Deambulações pelo Orientalismo e Discursos de Poder

(texto de Maria Raquel P. Roxo, escrito a 15 de Janeiro de 2024).

The Orient, thought of as the origin, dreamed of as the vertiginous point from which come nostalgic yearnings and promises of return, the Orient offered to the colonizing reason of the west, yet indefinitely inaccessible for it always remains the outer limit: Night of the beginning, in which the west takes form but in which it has inscribed a line of division, the Orient is for the west everything which the west is not, even though it must search there for its original truth.

(Michel Foucault)[1]

Não podem representar a si próprios; têm de ser representados.

(Karl Marx)[2]

Nota introdutória

Tendo como ponto de partida a obra “Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente”, publicada em 1978, de Edward W. Said, pretende-se efetuar algumas reflexões, ou deambulações, de certa forma exploratórias, sobre este conceito cunhado pelo autor palestiniano. O Orientalismo, visto como um discurso hegemónico e integrado no nexus entre discurso e poder, convoca várias ideias e conceitos, com as quais se irá tentar estabelecer um diálogo.

Enraizado no eurocentrismo, ideologia que assenta no postulado da origem europeia da Modernidade, iremos percorrer alguns dos trilhos que se abrem a partir do Orientalismo. Serão ainda explorados vários conceitos, como as “Geografias Imaginativas”, a ideia de “Roubo da História” de Jack Goody, evidenciando a dificuldade em reconhecer a existência de outras “modernidades”, de outros saberes e inovações, que surgiram em várias geografias, conhecimentos de que a Europa se soube apropriar e ainda a noção de “Lugar de fala” de Gayatri C. Spivak. Finalmente, não poderia concluir sem deixar algumas notas de comentário sobre a pertinência do pensamento de Edward Said, particularmente nos dias de hoje, depois de 100 dias da terrível guerra na Faixa de Gaza.

Edward Wadie Said nasceu em Jerusalém, Palestina, em 1935. Com o estabelecimento do Estado de Israel parte, ainda em criança, para o Egipto e mais tarde para o Líbano. Ainda jovem, vai estudar para os EUA, onde termina, em Harvard, o doutoramento. Foi professor de Literatura Comparada, na Universidade de Columbia. Traduziu vários discursos de Yasser Arafat para a imprensa ocidental. Chegou a ser membro do Conselho Nacional Palestiniano, em 1977, entidade que abandonou mais tarde. Manifestou-se abertamente contra os Acordos de Oslo, em 1993. Edward Said foi um dos maiores intelectuais da segunda metade do século XX, e uma referência na causa da resistência política e cultural da Palestina. Professor, crítico literário, humanista e ativista, as suas obras “Orientalismo – O oriente como invenção do Ocidente” (1978) e “Cultura e Imperialismo” (1993) foram decisivas na origem de um novo campo de estudos, os estudos pós coloniais[3].

Said foi muito influenciado pela leitura do “Cadernos de Cárcere” de Antonio Gramsci, mas também por Giambattista Vico e Michel Foucault[4]. A sua autobiografia, Out of Place (1999), reflete a ambivalência na forma como se sentia a viver “fora do lugar”, ou melhor, entre lugares, entre a cultura ocidental e a oriental. António Manuel Hespanha relembra que “toda a sua vida é feita de identidades efémeras. Tem sempre a sensação de que está fora do lugar, fora de qualquer lugar. Mas isso, que poderia desorientar, do ponto de vista psicológico, muitas pessoas com uma força moral e intelectual que não era a dele, a ele deu-lhe força”.[5] Edward Said morreu em 2003, em Nova Iorque. Nos dias de hoje, o seu pensamento, o Orientalismo e a sua causa – a causa palestiniana – são, arriscaria a afirmar, mais pertinentes do que nunca.

Como opção metodológica, optou-se por não aprofundar muito a análise da obra Orientalismo, nem analisar os vários textos e discursos literários que o autor examinou, pois afigura-se, pessoalmente, mais enriquecedor e interessante cruzar as propostas teóricas de Said com outras noções e conceitos, integrados no quadro de uma reflexão no campo dos estudos pós- coloniais.

ORIENTALISMO

Le charmeur de serpents, Jean-Léon Gérôme, 1879.

O Oriente era quase uma invenção europeia.

(Said)

Edward Said atribuiu um papel fundamental ao impacto cultural que o imperialismo europeu teve e tem nos dias de hoje. Em “Orientalismo” Edward Said argumenta como o mundo ocidental foi criando uma ideia distorcida do Oriente[6], visto como o “Outro”, numa tentativa de diferenciação que servia os interesses do colonialismo e imperialismo europeus. Said analisa uma diversidade de textos – romances, literatura de viagens, poesia ou textos políticos – produzidos sobre o Oriente e demonstra como foi criada uma ideia exótica, despótica e inferior deste território e do seu povo.

3 Formas de conceber o Orientalismo:

Said apresenta-nos 3 formas de abordar, ou de observar o Orientalismo; ou seja este conceito pode integrar várias dimensões, todas elas interdependentes. Em primeiro lugar, a que talvez reúne maior consenso é a ideia generalizada de um “orientalismo académico”, ou seja, um conjunto de textos, de estudos, de investigações que se debruçam sobre o Oriente; depois, numa outra concepção, o “orientalismo como um estilo de pensamento baseado na existência de uma distinção ontológica e epistemológica, entre o “Oriente” e (na maioria dos casos), o “Ocidente””(a geografia imaginativa, conceito que explorarei mais à frente); e por último, o orientalismo entendido como um discurso de poder, que no fundo nasce do intercâmbio e da sobreposição entre o “orientalismo académico” e o imaginativo, principalmente a partir do século XVIII (Said, 1990: 14 e 15).

Assim, e dando maior evidência a esta última ideia, para Said, o orientalismo consiste em “uma instituição organizada para negociar o Oriente – negociar com ele fazendo declarações a seu respeito, autorizando sobre ele, descrevendo-o, colonizando –o, governando-o : em resumo, o orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente”(Said, 1990: 15). Assim, podemos designar que o orientalismo é um corpo teórico-prático, ou um sistema de conhecimento, mas também uma forma de poder europeu – atlântico sobre o Oriente, que se tornou uma instituição. O orientalismo depende de uma “superioridade posicional flexível, que põe o ocidental em toda uma série de relações possíveis com o Oriente, sem que ele perca jamais a vantagem relativa.” (Said,1990: 19).

Antes de se avançar convém explicar que a obra de Said foi sujeita a várias críticas e continua a ser atacada por várias frentes. Um dos seus maiores críticos, Bernard Lewis, chega mesmo a referir-se ao Orientalismo como uma tese falsa que roça o “absurdo”, colocando em causa o conhecimento de Said sobre os Estudos do Oriente. Aijaz Ahmad, questiona a consistência da tese de Said, que oscila entre um conjunto de representações e deturpações.

No entanto, Said utiliza o termo “discursivo” para se referir à construção por parte do Ocidente de representações, através de discurso – seja este literário, artístico ou de âmbito escolar- que não é neutro, nem objetivo, mas sempre orientado para controlar o Oriente, que é visto, pelo discurso dominante como uma entidade estática e homogénea (Elmenfi, 2023: 69).

O Orientalismo tem, no entanto, o mérito de se manter resiliente, ao longo das últimas décadas, talvez pelo facto de não se dirigir ao leitor através de uma posição teórica abstrata, mas através de uma “experiência oriental”(Gupta: 8-9). Ou como Elmenfi bem aponta, na esteira de Ashcroft e Ahluwalia, Said pretendia “inverter a direção do “olhar” do discurso, para o analisar do ponto de vista de um “Oriente”.”[7] (Elmenfi, 2023: 64). O que parece ser mais consensual entre os críticos de Said, é que este iniciou uma nova abordagem de análise das práticas discursivas, no nexus entre poder e conhecimento, mais especificamente, na ligação entre literatura e imperialismo (Frank, 2009: 73).

EUROCENTRISMO /MODERNIDADE

Antes de mais, uma primeira reflexão que me parece óbvia é a de que o Orientalismo surge ou nasce associado ao Eurocentrismo. E neste caso importa antes de mais refletir sobre o que é Eurocentrismo. Marta Araújo e Silvia Rodríguez Maeso sugerem 3 formas de análise distintas de encarar o eurocentrismo: em primeiro lugar, a “Europa como lugar”, ou seja, o eurocentrismo como consequência dos vários tipos de desenvolvimentos, que ocorreram a partir da Europa (económicos, culturais, sociais e políticos), e que tornaram este território o principal poder no sistema mundo, criando a ideia de que a Europa tem legitimidade para falar sobre outros povos e culturas não europeias (etnocentrismo europeu); a segunda forma encara o eurocentrismo como uma teoria sócio-política e económica, que se baseia na ideia da hegemonia, da excecionalidade e centralidade europeia, que no fundo nunca existiu, e que assenta ainda na perpetuação de mitos históricos, e de criação de conhecimento; e ainda uma terceira forma de análise, que vê a “Europa como discurso político e histórico”, que assenta na relação entre poder e criação de conhecimento (Araújo; Maeso, 2016: 35 e 36). Esmiuçando estas 3 formas de encarar o eurocentrismo, podemos dizer que este pode ser visto como uma consequência da Modernidade, uma teoria e um discurso de poder, que continua a tentar legitimar-se nos dias de hoje.

Apesar da óbvia articulação e sobreposição das 3 abordagens, as autoras sublinham a necessidade de distinguirmos a primeira abordagem das demais, pois devemos questionar a primeira forma de encarar o eurocentrismo, que pressupõe a existência de uma Modernidade Europeia, sem considerar a possibilidade de outras “modernidades”. Não nos podemos esquecer que a ideia da Grécia, na Antiguidade clássica, como berço da civilização europeia é uma construção ideológica, e que cria também fronteiras que separam europeus, de não europeus. Esta ideia de Modernidade não reflete os desenvolvimentos e a diversidade cultural de outras zonas do mundo, e também não questiona os pressupostos e conceções que a sustentam (Araújo; Maeso, 2016: 36).

Além disso, a noção de Modernidade Europeia não permite uma verdadeira reflexão, crítica, sobre os efeitos do colonialismo. Neste contexto e seguindo este raciocínio parece ser pertinente relembrar as argutas palavras de Homi K. Bhabha, para quem “a história dos sonhos antigos da modernidade pode ser encontrada na obliteração do momento colonial e pós-colonial. Ao resistir a estas tentativas de normalizar o demorado momento colonial, podemos oferecer à era pós-moderna uma genealogia que seja ao menos tão importante como a história aporética do Sublime ou o pesadelo da racionalidade de Auschwitz”.(Carlos, 1998: 13).

No ensaio Traveling Theory, publicado em 1982, Edward Said, introduz a metáfora da viagem para melhor demonstrar como as teorias viajam, no tempo e no espaço; e analisa ainda a forma como estas são transferidas, integradas num processo que está sempre dependente das condições da sua aceitação (produção, recepção, transmissão), mas também de resistências (Frank, 2009:61). Neste contexto, torna-se interessante observar, que de acordo com Michael C. Frank, os conceitos viajam melhor que as teorias[8], e que a obra – Orientalismo – continua a ser uma fonte de onde provêm vários “conceitos viajantes”, entre eles, o conceito de “geografia imaginativa”, que constitui uma viragem de foco, desde os anos 80, relativamente ao conceito foucaultiano de “discurso” (Frank, 2009: 63). Aliás, o próprio autor, Edward Said reconhece, no post- scriptum à edição de 1995, “que o Orientalismo, de forma quase borgiana, se transformou em vários livros diferentes” (Said, 2004: 392).

GEOGRAFIAS IMAGINATIVAS

Para que se possa vislumbrar, com maior nitidez, os contornos do Orientalismo, parece ser pertinente explorar o conceito de “Geografia Imaginativa”- cunhado por Said, e analisado em pormenor por Al – Mahfehdi, no artigo intitulado “Edwards Said´s “Imaginative Geography” and Geopolitical Mapping: Knowledge/Power Constellation and Landscaping Palestine”.

Como vimos nas páginas iniciais deste texto, o orientalismo pode ser visto, como “um estilo de pensamento baseado na existência de uma distinção ontológica e epistemológica, entre o Oriente e (na maioria dos casos), o Ocidente”, ou seja uma “Geografia imaginativa”, na forma como reduz os lugares, os territórios, as geografias a espaços de desigualdade e diferença, não considerando as ligações de parceria e o carácter híbrido destes lugares. Aliás, como Lucas P. Arruda faz notar, é necessário criar a ontologia do oriental, ou do asiático, neste caso, referindo-se ao caso indiano, para que se possa construir, em oposição ao outro, uma ontologia britânica (Arruda,2019:268); mas que se afigura possível ser aplicável a outros contextos e a outras geografias no âmbito colonial.

As “Geografias Imaginativas”, representam, assim, formas de pensar, de encarar, de apreender os territórios, os lugares, criando sempre espaços de divisão, fronteiras, entre a “Nossa Terra” e a “Terra dos Outros”, ou dos “Bárbaros”(Al- Mahfedi, 2011:3); ou usando a expressão de Boaventura de Sousa Santos, reforçando a “linha abissal”[9], que nos separa a Nós Europeus dos Outros, do Sul Global.

Al – Mahfedi faz também notar que as “Geografias Imaginativas” não resultam apenas de um pensamento cognitivo ou racional, direcionado a um determinado território, pois são moldadas por um conjunto de imagens, expectativas, fantasias, preconceitos e valores de comparação, ou uma certa “Poética do espaço”, usando o conceito de Bachelard (Al- Mahfedi, 2011:9). Além disso, podemos observar como esses valores de comparação são também valores simbólicos; no fundo, representam um capital simbólico[10] que é utilizado de forma hegemónica.

Além disso, as “Geografias Imaginativas” podem ser também performativas, como advoga Derek Gregory, em Imaginative Geographies (1995), no sentido em que podem ser construtoras das imagens pensadas ou imaginadas, promovendo a legitimação dos processos de desumanização do Outro, de violência contra o Outro e contra a Terra dos Outros.

Edward Said fala-nos também da existência de uma história imaginativa: “Porque não restam dúvidas de que a geografia e a história imaginativas ajudam a mente a intensificar o próprio sentido de si mesma mediante a dramatização da distância e da diferença entre o que está próximo dela e do que se encontra longe” (Said, 2021: 93).

Analisando as várias direções que as “Geografias Imaginativas” podem seguir, Al – Mahfedi recorre à figura da espiral e da sua dinâmica, para explicar estes processos e padrões de alteridade (Al- Mahfedi, 2011:5, 6). Esta figura geométrica – a espiral – auxilia-nos a entender como as “Geografias Imaginativas” podem, por um lado, seguir um sentido centrípeto, encerrando-se sobre si mesmas, num modelo perpetuador de alteridade, dando destaque à distância, às diferenças e às fronteiras, num processo que legitima a desumanização do “Outro”. Por outro lado, se considerarmos a possibilidade de um sentido inverso, centrífugo podemos imaginar novas geografias, mais humanas, numa direção que, de forma mais ampla, poderá dar lugar a novas formas de pensamento, de criação de conhecimento e de reconhecimento da necessidade de integrar outras abordagens, visões, valores e cosmovisões. Neste caso, e como Said pretendia, a visão, perspetiva, o olhar do lado “Oriental”.

É importante esclarecer que as “Geografias Imaginativas” não são algo irreal, inventado ou ilusório. São imaginativas no sentido em que são apreendidas, compreendidas, ou seja evidenciam a forma como um território é pensado e imaginado, através de imagens, valores e práticas discursivas. Said também nos dizia que o poder ou a força colonial não está apenas em “soldados e canhões”, mas também em “imagens e imaginários” (Grimberg, Dorfman, 2016:272). No entanto, não podemos deixar de assinalar, que apesar desta análise em torno das “Geografias Imaginativas”, o objetivo de E. Said era a construção de uma Geografia mais humana (Al-Mahfedi, 2011:13,14). E parece ser claro que estas só podem ser construídas, na desconstrução das geografias imaginativas de carácter centrípeto.

Tal como o Orientalismo, a noção de Geografia Imaginativa, diz muito mais da forma de pensar europeia, do que dos territórios ou geografias que pretende analisar, estudar ou intervir, ou seja “a forma como imaginamos um continente, um país, uma região ou uma rua influencia no modo como decidimos agir sobre esses espaços”(Grimberg, Dorfman, 2016: 272). Para Daniela Grimberg e Adriana Dorfman “entidades geográficas como Oriente e Ocidente (…) foram historicamente construídas como contrastantes e opostas, com o Ocidente apresentando –se como racional, histórico, moderno, democrático e masculino, e o Oriente aparecendo como irracional, eterno, atrasado, fundamentalista e feminino”(Grimberg & Dorfman, 2016: 272), ideia que nos parece próxima da ideia de “Choque de civilizações” proposta por Samuel P. Huntington[11], que defende que no período da Pós-Guerra Fria os principais motivos de conflito não seriam políticos, económicos ou ideológicos, mas eminentemente culturais.

No entanto, esta teoria defendida por Huntington é criticada por E. Said, num pequeno ensaio designado de “O Choque das Ignorâncias”[12], onde o palestiniano argumenta que esta ideia de choque de civilizações é uma “frase feita”, uma ideologia que olha para as civilizações e para as identidades como dimensões herméticas, e que não contempla que são realidades que foram permeáveis a trocas, partilhas e cruzamentos de saberes, ou nas palavras de Said “uma miríade de correntes e contra -correntes que animam a história humana” (Said, 2002: 28). Esta ideologia – choque de civilizações– serviu mais o propósito de reforçar a separação entre os povos, do que para fornecer uma construção crítica, que abrisse novos caminhos, e que considerasse as influências, intercâmbios e as aprendizagens dos saberes e dos conhecimentos de outras culturas.

Said menciona o rigor da obra do autor indiano K. M. Pannikar, Asia and the Western Dominance – A Survey of the Vasco da Gama Epoch on Asian History 1498 – 1945 (publicado 1953). Pannikar demonstra como a relação entre a Ásia e o Mundo Ocidental se tem caracterizado pela dominação, em diferentes graus de complexidade e relembra que “na Era da dominação política da Europa sobre a Ásia (de 1860 a 1948) foi geralmente esquecido por parte dos escritores europeus, que a Ásia não só levou de empréstimo, mas contribuiu em grande parte para o crescimento das civilizações ocidentais” (Panikkar, 1953: 461).

Vemos, assim, como o Ocidente, optou por esquecer, ou omitir os contributos provenientes da Ásia para construção do mundo Ocidental. O historiador britânico Hugh Trevor-Roper, chega mesmo a afirmar, em A Formação da Europa Cristão (1965), que nos últimos 500 anos, apenas a história europeia teria importância, desprezando o papel dos outros continentes na construção da história do Mundo (Barbosa, 2017:1). Neste contexto, em que a Europa se considera a legítima herdeira de todos os avanços e desenvolvimentos (que no fundo corresponde à premissa inicial do Eurocentrismo), parece ser pertinente convocar a obra “O Roubo da História”, de Jack Goody.

O ROUBO DA HISTÓRIA

Market in Gaza”, ca 1900, Johann Viktor Krämer

Jack Goody fala-nos das várias apropriações, por parte do Mundo Ocidental, de saberes, conhecimentos e valores existentes em outras geografias; e destaca o facto da Europa ter encoberto a História do Mundo, onde impõe uma perspetiva e uma periodização histórica ocidentais. Para além do “roubo” de algumas noções como o Tempo e o Espaço, e de invenções, como por exemplo a bússola, menciona também algumas instituições – as cidades e universidades – e de alguns valores que foram apropriados pela Europa, tais como o humanismo, o individualismo ou democracia, valores que tinham também paralelos no Oriente. E até as formas como nos habituamos a ver e a representar o mundo, através da cartografia, colocam sempre a Europa no Centro, mas nem sempre foi assim. A Europa impôs, para além do domínio político e económico, também o domínio de uma narrativa histórica[13].

No entanto, já antes de Goody, outros autores defendiam que o desenvolvimento ocidental e europeu, seria também uma consequência dos avanços, concretizações e inovações realizadas pelo Oriente, tal como advoga John M. Hobson, em The Eastern Origins of Western Civilisation (2004), ou ainda alguns anos antes, Andre Gunder Frank, numa visão, considerada por alguns, radical e asiocêntrica – em ReOrient: Global Economy in the Asian Age, publicada nos anos 90 – que advoga que até ao final do século XVII a Ásia estaria mais desenvolvida do que a Europa (Barbosa, 2017:1-2).

Neste contexto, Boaventura de Sousa Santos refere que “Na longa duração histórica a direção das relações entre ocidente o oriente é menos de sentido único do que de pêndulo: durante séculos dominou o oriente, desde há dois séculos domina o ocidente”; e ainda relembrando Hegel: “A história mundial viaja de oriente para ocidente; por isso a Europa é o fim absoluto da História, tal como a Ásia é o começo” (Santos, 2022: 31). Santos relembra ainda o contributo de 2 autores em particular – Edward Said e Jack Goody – no campo de uma necessária contestação a esta visão dominante da excecionalidade europeia: “Enquanto Edward Said faz uma análise culturalista, Goody centra-se nos processos produtivos e nas trocas comerciais”. Goody demonstra como a perspetiva hegeliana relativamente à história tem sido a dominante, e tenta combater a visão estereotipada que o Ocidente tem do Oriente, explorando e dando a conhecer os imensos contributos do Oriente para construção do Mundo e da História Mundial (Santos, 2022: 31).

Como exemplo desta obliteração dos contributos, que me parece ser interessante de aqui enunciar, é o relativo à Carta Universal dos Direitos Humanos. Balakrishnan Rajagopal denuncia que esta carta universal apresenta um “defeito de nascença”, pois surge como universal, mas sem qualquer pedido de contributo às geografias não ocidentais[14]. Além disso, a existência de um conjunto de valores europeus ou ocidentais associados aos direitos humanos, é um pressuposto que desconsidera a existência de valores idênticos noutras zonas do Mundo. Neste contexto, relembro o que Felwine Sarr advoga: a necessidade de África “reabilitar o seus valores de jom (dignidade), de viver em conjunto, de téraanga (hospitalidade), de kersa (pudor, escrúpulos), de ngor, (sentido de honra), exumando e revivificando o humanismo profundo das suas culturas” (Sarr, 2022: 145).

A Carta ou Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada, em 1948, como sendo “universal”, no entanto, não considerou a existência de valores das culturas não ocidentais, como os que acabei de referir. Muitas vezes estamos tão enraizados a determinadas convenções, que advêm de uma perspectiva eurocêntrica e ocidental que nem nos damos conta da amplitude de tais convenções, no nosso dia-a-dia.

CONHECIMENTO PURO / POLÍTICO

Said distingue conhecimento puro de conhecimento político. Esta distinção, ou melhor a argumentação de Said, de que não existe conhecimento puro, apolítico, pois todo o conhecimento está sujeito à questão das subjectividades e traços de formação da pessoa que cria ou constrói esse conhecimento (Said, 2004: 10), relembra os mitos da criação de conhecimento de que nos fala Grada Kilomba, no fresco ensaio “As memórias da plantação. Episódios de racismo no quotidiano”: o mito da objectividade, da universalidade e da neutralidade (Kilomba, 2019: 49-56), ou seja, os mitos criados pela epistemologia ocidental.

A forma de criação de conhecimento baseada na epistemologia cartesiana conduz-nos a uma teia muito intricada de dicotomias e de estruturações de ideias que nos tornam prisioneiros sempre das mesmas fronteiras à liberdade de pensamento: Corpo e Mente; Racional e Irracional; Homem e Natureza; Nós e os Outros; Civilizados e Bárbaros. Apesar de alguns avanços e recuos na forma como encaramos parte do mundo, que não é o nosso, continuamos a tropeçar nas dificuldades que temos em nos darmos conta que muito pouco ainda conhecemos sobre as outras culturas, outras formas de pensar e de criar conhecimento, em suma, outras cosmovisões e epistemologias.

HIBRIDISMO

Tanto para Said, como para outros teóricos dos estudos pós- coloniais, como Homi Bhabha, o conceito de hibridez (ou hibridismo) é fundamental como arma contra o colonialismo. Na sua origem, a palavra hybrida (em latim) foi usada para referir o que resulta do cruzamento entre animais (ou plantas) que têm naturezas diferentes. Tem vindo a ser usada para designar o que resulta da mistura de seres com naturezas diferentes, mestiçagem, produto do cruzamento de culturas, etc.

Said defende a utilização de um método de “vai e volta”, humanista, que designa de “leitura em contraponto”, evitando os essencialismos; ou seja, reconhecendo o carácter híbrido das histórias entrelaçadas e sobrepostas existentes no Mundo, de Norte a Sul e de Oeste a Leste.

“Abraçar um hibridismo, defender a coexistência, rejeitar totalizações e reducionismos, tudo isso faz parte da tentativa de Said de estabelecer um lugar crítico ao imperialismo cultural” (Caixeta, 2015: 71, 65).

De acordo com Pedro Andrade “As literacias híbridas constituem uma condição necessária para a desconstrução do discurso colonial e a posterior reconstrução das literacias e literaturas pós-coloniais”. No entanto, não podemos entender a literacia pós-colonial apenas como o acrescento de literacias provenientes de zonas não ocidentais às literacias ocidentais. “Em vez disso, as literacias híbridas, geralmente operam através de tipos complexos e múltiplos de competências e performances, ativados por agentes sócio-culturais identitariamente diferentes, envolvendo a leitura, a escrita não apenas no interior das suas próprias culturas, mas também e principalmente no seio de estruturas estrangeiras”. E “de facto, as literacias híbridas muitas vezes trabalham para desenvolver multivocalidades de alteridade” (Andrade, 2016: 525).

Podemos, nos dias de hoje, observar a existência de uma crescente interculturalidade, que é também visível em discursos científicos, historiográficos, sociológicos, políticos ou artísticos. Vivemos em sociedades cada vez mais híbridas e interculturais. Ter consciência da presença deste hibridismo ajuda-nos a questionar as formas dicotómicas de observar e compreender as culturas.

AUTORIDADE /ALTERIDADE/ SUBALTERNIDADE

Chegados a este ponto, importa compreender um pouco mais sobre a relação entre a autoridade, alteridade e subalternidade. Said aponta dois dispositivos metodológicos, no que diz respeito à criação de Autoridade: a localização estratégica (ou seja, a posição do autor e a sua subjetividade) e a formação estratégica, ou por outras palavras, a forma como os textos vão adquirindo densidade e se vão legitimando e ganhando destaque, assumindo poder na cultura em geral. A localização estratégica “inclui o tipo de voz narrativa que ele adopta, o tipo de estrutura que constrói, os tipos de imagens, temas, motivos que circulam no seu texto – tudo isso resumindo-se a modos deliberados de dirigir-se ao leitor, de dominar o Oriente e, finalmente, de representá-lo e de falar no seu lugar” (Said, 1990: 32).

Podemos aqui refletir sobre se a expressão “localização estratégica” de Said não será próxima da ideia de “lugar de fala”, ou de “poder tomar a palavra”, na expressão usada pela indiana Gayatri Chakravorty Spivak, uma das primeiras mulheres precursoras dos estudos pós coloniais. No seu ensaio “Pode a subalterna tomar a palavra?”, Spivak apresenta uma feroz crítica ao mundo ocidental, na medida em que problematiza sobre quem tem o poder, ou a autoridade de ter a palavra, quem pode falar em nome de quem, quem pode representar quem; ou seja, quem é o Sujeito, com poder de fala, e quem é o Objeto, de quem o sujeito fala.

O ensaio de Spivak é um trabalho particularmente interessante pela denúncia da colonização intelectual do mundo globalizado. Vemos como Spivak denuncia as questões de poder associadas ao Sujeito, através de uma análise crítica ao diálogo entre Michel Foucault e Gilles Deleuze, sobre “intelectuais e poder”, mas também integrando uma história, que pode parecer meramente ilustrativa, mas não é, história essa, que vai emergindo ao longo da obra, sobre o suicídio de uma jovem ativista, da classe média de Calcutá, em 1926, contra o poder colonial britânico. E Spivak explica-nos a sua escolha: “Escolhi este diálogo amigável entre dois filósofos da História, ativistas, porque ele desconstrói a oposição entre a produção teórica autorizada e a prática sem resguardos da conversação, permitindo vislumbrar os traços da ideologia” (Spivak, 2021: 20).

Michel Foucault é um dos intelectuais que melhor analisa as relações entre discurso e poder, mas, de acordo com Spivak, não reconhece os meandros e a complexidade da subalternidade. Ao assumir que os subalternizados não se conseguem representar a si próprios, o intelectual, ao tentar falar por eles, sobre eles, está a construir o seu objeto de conhecimento – o subalterno – e ao mesmo tempo, a reforçar a sua (do inteletual) Autoridade de Sujeito. Nas palavras de Spivak: “Os participantes nesta conversa põem em realce os contributos mais importantes da teoria pós-estruturalista francesa: (…) que os intelectuais têm de tentar descobrir e conhecer o discurso do outro da sociedade. Contudo, ambos ignoram, sistemática e surpreendentemente, a questão da ideologia e o seu próprio envolvimento na história intelectual e económica.” (Spivak, 2021: 20).

Em Spivak, a condição de subalterno(a) não é uma condição de classe, no sentido marxista do termo, mas uma condição relacional, que depende dos discursos de poder (Spivak, 2021:8); e destaca a complexidade e multiplicidade das identidades subalternas, rejeitando generalizações simplistas. Como bem sintetiza António Sousa Ribeiro, que prefacia a edição portuguesa, “construir a subalterna como objeto de conhecimento significa, deste ponto de vista, fazer parte das estruturas de poder que a silenciam.” (Spivak, 2021:11).

Lucas da Costa Maciel aprofunda ainda mais esta problemática: “O problema para Spivak estaria na forma em que a Europa se consolida como sujeito soberano da narrativa histórica, produzindo as colónias como outros. Mais do que uma crítica do imperialismo, uma narrativa histórica alternativa requereria, para a autora, um esquadrinhamento do itinerário da consolidação da Europa como o sujeito soberano da história. Neste sentido, seria necessário abandonar a premissa historiográfica, pretensamente universal, de que os arquivos seriam repositórios de factos. Para Spivak, os arquivos são repositórios de factos produzidos pela verdade colonial, isto é, traços de um modo de produção da realidade que se assenta na Europa como sujeito. Inexistiria, assim, um texto que pudesse responder sobre a alteridade que é representada pela violência epistémica do projeto imperialista.” (Maciel, 2021:7).

Notas Finais
A pertinência do Orientalismo nos dias de hoje

Anonymous Venetian orientalist painting: The Reception of the Ambassadors in Damascus, 1511, at the Louvre (Public domain)

Nesta reflexão final retorno à epígrafe de abertura do Orientalismo de Said, que é também uma das que abre este breve texto, a expressão de Karl Marx: “Não podem representar a si próprios; têm de ser representados”. No entanto, em vez de assumir a frase como uma afirmação peremptória, preferiria colocar um ponto de interrogação no final, da seguinte forma: “Não se podem representar a si mesmos?” Este tem sido sempre um dos grandes dilemas da História: quem é representado e por quem? Quem pode falar em nome de quem? Spivak problematiza a questão da representação e questiona a legitimidade do intelectual que se identifica com a causa do subalterno, ao falar em seu nome. No conforto do seu lugar, terá o intelectual legitimidade para falar pelo outro, pelo subalterno? O grande desafio é o de criar um novo posicionamento do intelectual, ou seja uma nova “localização estratégica”, usando a expressão de Said, que permita criar um espaço de fala para os subalternizados, de forma que eles possam também “tomar a palavra” e se representarem a partir dos seus próprios modelos sócio culturais e linguísticos.

Como Achille Mbembe[15] fez notar, Said inicia com a obra Orientalismo um novo campo de estudos, obra que “desconstrói a prosa colonial: isto é a configuração mental, as formas e representações simbólicas que sustentam o projeto imperial”. Além disso, Mbembe também denuncia que a colonização esteve sempre a dizer falsidades e mentiras a seu respeito, e a respeito dos outros, só assim se conseguiu manter em funcionamento (Mbembe, 2008: 2).

E de acordo com Eva Von Kemnitz, o Orientalismo “denuncia vivamente o subtil e persistente conceito eurocêntrico dirigido contra os povos árabes e muçulmanos e contra a sua cultura que, implicitamente, serviu de justificação para as ambições coloniais e imperialistas da Europa e dos Estados Unidos”.[16]

As últimas reflexões não poderiam deixar de ser sobre a mais importante, a mais “cara” “Geografia Imaginativa” para Edward Said: a Palestina. Todos sabemos como a destruição, a violência, a morte e a barbárie assumem nos últimos 3 meses um dos momentos mais extremos das últimas décadas, legitimados por um discurso performativo de “luta contra o terrorismo”. Na sequência do ataque do Hamas, no dia 7 de outubro de 2023, o regime israelita já matou mais de 24 mil palestinianos, entre eles, cerca de 10 mil crianças. O discurso das falsidades e mentiras a respeito do povo palestiniano prevalece. O Ministro da Defesa Israelita, Yoav Gallant pronunciou-se nos seguintes termos: “We are fighting human animals and we are acting accordingly[17] (Nós estamos a lutar contra animais humanos e agimos em conformidade), num tipo de narrativa que pretende legitimar a barbárie, como se os palestinianos fossem sub-humanos, e comunica a decisão de negar ao povo de Gaza o acesso a comida, a combustível e eletricidade, numa violência totalmente desproporcional ao ataque infligido pelo Hamas.

Em finais de dezembro de 2023, África do Sul submeteu no ICJ – Tribunal Internacional de Justiça- em Haia, um processo-crime de acusação de genocídio contra Israel, pelo brutal ataque militar na Faixa de Gaza. A acusação consolida-se ao abrigo da “Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, adoptado pela Assembleia Geral da Nações Unidas a 9 de dezembro de 1948”[18]. Africa do Sul alega que Israel “tem cometido e está a cometer genocídio” contra os palestinianos na Faixa de Gaza. Esta acusação refere-se à conduta de Israel contra o povo palestiniano, num contexto histórico mais amplo, referindo-se a 75 anos de apartheid, 56 anos de ocupação bélica e 16 anos de bloqueio na Faixa de Gaza.[19] Dos vários países que apoiam esta acusação de genocídio, nenhum pertence ao Mundo Ocidental.[20]

A violência na Palestina tem uma longa história e parece ser evidente a terrível durabilidade e impacto do Orientalismo, nas instituições políticas, sociais, económicas e culturais nos dias de hoje. A “Geografia Imaginativa” da Palestina, posta em prática pelo regime bélico israelita é o culminar de um Orientalismo, na sua pior, mais acutilante e terrível versão, que extravasa a dimensão do pensamento, representação e discurso. Neste caso é a construção performativa de uma Geografia, na sua mais extrema forma, a criação de uma “Terra de Ninguém”, sem povo; uma geografia imaginativa que se vai encerrando cada vez mais no centro da espiral (usando a figura de Al – Mahfedi), negando a humanidade ao povo palestiniano, tornando-o animal, ou pior que animal, para o poder aniquilar. Já não se trata apenas do pensamento tornado discurso, entre “Nós” e os “Bárbaros”. É a construção de uma “Terra de Mortos”.

Por último, gostaria de lembrar as palavras de Edward Said, no prefácio que redigiu em 2003 (ano da sua morte) ao Orientalismo:

Todos os impérios sem exceção, afirmam no discurso oficial, que são muito diferentes dos outros, que as circunstâncias em que vivem são especiais, que têm a missão de esclarecer, civilizar, implantar a ordem e a democracia, e que apenas usam a força como último recurso. Mais triste, ainda, há invariavelmente um coro de intelectuais voluntários que fala paliativamente de impérios benignos e altruístas, como se não devêssemos confiar na evidência diante dos nossos próprios olhos que observam a destruição, a desolação e a morte impostas pela mais recente mission civilizatrice.

(Said, 2004: xvi)

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Edward Saïd: Vida, Pensamento e Obra | MPPM

20 anos da Morte de Edward Said:

Nos 20 anos da morte de Edward Saïd | MPPM

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South Africa’s genocide case against Israel is imperfect but persuasive. It may win | Kenneth Roth | The Guardian

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https://www.middleeasteye.net/news/israel-palestine-war-fighting-human-animals-defence-minister

The New Arabe. Notícia sobre a posição de vários países relativamente à acusação de genocídio:

Where do countries stand on South Africa’s genocide case?

  1. Michel Foucault, citação traduzida para língua inglesa por Derek Gregory (1995). “Imaginative Geographies”. Progress in Human Geography 19.4. p. 457.

  2. Karl Marx, O dezoito de Brumário de Louis Bonaparte. Citação que consta nas páginas de abertura de Orientalismo, de E. Said, edição portuguesa de 2004. Na versão brasileira, editada em 1990, a nota de epígrafe surge de forma ligeiramente diferente: “Não podem representar a si mesmos, devem ser representados”

  3. Devem ser ainda destacadas as seguintes obras: The Question of Palestine (1979), Covering Islam: How the Media and the Experts Determine How We See the Rest of the World (1981), Blaming the Victims: Spurious Scholarship and the Palestinian Question (1988), e Peace and Its Discontents: Essays on Palestine in the Middle East Peace Process (1995). Para mais informações: https://www.mppm-palestina.org/content/nos-20-anos-da-morte-de-edward-said

  4. Gupta, p. 3 e 4.

  5. No colóquio “Vida, Pensamento e Obra de Edward Said”, realizado em 2009, pela Direcção Nacional do MPPM – Movimento pelos direitos do povo palestiniano e pela Paz no Médio Oriente, no anfiteatro do ISCTE-IUL, em Lisboa. Disponível em: https://www.mppm-palestina.org/content/edward-said-vida-pensamento-e-obra

  6. Oriente e Ocidente são expressões latinas (Oriens e Occidents) que designam, respetivamente, o Leste e o Oeste. No entanto, podem significar territórios distintos para pessoas diferentes, de acordo com o seu lugar em que se posicionam. (Gupta, 4)

  7. Tradução nossa.

  8. Por terem maior flexibilidade, no sentido em que um conceito pode ser isolado do seu campo teórico inicial e depois ser integrado num outro contexto teórico; ou seja, os conceitos são mais facilmente interdisciplinares, pois cada conceito pode ser utilizado para consolidar várias teorias (Frank, 2009: 62).

  9. “linha abissal” deriva do conceito de “pensamento abissal”, cunhado por Boaventura de Sousa Santos. Este pensamento associado à epistemologia cartesiana, enfatiza a existência de uma profunda, abissal, separação hierárquica, e excludente dos do lado de lá da linha abissal: O Sul Global. É ainda um pensamento que produz várias lacunas, omissões e fragmentos no processo de conhecimento. Para mais informações ver: Santos, B, S. (2007), “Para além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes” In Novos Estudos –CEBRAP n. 79 Nov. São Paulo.

  10. usando a expressão de Pierre Bourdieu.

  11. Huntington, S.P (1999). O Choque de Civilizações e a mudança na ordem Mundial. Gradiva

  12. Publicado na Revista História, n.º 41, em janeiro de 2002 .

  13. Goody, J. (2008). O Roubo da História. Como os ocidentais se apropriaram das ideias e invenções do Oriente. Editora Contexto. São Paulo.

  14. Santos, B. S.; Martins, B. S (2019). O pluriverso dos direitos humanos: A diversidade das lutas pela igualdade, Centro de Estudos Sociais. Universidade de Coimbra. Edições 70. p. 18.

  15. Mbembe, A. (2008). Entrevista “What is postcolonial thinking?”. Esprit. Eurozine. (tradução nossa)

  16. Frase de Eva Von Kemnitz, no colóquio “Vida, Pensamento e Obra de Edward Said”, realizado em 2009, pela Direcção Nacional do MPPM – Movimento pelos direitos do povo palestiniano e pela Paz no Médio Oriente, no anfiteatro do ISCTE-IUL, em Lisboa.

  17. https://www.middleeasteye.net/news/israel-palestine-war-fighting-human-animals-defence-minister

  18. “In the present Convention, genocide means any of the following acts committed with intent to destroy, in whole or in part, a national, ethnical, racial or religious group, as such : (a) Killing members of the group; (b) Causing serious bodily or mental harm to members of the group; (c) Deliberately inflicting on the group conditions of life calculated to bring about its physical destruction in whole or in part; (d) Imposing measures intended to prevent births within the group; (e) Forcibly transferring children of the group to another group” https://treaties.un.org/doc/publication/unts/volume%2078/volume-78-i-1021-english.pdf

  19. https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/jan/13/south-africa-israel-genocide-the-hague

  20. https://www.newarab.com/news/where-do-countries-stand-south-africas-genocide-case