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A conferência Make Europe Great Again realizada em Bruxelas nasceu de uma preocupação conjunta do grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus e do Partido Romeno AUR, que acolhera a primeira edição do MEGA em Bucareste.
A organização do evento contou com vários oradores desde líderes políticos, ex-deputados, directores de think-thanks, embaixadores assim como reputadas personalidades do movimento conservador europeu.
Portugal encontrou-se representado ao mais alto nível através do embaixador e eurodeputado do Partido Chega António Tânger Correira que manifestou preocupações com a deriva woke da União Europeia, a necessidade de suspender o Green New Deal e a revogação do Pacto das Migrações. A delegação portuguesa contou ainda com a presença de Miguel Nunes Silva, director do Instituto Trezeno e Mestre em Estudos Europeus pelo Colégio da Europa em Bruges que por ter feito parte do seu percurso formativo na Bélgica acompanhou de perto a reconfiguração da política europeia e o desmantelamento dos Estados-Nação assim como a progressiva subjugação dos países mais pequenos aos ditames de Bruxelas.
A revitalização da Europa erigida por Schumann e Monnet- seus pais fundadores – através da recuperação dos seus ideais – promoção da paz e solidariedade entre as nações, defesa da democracia, assim como a valorização do estado de Direito tornou-se uma constante ao longo dos vários discursos proferidos
As análises efectuadas nesta conferência procuraram projectar o futuro, identificar as falhas e reconstruir uma Europa menos burocrática, mais autossuficiente e politicamente mais democrática.
A imigração em massa e a ausência de uma política de controlo de fronteiras, assim como a promoção da “religião do multiculturalismo” têm sido factores de instabilidade, num continente bastante envelhecido e em que os sistemas de segurança social entraram em colapso.
A eurodeputada Marion Maréchal-Le Pen, Vice-Presidente do ECR, destacou entre as várias ameaças (empobrecimento e declínio geopolítico) uma grave crise demográfica que em última análise coloca em risco a própria sobrevivência do povo europeu.
A estagnação da Europa em termos de natalidade também se observa pelos próprios números adiantados pela própria eurodeputada. Enquanto se prevê que a Europa mantenha sensivelmente a mesma população entre 2025 e 2050 – 450 milhões de europeus, prevê-se que no mesmo período temporal África e Ásia aumentem a sua população em cerca de mil milhões habitantes.
Marion recorreu a factos preocupantes sobre o fenómeno migratório. Em 2022 foi a primeira vez que entraram mais imigrantes em solo europeu do que aqueles que nasceram e em França há 30% de nascimentos de origem extra-europeia. A imigração em massa de países que apresentam altas taxas de natalidade, o crescente individualismo e o feminismo – responsável pela desregulação da maternidade são sinais dos tempos numa Europa em acentuado declínio.
Em segundo lugar aponta-se como problemática a falta de democraticidade da União Europeia, particularmente no que diz respeito às decisões tomadas na Comissão Europeia por políticos não eleitos que não demonstram qualquer tipo de preocupação sobre a vontade soberana dos povos de cada estado-membro da União.
Decisões polémicas e arbitrárias têm prevalecido sem qualquer consulta popular, mantendo sob cativeiro o povo europeu. Neste sentido não é difícil encontrar exemplos da “tirania totalitária progressista” seja na forma tardia e negligente com que abordaram a pandemia Covid-19, restringindo de forma severa direitos, liberdades e garantias dos cidadãos – implementação do passaporte sanitário, vacinação obrigatória e restrições de circulação no espaço Schengen.
O deputado romeno Mihail Neamțu contrastou Soljenístsin com a família Soros. Soljenítsin ainda que dissidente, criticava o Ocidente pela sua fraqueza espiritual e de integridade de valores; a prazo acabando por ter razão e as consequências da debilidade moral hoje repercutindo-se a todos os níveis. Os Soros também são oriundos da Europa de Leste mas dedicaram-se a incentivar e financiar o caos moral e geopolítico no Leste. Soljenítsin procurava fortalecer as estruturas tradicionais da sociedade enquanto que os Soros procuram uniformizar os povos e destruir os valores orgânicos do homem social.
Soljenítsin representa o espírito conservador de defesa da família tradicional, o espírito de cooperação e sociabilidade entre os membros da comunidade nacional, o respeito pela ordem e hierarquia assim como a perenidade dos valores.
George Soros incorpora a “ditadura progressista totalitária woke” – a defesa da “ditadura das minorias” – a promoção dos coletivos LGBT, a defesa intransigente do feminismo radical e a destruição do patriarcado assim como o financiamento do lobby das alterações climáticas e dos políticos e partidos de extrema-esquerda com o objectivo final de extinguir o povo europeu, evidente nas declarações de Jean-Luc Mélenchon.*
Em terceiro lugar e não menos importante destaca-se a excessiva regulamentação de bens e serviços da União Europeia que contribui para o desaceleramento do crescimento das economias da zona Euro, por sua vez gravemente afectadas pela desindustrialização da economia alemã** – perda de fornecimento de gás russo que resultou num aumento do custo da energia***e o encerramento de empresas prestigiadas no ramo automóvel, como a Volkswagen.
Tendo em conta o relatório “The future of european competitiveness” nas últimas cinco décadas nenhuma empresa da UE com valor superior a 100 mil milhões de euros foi criada do zero, e 30% dos unicórnios europeus saíram do bloco desde 2008 devido à dificuldade de expansão no continente. A este propósito os conservadores europeus alertam para a urgência em revogar imediatamente o Regulmento da Inteligência Artificial**** ou AI Act que impõe restrições ou proibições a determinadas aplicações consideradas de “risco inaceitável”, estabelecendo deste modo desafios significativos para a permanência destas empresas no mercado comum da zona Euro.
As empresas enfrentam uma teia densa de regulações, impostos e requisitos administrativos que variam entre os Estados-membros, criando barreiras invisíveis ao crescimento e à expansão internacional. Além disso, o mercado único europeu encontra-se saturado, com uma concorrência intensa entre empresas que disputam uma base de consumidores limitada e envelhecida.
Mateusz Morawiecki referiu-se ao relatório do Parlamento Europeu***** “Eliminação das barreiras não pautais e não fiscais no mercado único” que referia que as barreiras comerciais não tarifárias aumentavam os custos das trocas de bens até 50% e de serviços até 100%, comprometendo os objectivos da estratégia industrial da UE e afetando negativamente a competitividade energética.
Um quarto factor de preocupação apresentado por vários participantes foi o condicionamento da liberdade de expressão. Francesco Giubilei, Presidente do Think-Thank Conservador Nazione Futura e da Fundação Tatarella, criticou a UE e a imprensa progressista italiana relativamente à forma como se apressaram a apresentar Donald Trump como uma figura “populista” e uma “ameaça” aos valores europeus por ter como seu principal financiador Elon Musk, argumentando que o magnata, estaria a interferir directamente no processo político através da plataforma X (anteriormente Twitter). Não deixa de ser um exercício hipócrita quando os mesmos dirigentes europeus permaneceram totalmente indiferentes relativamente à censura imposta por Zuckerberg e pelas Big Tech, no decurso da administração Biden, banindo uma série de perfis de direita, sempre com a ladainha da protecção contra o discurso de ódio e defesa da democracia. Além da União Europeia agir com “dois pesos e duas medidas”, numa espécie de Ministério da Verdade Orwelliano, mantém como prioridade a criação de grupos de trabalho sobre fact-checking para poder deliberar (em causa própria, diga-se) quais os conteúdos que podem ou não ser publicados.
A Conferência “Make Europe Great Again – MEGA” através dos seus diversos painéis temáticos lembram-nos que quem adormece em liberdade pode acordar em ditadura.
Mesmo que não contenha um aparelho repressivo formal à luz dos estados totalitários do séc.XX, o federalismo europeu é uma forma supranacional de transferir soberania dos estados para Bruxelas, transformando-os em meros protectorados económicos, uma vez que delegam parte das suas competências em áreas como comércio, concorrência, política monetária, segurança ou justiça que passam directamente a ser administradas por Bruxelas ou através de Instituições como o Tribunal de Justiça da União Europeia que estabelece o princípio da primazia do direito europeu sobre as legislações nacionais.
A segurança dos estados-nação e o controlo da imigração, a protecção da liberdade de expressão contra o cancelamento da dissidência, a desburocratização e simplificação de processos para atracção de investimento e de oportunidades de negócio são prioridades dos Conservadores Europeus
Mas o combate cultural também deve assumir formas metapolíticas no que diz respeito à manutenção e preservação dos valores intemporais europeus consubstanciadas no direito romano, filosofia grega e da moral cristã – os três pilares da civilizacional Ocidental expressos pelo Santo Padre João Paulo II.
Os conservadores carregam consigo a responsabilidade história de pôr termo à deriva woke e identitária – traduzida na novilíngua progressista por questões como a “urgência climática” para se referirem a alterações climáticas, “pessoa gestante” que substitui a palavra mãe, para não ferirem a susceptibilidade das “pessoas trans e não binárias” que não podem engravidar, o “racismo estrutural” que incute desde cedo nas crianças brancas que se constituem como potenciais opressoras face a crianças negras ou asiáticas e por isso ocupam um lugar de privilégio a que designam como “branquitude”, entre outras histerias colectivas que animam a turba progressista de forma orgásmica.
Tal como Maquiavel escrevera na sua magistral Obra – “O Príncipe” – a política deve ser regida por princípios pragmáticos e precisa de líderes fortes e estratégias eficazes para garantir a sua sobrevivência.
A Europa enfrenta claramente uma crise de lideranças, perdida nas memórias de estadistas como Konrad Adenauer, Winston Churchill ou Charles de Gaulle.
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*“No nosso país, uma em cada quatro pessoas tem um avô estrangeiro. 40% da população fala pelo menos duas línguas. Estamos destinados a ser uma nação crioula e tanto melhor! Que a jovem geração seja a grande substituta da velha geração”
**https://rtbrasil.com/noticias/5495-alemanha-corre-risco-desindustrializacao-revela/)
***a indústria alemã paga, em média, 40% mais por energia em comparação a 2021, tornando a produção local menos competitiva
****https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/artificial-intelligence/