Trouxemos mais oito novidades editoriais do mundo da filosofia, sempre com a ajuda da fantástica publicação Notre Dame Philosophical Reviews. Primeiro, Ignorance: A Philosophical Study, de Rik Peelsum, um pequeno tratado sobre uma área neglicenciada da epistemologia analítica, a ignorância, enquadrada no campo designado por agnosticologia. Depois, da famosa filósofa feminista e queer Judith Butler, What World Is This? A Pandemic Phenomenology, sobre questões éticas e políticas relacionadas com esse contexto na contemporaneidade inédito. Ainda, de Ned Block, The Border Between Seeing and Thinking, sobre a ligação da filosofia à realidade. De seguida, Proust’s In Search of Lost Time: Philosophical Perspectives, editado por Katherine Elkins, um volume com ensaios de perspectiva filosófica sobre a magna obra de Proust.
Depois, de Craig DeLancey, Consciousness as Complex Event: Towards a New Physicalism, uma re-abordagem de matriz fisicalista ao problema da mente, indicando que se trata apenas de fenómenos mentais muito complexos e na beira do ininteligível. Seguindo-se René van Woudenberg, The Epistemology of Reading and Interpretation, que trata não especificamente do que acontece quando lemos literatura ou filosofia mas sim do que acontece mentalmente quando deciframos uma linguagem visual de signos, ou seja, o bruto acto de ler. Ainda, de Michele Moody-Adams, Making Space for Justice: Social Movements, Collective Imagination, and Political Hope, que tece um argumento sobre como os movimentos sociais contemporâneos são uma prática de inquérito cívico e social necessária. Por último, Mark Wilson, Imitation of Rigor: An Alternative History of Analytic Philosophy, uma abordagem alternativa ao mundo da filosofia analítica e seus postulados, que põe em causa a noção de que o mais importante nas descrições dessa escola, e das ciências exactas ou semi-exactas, seja propriamente o seu conteúdo axiomático.
Ainda na literatura destacámos também o género diarístico, com pouca produção — os escritores e artistas em geral tendem a pensar que são os seus escritos não pessoais, formalizados em géneros consagrados, aqueles destinadas a serem as obras mais importantes, e não propriamente os pensamentos que rabiscam num caderno sem outro critério que não a progressão do tempo — mas com muita popularidade, pensando em particular em quatro autores de importância e reconhecimento inegáveis: Andy Warhol, Anaïs Nin, Sylvia Plath e Frank Kafka. Poderiam também ser mencionadas Virginia Woolf e a famosa adolescente judaica Anne Frank, o que nos lembra como talvez o pouco espaço literário na esfera pública dado às mulheres ao longo da história as empurrou frequentemente para o vazar dessa arte na forma diarística, embora talvez possa existir uma série de factores do carácter especificamente feminino que o favorecem. De qualquer forma, em Warhol temos um aglomerado de vaidades socializantes da Nova Iorque dos anos setenta e oitenta, que até certo ponto entra no registo serializado e bizantino da repetição do conceito “encontrei o Michael Jackson, he looks great, encontrei a Elizabeth Taylor, she looks great”, etc.; em Anaïs Nin um relato da escritora burguesa do início do passado século, aquela que enveredou pelo relativismo do deboche físico e do experimentalismo emocional: muita poesia erótica ou a tentativa disso, muito sexo, etc; em Plath, descrições das suas dificuldades psicológicas na ligação com o seu próprio corpo, a família, a vida; e em Kafka, uma mistura de pequenas observações, algumas crípticas, sonhos, obsessões com o real quotidiano, numa tonalidade negra e pessimista própria do autor.