Não dedicamos muitas publicações especializadas a politiquices comuns mas esta é excepção: eis um vídeo de propaganda, com fundos públicos, racista, divisivo, distante da realidade comum de pessoas de todas as raças, de incitamento ao ódio e desconfiança.
Preceitos de teoria “antirracista“, que mais não é do que um discurso extremista baseado em desigualdade cívica com intuito de sorver financiamento e beneficiar alguns “mercadores de escravos” modernos, são apresentados nesse vídeo como se fossem perfeitas banalidades: o “mérito” é uma fantasia; tocar no cabelo de alguém é “racista”; não é “normal” ser branco na europa; uma turbante ou quiçá uma burka não são “exóticos”. No meio do elenco de coisas inócuas descobre-se que tudo configura “discriminação“ e que, afinal, devemos “olhar a cores”.
Não está em causa a liberdade de entidades singulares ou colectivas divulgarem tais conteúdos, e talvez nem sequer esteja em causa a poderem aceder a certos fundos públicos para o fazerem. Mas é fundamental discutir a banalização do abjecto que estes conteúdos representam. A propaganda aqui exposta é de um evidente extremismo distante da realidade comum das pessoas normais que interagem pacificamente umas com as outras e não estão a “olhar a cores“ mais do que aquilo que é natural fazer-se. Isto é obra de extremistas que não vivem no mundo real: e tem ainda um aspecto particular que acresce ao nojo, que é o uso de crianças. Uma coisa, aliás já de si discutível, é meter crianças a fazerem campanhas anti tabagicas ou contra a sinistralidade rodoviária; agora isto? Algo que nem sequer se alicerça em enunciados consensuais, como “não trates mal o próximo só porque é de uma cor diferente“, mas que envolve exercícios completamente abstratos, ideológicos, advindos de quadros teóricos agressivos, divisíveis e totalitários, para passarem como banalidades auto-justificadas?
Rejeitamos em absoluto esta banalização do discurso extremista, da psicose do racismo, da dissolução de instâncias verdadeiras de discriminação naquele que é o comportamento humano natural em qualquer cultura, que é de encontrar diferenças e agir conforme isso de várias maneiras, de preferência maneiras que não ofendam nem o próprio nem o próximo, preceito alicerçado na “regra de ouro“ do “não faças aos outros…“ que serve de base à cultura ocidental e as democracias liberais que permitem tudo isto, os discursos acertados e os de ódio como o desse vídeo.
Pode ser feito o argumento de que os enunciados dispostos no vídeo não configuram racismo em sentido estrito, e que representam simplesmente um ponto de vista de intuito correcional nas relações entre raças que podem eventualmente envolver situações abusivas. Mesmo assim, a mensagem é transmitida de uma forma panfletária e moralizante, e até mesmo para crianças é tosco. O “wokismo”, é bom lembrar, é um assunto tão complexo — não necessariamente das maneiras que os advogados do mesmo entendem — e tão dúbio que o provável é que deva ser circunscrito ao universo dos adultos, e não transportado para as interacções entre crianças onde muitos dos preceitos que o suportam não estão presentes.
Apelamos também assim a que os interessados nos “extremismos” e nos “populismos” no discurso público, quer na coloquialidade quer na política, ou mesmo até na academia, tenham de modo coerente e honesto também interesse não apenas na ascensão das forças nacionalistas, isolacionistas, ou até mesmo etnocentralistas, que posicionamos, em geral, na extrema-direita do eixo político comum, mas também prestem atenção a discursos de ódio como este que, em certos aspectos, fazem os Black Panthers, movimento proto-militar de independência e emancipação dos negros nos EUA, parecerem uns moderados.