Sugestões: Romances de Escândalo dos séc. XVIII e XIX, Dinheiro e Dívida

Destacamos hoje seis romances dos séculos XVIII e XIX que envolveram algum tipo de escândalo, de atentado ao pudor, ou até queixas judiciais. Começamos com Candide, de Voltaire, de 1759, como prefigurador de um certo tipo de polémica não necessariamente de natureza sexual de que, infelizmente, quase todos os elementos desta lista se valem, dado que se trata de uma dimensão inerentemente polémica: Candide, por seu lado, trata-se de uma sátira ao iluminismo cuja leitura muito recomendamos, e cujos elementos blasfemos levaram à suspensão da sua publicação. Depois, The Awakening, de Kate Chopin, de 1899, uma precursora da segunda vaga do feminismo, com uma história de uma mulher sexualmente autónoma. Ainda, The Picture of Dorian Gray, de Oscar Wilde, com elementos de homoerotismo típicos do dandy inglês, também sujeita a censura inicial por parte do editor e a subsequente grave polémica e acusação judicial contra Wilde. Também Fanny Hill, o nome popularmente conhecido do original Memoirs of a Woman of Pleasure, de John Cleland, 1748, um dos livros mais perseguidos e banidos da história, relata, como o título indica, a vida e as aventuras de uma libertina, tendo a particularidade de ser muito inventivo no uso de vocábulos alternativos para as partes privadas. O famosíssimo Madame Bovary, de Flaubert, de 1857, merece também referência; tendo sido também sujeito a queixa judicial, a história de uma burguesa adúltera que inspirou dezenas de adaptações e versões, como, por exemplo, Vale Abraão, de Agustina Bessa-Luís. Por último, o curioso Ten Days in a Mad-House, de Nellie Bly, de 1887, baseado numa série de reportagens sob disfarce que a jornalista Bly fez enquanto paciente num asilo para loucos, posteriormente denunciando os graves abusos O romance teve inclsive uma boa adaptação cinematográfica recente, dirigida por Timothy Hines, em 2015. Ficam aqui as sugestões e a promessa de voltaremos ao mundo do romance dos séculos XVIII e XIX, que são incepcionais de muito do que hoje consumimos em forma de filmes e séries de televisão de grande produção. 

Apresentámos também sugestões literárias para o fim-de-semana sobre um tema importante, interessante, pertinente e em certa parte contra-intuitivo: o dinheiro e a dívida, mas do ponto de vista da filosofia, da antropologia e das humanidades. Na primeira obra, de Marc Shell, Money, Language, and Thought: Literary and Philosophic Economies from the Medieval to the Modern Era, analisa-se como as relações entre sistemas monetários e o uso da linguagem denunciam uma evolução moderna da moeda como crescentemente abstracta e virtual. Na segunda, de David Graeber, Debt: The First 5,000 Years, interessantemente estipula-se e fundamenta-se como a existência de instituições de dívida é anterior à existência da moeda cunhada e até mesmo da concepção do dinheiro, o que pode parecer contra-intuitivo mas é natural dado que as relações sociais implicam tipos de contrapartida que se podem considerar dívidas que não precisam de sistemas monetários para funcionar. Depois, de Jonathan Parry e Maurice Bloch, Money and the Morality of Exchange, uma panorâmica sobre a relação entre sistemas morais e sistemas económicos, um trabalho antropológico focado nas culturas do sul da Ásia, África e Américas. Por último, de Niall Ferguson, The Ascent of Money: A Financial History of the World, uma história dos instrumentos financeiros e do dinheiro em geral na modernidade e suas diferenças face a períodos anteriores.