Excerto do Primeiro Jornal publicado no Reino de Portugal, de Novembro de 1641.

“§ Pelejou a Armada de Holanda com uma Esquadra da Armada Real de Castela, em que vinham muitas fragatas de Dunquerque: durou a pendência mais de vinte & quatro horas; foi-se a pique um Galeão dos Castelhanos, & ficaram alguns destroçados, & todos com muita gente morta. O Holandês com algum dano se retirou a este Porto, donde está aguardando a que El-Rei Nosso Senhor lhe dê socorro para sair outra vez a atemorizar os Portos de Andaluzia.

§ O Conde da Castanheira, que estava preso numa torre de Setúval pediu a El-Rei Nosso Senhor que lhe mudasse a prisão porquanto estava indisposto: & El-Rei Nosso Senhor usando de sua natural benignidade o mandou trazer para o Castelo de Lisboa.

§ Num lugar da Beira se afirma que houve um homem, que ouvindo dizer numa conversação de amigos que na feliz Aclamação d’El-Rei Nosso Senhor fizera o Crucifixo da Sé o milagre, que a todos é notório, disse que podia a caso a imagem do Senhor despregar o braço, & assim como acabou de dizer estas palavras caiu uma parede junto da qual estavam todos os da conversação, & só a ele matou.

§ Estando o Galeão S. Margarida para dar à vela disse o Piloto que não se atrevia a sair sem lhe darem mais gente do mar; inquietaram-se os soldados, & foi necessário acudir o General António Teles de Menezes, & alguns Senhores que o acompanharam na jornada de Cádiz: & despois de tudo quieto prenderam três soldados, que foram os cabeças, & a todos três os enforcaram.

§ Luís de Abreu que estava preso por cúmplice na conjuração, que se fez contra a pessoa Real, provou sua inocência, e saiu livre.

§ O Conde de Alba de Liste, & o Marquês de Alcanizes aos 19 de Outubro entraram pela vila de Isanes, & Malhadas com dous mil homens com ânimo de tomarem as munições, & a artilharia, que desta corte se mandava para a cidade de Miranda: porém os nossos lhe prenderam junto à vila das duas Igrejas (por donde a comboi havia de passar) uma hespia que lhe havia dado o alvitre & lhes vinha ensinando o caminho; & com a sua prisão mudaram de intento, & se foram: logo chegou o train ao lugar das duas Igrejas donde com grande pressa se recolheu, & se pôs em cobro: fizeram os inimigos na retirada algum dano: porém Rui de Figueiredo de Alarcão Fronteiro-mor de Trás-os-Montes, & Pêro de Melo Capitão-mor, & superintendente das armas na cidade de Miranda, juntaram 3000 infantes, & 100 cavalos, & com dous mil infantes mais que lhes mandou Francisco de Sampaio Fronteiro-mor da Torre de Moncorvo, de que era Cabo Domingos de Andrade Correia foram a Brandilanes cinco léguas de Miranda, donde o inimigo estava feito forte, & despois de duas horas de batalha ganharam a trincheira, em que mataram 70 homens, & os demais se retiraram a uma Igreja, donde resistiram até que os nossos puseram fogo a um barril de pólvora, para que eles cuidassem que os queriam queimar, & se entregassem. O que fizeram; mas ficaram mortos 400, entre os quais morreu Dom Inigo de Balandria governador da Cavalaria. Saquearam os nossos o lugar, & .vieram vitoriosos com mais de 300 armas de fogo, muito fato, grande número de gado, & outros muitos despojos; da nossa parte morreram sete ou oito homens.

§ Despachou El-Rei Nosso Senhor ao Conde da Vidigueira por Embaixador de França para assistir na Corte de Paris.

§ Dom Antão de Almada (que foi por Embaixador Extraordinário a Inglaterra) fica assistente para tratar dos negócios do Reino.

§ Veio Frei Dinis de Alencastre, a quem El-Rei Nosso Senhor havia mandado as partes do Norte: & não se sabe a que foi mas presume-se que efetuou tudo com a felicidade, que se esperava de um sujeito, em que concorrem tão soberana qualidade, & partes tão superiores.

§ O General Martim Afonso de Melo (sabendo que o inimigo estava em Valverde prevenindo-se para dar em Olivença) juntou do terço de D. João da Costa, de Aires de Saldanha, & de todas as fronteiras de Alentejo 3000 & tantos homens, & a 27 de Outubro saiu da cidade de Elvas no dia seguinte pela manhã, chegou a Valverde com a infantaria repartida em três esquadrões, & quinze mangas volantes, & a cavalaria em sete tropas. Foi visto dos inimigos: acudiram todos a defensa: preveniram-se os nossos para o assalto; imvestiram, & ganharam logo a primeira, & a segunda trincheira; & arrimando escadas entraram na vila, na qual não havia rua, que não defendesse a entrada com uma peça de artilharia porém os nossos romperam, & alhanaram tudo, & os inimigos se retiraram a uma Igreja, ao pé da qual havia um reduto, donde se defenderam valerosamente, & estando já os nossos ao pé da terceira trincheira, & o lugar quasi rendido, houve da nossa parte quem gritou que se retirassem, & cuidando todos que era ordem do General obedeceram, & cessou o destroço, que foi tão grande que não ficou em todo o lugar casa alguma que os soldados não saqueassem, & o que não podiam trazer ou o despedaçavam, ou lhe punham o fogo. Tornaram enfim para Elvas alegres com a vitória, & deixaram na vila mortos mais de 400 Castelhanos entre os quais morreu o Comissário da Cavalaria: trouxeram 55 prisioneiros, tomaram 3 bandeiras & muitos outros despojos; da nossa parte morreram pouco mais de 30 homens & os conhecidos foram o Comissário da Cavalaria, o Capitão Jerónimo de Castro, o Capitão João de Seixas, o Tenente de João de Saldanha Capitão de cavalos.

§ Veio nova que estavam os Galegos mui atemorizados despois que lhes desfizeram os redutos; tomaram-lhe os nossos algumas armas, & munições mataram-lhe, & cativaram-lhe alguma gente.

§ Onze homens de Castro Lobeiro que estavam na trincheira viram no campo doze cavaleiros castelhanos os quais vinham a reconhecer, & deram-lhes uma carga com que mataram sete, & cativaram os mais, & lhe tomaram as armas, & os cavalos, e os mandaram presos a Valença. Vinham atrás destes cavaleiros 300 infantes, & sem saberem do que lhes havia sucedido acometeram a trincheira: mas os onze mosqueteiros lhes deram duas cargas com que mataram alguns, & os mais fugiram, & não foram tão poucos os mortos, & os cativos, que não fosse por todos 31, & dos nossos ninguém perigou.

§ Em Caminha se tomaram três barcos de Galegos, donde se matou alguma gente, & outra se cativou.

§ Fez El-Rei Nosso Senhor mercê do Padroado do Crato ao Ilustríssimo Senhor D. Rodrigo da Cunha Arcebispo Metropolitano.

§ Prenderam um Frade Beguino estrangeiro, & dizem que veio a esta cidade por espia.

§ Estão nomeados por Mestres de campo Cristóvão de Melo filho do Monteiro-mor do Reino, & D. Sancho Manuel.

§ Publicou-se o subsídio Eclesiástico.

§ Abriu-se o comércio de .Moscóvia, & já veio uma Nau com mercadorias, & ficavam muitas para vir.

§ Dizem que estão quinze mil Franceses sobre Fonte Rabia.

§ Chegou a este Porto uma Caravela, que vinha das Índias com aviso, & os nossos a tomaram nas Ilhas. Traz vinte mil cruzados em patacas […]”.