam ajudar a garantir a segurança e o bem-estar da pessoa que envelhece e da respetiva família.

Neste âmbito, permite afirmar o impacto que as medidas desenvolvidas no contexto possuem. Ou seja, medidas capazes de gerar uma comunidade amiga das pessoas idosas, que adapta os seus serviços e estruturas de forma a tornar-se recetiva às necessidades da população, incentivando um envelhecimento saudável e melhorando a qualidade de vida à medida que se envelhece. Reconhece-se a importância de apoiar as pessoas idosas que desejam viver na sua habitação, com adaptações favoráveis que permitem manter-se autónomas pelo máximo tempo possível. O conceito de envelhecer em casa parte do princípio da necessidade de adequar os espaços domésticos, bem como os espaços exteriores, contribuindo para aumentar a mobilidade, garantir o acesso aos serviços de proximidade, aumentar a autoestima do idoso, e a sua dignidade como pessoa.

Por outro lado, os princípios da ergonomia também implicam os CPF que passam por dificuldades no espaço doméstico, quando este não facilita o seu trabalho, contribui para a sua sobrecarga e insatisfação. A necessidade de políticas públicas mais efetivas relacionadas com estruturas habitacionais é, pois, fundamental.

Outro conceito que tem vindo a ser cada vez mais visível e que surge como alternativa aos lares e à fatalidade dos mais velhos viverem sozinhos é o conceito cohousing[2][3] ou habitação colaborativa (Charles Durrett), ajudando a colmatar a solidão e assegurando uma integração social ativa.

Esta medida de promoção de envelhecimento ativo emerge dos processos de criação de novas políticas públicas de desinstitucionalização. Este modelo de moradia corresponde a uma vivência colaborativa, assente na facilitação de intercâmbios de conhecimentos e experiências, que melhoram de um modo geral, a vida das pessoas idosas, enquanto lhe são providenciados proteção, segurança e cuidados adequados (Soeiro e Araújo, 2020). Este modelo de cohousing toma como possibilidade alargar as disposições de cuidado a desconhecidos e não apenas a quem é mais próximo ao idoso, criando e alargando as redes de apoio, para além de significar ampliar a noção de família, compreendendo que há diferentes configurações que não passam pela consanguinidade ou pelo casamento, mas nem por isso são menos válidas no contexto do cuidado. É neste contexto que este novo formato de couhousing fomenta um novo padrão de vida, baseada em comunidades intencionais que vão ao encontro do envelhecimento ativo, compartilhando espaços de convivência, atividades e auxílio mútuo (Machado et al. 2017).

Do mesmo modo, é muito importante incentivar o desenvolvimento de atividades intergeracionais e de uma maior sensibilização para a utilização das tecnologias de informação e comunicação. Instigar a importância das tecnologias com o intuito de desenvolver técnicas e práticas que possam compensar as dificuldades em relação ao tempo e à distância, permitindo interações favoráveis à independência, ao conforto, à qualidade de vida da pessoa idosa e do familiar cuidador, é hoje um elemento fundamental para a capacidade de inovar e criar respostas sociais alternativas, não se descurando, porém, a necessidade de, em paralelo, gerar medidas que permitam suplantar o “digital gap”, promotor de exclusão digital de idosos e CPF ainda não familiarizados com os avanços tecnológicos.

Nesse intento recomendam-se estratégias que conectem as pessoas a grupos ou redes em diferentes localizações geográficas, nomeadamente a tele-assistência ou telecuidados contribuindo para uma maior proximidade da família, intervenção e acompanhamento social e sobretudo, obter respostas mais céleres a nível de saúde. Esta mudança de paradigma na evolução gradual dos meios tecnológicos possibilita aos idosos o envolvimento social e cultural, superando progressivamente a tensão entre a tradição e, uma atualização essencial diante das rápidas mudanças presentes na sociedade contemporânea.

Nota-se que ainda há um caminho longo a ser percorrido, quer na criação de políticas efetivas de promoção do envelhecimento ativo, quer na implementação de medidas de um estilo de vida mais saudável para a população envelhecida. Porém, evidencia-se a importância de uma reflexão sobre o modo como as pessoas vivem e o que pode ser feito para alcançar maior longevidade, mas sobretudo, direcionando-as para um envelhecer com maior autonomia, qualidade e dignidade.

O fenómeno do envelhecimento e da longevidade desafia-nos a reinventar a sociedade do século XXI e apela a uma sociedade que se constitua e desenvolva com base na solidariedade. Daí que torna-se necessário preparar hoje a velhice que se quer ter amanhã, apostando na promoção de um envelhecimento ativo.

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  1. Pereira (2017) apresenta nove estereótipos negativos para com as pessoas idosas são eles: a doença, a impotência sexual, a fealdade, o declínio mental, doença mental, a inutilidade, o isolamento, a pobreza e a depressão. Estes preconceitos ocorrem na família, no emprego em especial nas residências para idosos, e nos cuidados de saúde. Tipos de idadismo segundo Erdman Palmore, por outro lado, e em oposição destaca o idadismo positivo, são oito os principais: estereótipos, amabilidade, a sabedoria, o ser de confiança, a opulência, o poder político, a liberdade, a eterna juventude e a felicidade.



  2. The Cohousing Company. www.cohousingco.com


    Hac.Ora (hacora.org), consultado em 2023.



  3. O estudo realizado no Brasil entre 2013 e 2016, a 42 inquiridos teve como propósito identificar o perfil dos possíveis idosos e as razões que os levariam a viver cohousing, bem como identificar os seus benefícios, como factores físicos, psicológicos e sociais. A amostra foi predominantemente feminina, evidenciando uma maior tendência das mulheres se interessar mais por este formato de habitação. Dos depoimentos, a questão social, de viver em comunidade destaca-se como principal motivação dos idosos. O perfil do novo idoso procura moradias alternativas, que promovam o envelhecimento ativo, bem como, salienta-se a relevância dos aspetos psicológicos e sociais advindos da convivência em comunidade, elevando a qualidade de vida (Machado et al., 2017).