Sugestões: Bizarros Romances e Contos de Ficção Científica

Sugerimos aqui algumas obras literárias de ficção científica, não necessariamente muito conhecidas, mas sempre notáveis, e tão bizarras quanto possível.

Uma das coisas mais curiosas deste género de ficção, independentemente do autor, da qualidade da prosa, da estrutura do enredo e da sua adequação aos parâmetros de uma história bem contada, é que por vezes basta o mero enunciado da premissa para colher o fascínio do leitor. Com efeito, a ficção científica, sub-género do grande universo tradicionalmente designado como literatura de fantasia, alicerça-se no mundo presente mas, colhendo inspiração nos desenvolvimentos tecnológicos, cogita sobre versões extremas desses mesmos e equaciona consequências em geral radicais e/ou dramáticas para a vida corrente, que podem vir num futuro próximo imediato ou milhões de anos no futuro. Isto permite imaginar a vida tanto como regendo-se, fundamentalmente, pelos mesmos padrões humanos actuais como, ao mesmo tempo, por modificações extremas, e frequentemente aterrorizantes, nas condições materiais que os permitem.

Temos assim, primeiramente, um dos romances preferidos do crítico Harold Bloom, A Voyage to Arcturus, de 1920, uma espécie de romance de estrada em que o protagonista viaja por várias paisagens extraterrestres que representam cada uma diferentes estados de espírito ou filosofias de pensamento; depois, de Isaac Asimov, Foundation, de 1951, um épico político sobre um futuro em que a descoberta da psicohistória, uma ciência que permite prever, através de cálculos complexos, a ascensão e queda de povos e civilizações; ainda, surpreendentemente escrito em 1666, por Margaret Cavendish, The Blazing World, uma ficção também utópica sobre a viagem de uma jovem mulher a um mundo fantástico regido por criaturas estranhas e tecnologia avançada, sendo posteriormente coroada sua imperatriz e empreendendo uma campanha militar poderosa.

Depois, NightFall, de 1941, também de Asimov, descrevendo um mundo que vivia sob luz solar permanente e as transformações sociais que ocorrem quando passa a viver sob escuridão perpétua; de William Gibson, uma entrada mais conhecida mas imprescindível na génese do policial cyberpunk, Neuromancer, de 1984, com um mundo em que as interfaces informáticas e as neurológicas se confundem; depois, de Arhur C Clarke, The Nine Billion Names of God, publicado em 1954, sobre uma profecia de que a pronúncia dos nove mil milhões de nomes da divindade máxima trará o apocalipse.

Mais um conto de Isaac Asimov cujos direitos cinematográficos foram adquiridos em dado ponto pelo prolífico Orson Welles, sem que no entanto daí tivesse resultando nenhuma produção em específico, e que aborda um protagonista que, após um acidente, é recontruído ciberneticamente, mas alguns alegam que já não se trata da pessoa original, sendo este um tropo comum na ficção científica. Ainda, The Memory Police, um conto do japonês Yōko Ogawa recentemente adquirido para uma produção cinematográfica cujo argumento será escrito pelo famoso Charlie Kaufmann, uma históri kafkiano sobre uma sociedade em que a memória de objectos comuns está a desaparecer e, com eles, logo a seguir os objectos são retirados por uma polícia da memória — outro tropo não incomum. De Brian Stevenson, The Warren, um romance sobre o último sobrevivente humano de um apocalipse que começa a desconfiar se ele próprio é mesmo uma pessoa.

Por fim, de  Olaf Stapledon, Star Maker, de 1937, sobre um ser incorpóreo que acompanha toda a história da humanidade e se prepara para o encontro com o criador universal. Gun, with Occasional Music, de Jonathan Lethem, um romance surreal sobre um detective num mundo futurista com animais falantes, armas com bandas sonoras, e bebés mais inteligentes que adultos. E Flatland – a Romance of Many Dimensions, de 1884 (!), uma paródia da sociedade vitoriana, em que uma realidade imaginária constituída apenas por figuras bidimensionais encontra o conceito de tridimensionalidade.