Bullying, Cyberbullying E Cibercultura

Este artigo foi realizado a partir de pesquisas do GPHSC-IFMT (Grupo de Pesquisa em Humanidades e Sociedade Contemporânea do IFMT) e do PPGEn- IFMT/UNIC. O objetivo desta pesquisa foi perceber as ações de bullying e cyberbullying entre os estudantes em escolas de Mato Grosso. O problema desta pesquisa foi: o acesso à aparelhos eletrônicos e internet aumenta os casos de agressão por meio das redes de comunicação? A natureza desta pesquisa é qualitativa. O método e a abordagem da pesquisa é a fenomenologia. O aporte teórico balizou-se em José Ortega Y Gasset (1983) e Pierre Lévy (1999). A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo e bibliográfica, baseada em Bogdan e Biklen (1994) “Investigação Qualitativa em Educação,” contou com a aplicação de um questionário online sobre o bullying em algumas Escolas Estaduais de Mato Grosso. A partir disso, observam-se os diagnósticos e surgiram os resultados demostrados em gráficos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê Ética sob o parecer número: 1.773.781. Os estudantes assinaram o termo de consentimento para participar desta pesquisa com o devido aceite de seus responsáveis. Os resultados apontam que mais de 65% dos estudantes afirmam já terem sofrido bullying, sendo que 20% sofreram cyberbullying e que é importante a participação da família e toda a comunidade escolar no combate a esse tipo de violência contra os direitos humanos. Palavras-chave: Educação. Bullying. Cyberbullying. Cybercultura. Texto de Carla Silbene Oliveira de Paula Schneiders1 Diego Antônio de Souza Pereira2 Sonaí Maria da Silva3 Francisco José de Sousa4 Francisco José Barbosa5.

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado a partir das pesquisas do Grupo de Pesquisa em Humanidades e Sociedade Contemporânea do IFMT – GPHSC/IFMT; neste grupo realizam-se pesquisas desde o ano de 2016 até o momento presente em 2023, trata-se de um projeto aprovado no Comitê de Ética sob o Parecer nº 1.773.781 que permitiu um diagnóstico sobre o bullying em escolas públicas estaduais, na rede particular e em diversos campus do IFMT, um campus do IFMG e outro no IFPB.

O GPHSC divulga os resultados das pesquisas a toda comunidade escolar e estimula as ações inclusivas com base no protagonismo jovem para superar o bullying que é uma violação aos Direitos Humanos.

O combate ao bullying sistemático recebeu reforço da Lei que foi sancionada em 2015, a Lei 13.185/15 que instituiu Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), obrigando escolas, clubes, agremiações a adotarem medidas de combate e prevenção através de capacitação de docentes e equipes pedagógicas assim como a orientação de pais e familiares, para identificar vítimas e agressores. Também estabelece que sejam realizadas campanhas educativas e fornecida assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores.

A punição dos agressores deve ser evitada considerando alternativas que promovam a mudança do comportamento, o que sem dúvidas é um desafio no contexto escolar por necessitar de equipe de apoio para desenvolvimento deste trabalho com êxito. Observa-se que a punição é o meio mais comum de resolução desse problema, embora seja necessário lançar fortes luzes sobre essa perspectiva.

O filósofo José Ortega Y Gasset aponta a necessidade de o ser humano não se reduzir a ser “massa”, um ser médio e consequentemente medíocre; enfatiza-se a característica humana de viver em “ensimismamiento” reflexivo em si sob as consequências na circunstância que pode ser alterada (ORTEGA, 1939). Semelhantemente, Freire (2006) afirma que o ser humano vivencia a sua realidade a partir do agir nela e disso decorre um processo de humanização.

Entende-se que olhar a educação pelas luzes da fenomenologia implica em experimentar o desafio de respeitar as singularidades em alteridade porque “eu sou eu e minha circunstância, se não salvo a minha circunstância não me salvo eu”. (Ortega, Meditaciones Del Quijote, 1957, p.17). Da mesma forma, esta ideia coaduna com a ideia de Freire em gerar os temas respeitando a história de vida e o conhecimento do estudante e também dos professores.

Para Ortega (1983), a vida é agir e a ação implica em escolha; ainda que a pessoa não exerça a escolha, ela não está isenta da mesma, e nisto consiste a liberdade do ser humano. Portanto, por meio das escolhas é possível alterar a circunstância, a “alteracion” das circunstâncias é o que se almejam nas ações contra o bullying em escolas.

Ortega (2007), no livro “A Rebelião das massas” aborda sobre o homem “médio” (medíocre), entende que a mediocridade vive em grandes aglomerados, essas “massas” são produzidas pela via da “obliteração das almas” porque é extinguindo a alma da pessoa que se engendra à revolta e à violência; o filósofo aponta que as ações da “massa” são violentas e o que ele nomeia sem pejorativo de “massa rebelde” está relacionado ao “hermetismo intelectual”:

A pessoa tem um grupo de ideias dentro de si. Resolve contentar-se com elas e se considera intelectualmente completa. Por não sentir falta de nada que esteja fora dela, instala-se definitivamente naquele repertório. Eis o mecanismo da obliteração. O homem-massa sente-se

perfeito. […] Já o homem medíocre de nossos dias, o novo Adão, nem pensa em duvidar de sua própria plenitude (ORTEGA, 2007, p. 101- 102).

Fazer resistência às mudanças necessária para que haja paz no ambiente de convivência escolar é uma grande “mediocridade” como diria Ortega, um ser “médio”.

O cyberbullying surgiu à medida que o uso de tecnologias foi aumentando e acompanhado desta evolução de interações para o virtual percebe-se que há uma tendência do comportamento agressivo também migrando para este universo.

O bullying se manifesta por ações entre pares onde há evidências de desigualdade de poder, já no Cyberbullying, a princípio, pode ser apresentado como um comportamento do bullying utilizando-se das tecnologias, porém, estas evidências não são tão claras.

O ciberespaço está presente no cotidiano das pessoas, principalmente dos “nativos digitais”. Cada vez mais a sociedade vem aderindo às novas tecnologias, corroborando com a ampliação de um ciberespaço cada vez mais universal com repercussão nas atividades econômicas, política e cultural.

Lévy (1999) acredita que o ciberespaço se constrói em sistema de sistemas refazendo várias vezes a figura de um labirinto móvel em expansão sem plano possível, universal, porém composto de uma universalidade desprovida de significado central, um sistema de desordem chamado “universal sem totalidade”. O crescimento inicial do ciberespaço é orientado com base em três princípios: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva.

Para a cibercultura a conexão é um bem em si e o horizonte técnico do movimento da cibercultura é a comunicação universal.

A cibercultura encontra-se ligada ao virtual de duas formas: direta e indireta. Diretamente, a digitalização da informação pode ser aproximada da virtualização. Os códigos de computador inscritos nos disquetes ou discos rígidos dos computadores — invisíveis, facilmente copiáveis ou transferíveis de um nó a outro da rede — são quase virtuais, visto que são quase independentes de coordenadas espaço temporais determinadas. No centro das redes digitais, a informação certamente se encontra fisicamente situada em algum lugar, em determinado suporte, mas ela também está virtualmente presente em cada ponto da rede onde seja pedida (PIERRE LÉVY, 1999, p. 51)

Assim, os veículos de informação não estariam mais no espaço, mas, por meio de uma espécie de reviravolta topológica todo o espaço se tornaria um canal interativo. E a cibercultura aponta para uma civilização da telepresença generalizada para além da comunicação.

A interconexão, primeiro princípio, constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras, cava um meio informacional oceânico, tece o universal por contato. O segundo princípio da cibercultura, comunidades virtuais, dá continuidade ao primeiro, já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se apoia na interconexão.

Uma comunidade virtual é construída baseada em afinidades, em processo de cooperação ou de troca, independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais. As “comunidades virtuais” realizam uma verdadeira atualização (no sentido da criação de um contato efetivo) de grupos humanos que eram apenas potenciais antes do surgimento do ciberespaço.

O terceiro princípio da cibercultura, o da inteligência coletiva, seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última.

METODOLOGIA

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, sendo descritiva e interpretativa. Bogdan e Biklen (1994) apontam que a disposição da pesquisa escolar é ser qualitativa descritiva, mesmo que existam demonstrações quantitativas em tabelas e gráficos e seja realizada de forma indutiva.

Bauer e Gaskel (2002) afirmam que o pesquisador não é apenas um observador, sua posição é de responsabilidade em conferir os dados com métodos precisos; a pesquisa gera informações à medida que as relações se encontram em intersubjetividades partilhadas por meio de discursos e gestos. Neste sentido, entende-se que o pesquisador participa ativamente da interpretação dos dados.

Este trabalho colaborativo conta com os pares da pesquisa. A abordagem da pesquisa é o estudo fenomenológico, bem como o método de compreensão dos dados.

O aporte teórico que fundamenta esta pesquisa parte das teorias de José Ortega y Gasset e Pierre Lévy. Os instrumentos de investigação empregados neste trabalho são o questionário semiaberto e a entrevista semiestruturada. O uso de diferentes instrumentos de pesquisa qualitativa, o questionário e a entrevista, foram necessários para registrar as circunstâncias com gravação de som individual ao captar o relato da história de vida.

O primeiro passo desta pesquisa refere-se à pesquisa bibliográfica que proporciona a base teórica em que os dados são interpretados.

Em seguida, demanda-se a implementação do questionário online, contendo 27 perguntas, sendo 24 objetivas e 03 subjetivas.

Por meio do questionário sobre o bullying foi realizada a análise criteriosa dos dados produzidos descrevendo e interpretando fenomenologicamente os resultados que compõem os gráficos.

E, por fim, o nome das escolas e dos discentes foram ocultados para resguardar a identidade deles dentro do princípio ético base da pesquisa com seres humanos.

O método geral deste trabalho é a fenomenologia para observar os fenômenos, descrever os dados, participar das intervenções e produzir uma nova percepção de realidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa online sobre o bullying obteve os seguintes resultados em 2019. 68% dos estudantes afirmam terem sofrido bullying e aproximadamente 50% dos casos durou mais de um ano. Esse percentual de estudantes que responderam a alternativa sim é extremamente relevante. Na compreensão fenomenológica alguns dos discentes que sofreram e praticaram bullying entendem isso como uma brincadeira aceitável.

Gráfico 1- Você já sofreu bullying na escola?

Fonte: Da pesquisa realizada (2019).

Trata-se de um fenômeno no qual o jovem precisa ser protagonista ao desejar alterar a circunstância e vivenciar uma transformação de atitudes como a expectação ao ignorar tais fatos.

Um dos dados alcançados nesta pesquisa foi a observação do cyberbullying, de acordo com o gráfico a seguir, alguns estudantes utilizam as redes sociais para atingir e intimidar colegas publicamente no mundo virtual.

Gráfico 2 – Fazem agressões virtuais (Redes Sociais)

Fonte: Da pesquisa realizada (2019).

Em uma das escolas pesquisadas foi possível investigar alguns casos específicos de cyberbullying. Acompanhar o desfecho de dois casos de cyberbullying ocorridos na escola, sendo que um deles culminou na transferência escolar do agressor e no outo caso a vítima escolheu ser transferida para outra instituição educacional. Sem mencionar os casos que não são relatados ou aqueles que acabam permanecendo ocultados.

Lévy (1999), corrobora que a cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social, sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, entre outros. Um grupo humano qualquer só se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado.

Qualquer reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundada em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber.

Em relação ao saber em alteração no mundo, Lévy (1999) aponta duas constatações. a primeira constatação diz respeito à velocidade de surgimento e de renovação dos saberes. A segunda constatação, fortemente ligada à primeira, diz respeito à nova natureza do trabalho, cuja parte de transação de conhecimentos não pára de crescer. E a terceira constatação: o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas.

O grupo de pesquisa GPHSC desde 2019 até a atualidade desenvolve e divulga entre estudantes um aplicativo para auxiliá-los em casos de enfrentamento de bullying em escolas. Schneiders et al. (2020) afirma que o aplicativo “Viva feliz: bullying não!” potencializa o alce dos objetivos pretendidos de combate ao bullying por meio do protagonismo juvenil.

De acordo com Rosário (2021) a sugestão de criar um aplicativo para a realização do combate ao bullying nas escolas foi criada pelos estudantes para que os próprios estudantes desenvolvam o protagonismo jovem ao criar também alguns conteúdos para o “Viva feliz: bullying não!”. Em sua pesquisa, ela ainda corroborou que os estudantes que baixaram o aplicativo consideraram a importância e necessidade desse aplicativo para se informar por meio de textos explicativos sobre o bullying e denunciar a violência escolar. “O aplicativo é funcional e acessível ao público infanto juvenil, o mesmo

apresenta interface interativa e atraente, é carregado de informações sobre bullying e cyberbullying, tem uma ferramenta de suma importância o chat,” (ROSARIO, 2021, pp. 109-101).

Neste caso, os estudantes podem fazer denúncias ou compartilhar as suas emoções e sofrimentos podendo contar com adultos voluntários que participam da organização do aplicativo.

Viva Feliz Bullying Não na App StoreFigura 1 – Ícone do aplicativo “Viva feliz, bullying não!

Fonte: Da pesquisa realizada (2020).

Rosário (2021) aponta que os estudantes, pesquisados no IFMT – Bela Vista, discutiram sobre a Lei nº 13.185/ de 06 de novembro de 2015 que instituiu a obrigatoriedade do Programa de Combate à Intimidação Sistemática nas escolas em todo o território nacional. A lei que determina o combate ao bullying precisa ser divulgada entre os jovens nas escolas (O que diz a Lei 13.185/2015

– Combate ao Bullying – abraceprogramaspreventivos.com.br).

A violência causada pelo bullying caracteriza-se como agressão repetitiva entre os pares,

No Brasil, principalmente no mês de abril de 2023, verificou-se uma ênfase em ataques aos estudantes e às escolas originados em jogos fatais, grupos de disseminação de ódio, preconceito, violência e Fake News.

As pesquisas sobre o pensamento de Ortega sobre Educação e Ensino nos levam a conhecer as problematizações de Amoedo (1997), que no capítulo

6 apresenta ideias de Ortega no âmbito da educação mostrando que o cientista busca a possibilidade de verdade no processo de construção do conhecimento, enquanto os estudantes não participam desse processo, eles recebem o conhecimento pronto como se estivesse acabado e a verdade como se fosse absoluta. Ressalta-se que a pesquisa de Amoedo reforça a ideia de que o protagonismo juvenil é fundamental para a elaboração do raciocínio discente.

O vertiginoso crescimento do uso dos ambientes virtuais e aplicativos de mensagens, vem proporcionado manifestações que ultrapassam os limites do respeito das convivências sociais sadias, existindo de forma indiscriminada manifestações frequentes de discriminações, injúrias, agressividade, fake news e fraudes. A escola como ambiente propício para formação ética, social e educacional do cidadão, passa a ter um importante papel preventivo das práticas de bullying e cyberbullyng, principalmente, pelo implemento de um ensino que tenha também objetivo educativo para cidadania digital.

Este respaldo está contido na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) quando destaca como atribuição da escola: Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. BRASIL (2017).

A preocupação com consequências nefastas sobre o indevido das novas tecnologias tem despertado a preocupação de inserir na formação dos alunos, o conhecimento do uso das novas tecnologias para melhorias das relações sociais e assim ampliar sua utilização sem temeridades.

Embora considere-se como uma meta difícil de ser atendida na sua totalidade, dada a amplitude sua implementação, mesmo assim, as instituições de ensino devem proporcionar capacitação para o alcance da tão pretendida cidadania digital.

A educação digital é responsável ainda pela transformação do ser humano físico-digital, no sentido de lhe fornecer condições de não se permitir ser controlado pela sociedade digital, de ter capacidade de refletir e formar sua própria opinião sobre as informações e conteúdos que acessa diariamente. (SOUSA, 2018. P.65).

Seguindo o entendimento de Garofalo (2021), para uma preparação eficiente da cidadania digital é necessários que sejam esclarecidos com frequência para os alunos: a criação e o emprego seguro de senhas, especificando os riscos de seu uso; a importância de manter a privacidade, restringindo ao máximo a informação sobre dados pessoais ou telemáticos; o respeito aos direitos autorais, destacando que aquele conteúdo teve um autor e que o seu uso depende de uma autorização e muitos casos a citação da fonte. O desrespeito a estes procedimentos pode ser caracterizado como crime; destacar sobre os riscos de vírus que possam interferir no seu equipamento, colhendo dados ou até mesmo tornando inoperante toda produção existente, pois tal qual um vírus biológico, eles infectam todo suas ferramentas digitais, necessitando o uso de programa antivírus.

Não se deve separar o que os adolescentes fazem on-line de seus desejos e interesses mais amplos, de suas atitudes e valores. Sua relação com os públicos em rede é uma evidencia de seu interesse em fazer parte da vida pública. O que não significa que estejam utilizando as tecnologias como uma forma de escapar da realidade. O envolvimento dos jovens com as mídias sociais e com outras tecnologias é, na verdade, uma maneira de se envolver com um mundo social mais amplo.

No entanto como afirma Costa (2019), não é possível dissociar os interesses e aspirações dos adolescentes na interação on-line, pois a sua a socialização que adota na rede é uma prática associada ao seu modo de integração social. Este envolvimento apenas confirma o seu interesse em estar sintonizado com o mundo em que ela se relaciona.

Essa necessidade de acompanhamento exige uma reflexão e um debate continuado sobre como conciliar o desenvolvimento da autonomia com a privacidade das pessoas e com a sua liberdade. Trata-se dum aspecto que também levanta questões éticas muito sérias para quem acompanha, porque acompanhar não pode significar “fiscalizar”, e muito menos “policiar”, deve pressupor uma relação de confiança entre “acompanhante” e “acompanhador”. Por isso, numa perspectiva de educação e desenvolvimento, afigura-se essencial criar ambientes de responsabilidade distanciados de moralismos ou de puritanismos conservadores. A responsabilidade é, em primeiro lugar, cognitiva e, provavelmente, uma das mais importantes funções da educação (familiar, escolar, social). É uma tarefa muito árdua, difícil, que pode ser muito conflituosa, requerendo enorme sabedoria. (PATROCÍNIO, 2008, p.56).

Assim sendo, a missão educativa incumbida aos professores, a escola e a família para uma educação da cidadania digital fincada nos princípios éticos e

humanos, é altamente desafiadora, porém é perfeitamente exequível, visto a grande contribuição social que será capaz de produzir, contribuindo assim para a melhorias do relacionamento nas mídias sociais.

A responsabilidade da escola com o desenvolvimento integral do aluno afim de capacitá-lo a desempenhar com eficiência e responsabilidade a sua missão cidadã, ganha mais uma responsabilidade, que é educar o jovem para lidar com as novas tecnologias de modo apropriado, contribuindo assim para que ganhos sociais sejam ampliados. A necessidade de adequar os currículos e as práticas pedagógicas com abordagens sobre segurança digital, uso racional das redes sociais e bullying e cyberbullyng, assim como outras situações sensíveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os efeitos do bullying e cyberbullying são o âmbito das perspectivas do presente estudo. Esta pesquisa é interessante aos estudantes, aos docentes e comunidade escolar das instituições educacionais públicas ou particulares em âmbito global. Contudo, as limitações deste estudo partem da possibilidade de rotatividade dessas pessoas no decorrer do ano letivo nas escolas pesquisadas. Os conceitos de Ortega (1983) “ensimismamiento y alteração” são os principais a serem considerados filosoficamente.

O “ensimismamiento” diz respeito à reflexão que todo ser humano faz dentro de si mesmo que é o ato de pensar, mas pensar para o ser humano não é uma coisa dada ou automática assim como o peixe está para nadar. O exercício do pensar é algo laboroso e nisto consiste o processo de humanização do próprio ser humano no sentido de aprender a pensar. A “alteração” é o estado de alerta que todos os animais possuem; o ser humano também observa o seu entorno e percebe a sua circunstância ao seu redor. Neste sentido, o bullying na escola é problema de todos, o combate é missão da sociedade em geral.

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PATROCÍNIO, T. (2008). Para uma genealogia da cidadania digital. Educação, Formação & Tecnologias . Acessível em: https://novaescola.org.br/conteudo/12617/o-que-e-essa-tal-de- cidadania-

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