
The New Agora: on Shopping Centers and Political Demonstrations
Um interessante relance sobre o papel dos centros comerciais na paisagem urbana de hoje, a nível de centralidade na vida cívica e enquanto palcos para manifestações políticas colectivas, à semelhança da ágora grega. É o primeiro artigo de uma série sobre o mesmo tópico: os centros comerciais na contemporaneidade.
Democratic Peace Theory: Kant’s Heritage and Its Flaws
A propósito das origens kantianas de uma teoria que estabelece que os sistemas democráticos têm muito pouca probabilidade de enveredar por conflitos armados, comparativamente com outros sistemas de governo. Há pontos a favor, alguns contra, e uma história, que é devidamente abordada no texto. Convidamos a ler tendo em conta também os tristes exemplos vindos na atualidade de um dos maiores estados do mundo, a Federação Russa, que não é um estado democrático.
Evolução do Conceito de Marketing, 1990-2020
Um artigo com uma análise às mudanças ocorridas na área do marketing quanto ao seu conceito e à sua prática desde há três décadas para cá.


Dois outros artigos: uma crónica com algumas reflexões sobre a problemática da eutanásia e a primeira entrada de uma nova rubrica de Sofia A. Carvalho sobre música e cinema, intitulada “SKieron”.
Homossexualidade no Estado Novo

Partilhámos leituras que reportam a tempos passados, felizmente já distantes, e que reflectem realidades cruéis merecedoras de estudo rigoroso: a situação das práticas e identidades homossexuais no período do estado novo português. Em primeiro lugar, no caso masculino, tais práticas constituíam crime: era a PSP encarregada da fiscalização (em locais como urinóis públicos e outros) e a PIC (antiga judiciária) da parte processual da acusação. Existe escasso mas já respeitável trabalho académico sobre esta matéria, e queremos deixar aqui três sugestões: primeiro, o trabalho de Clotilde Correia; segundo, o de Raquel Afonso, com uma reportagem aqui, o livro aqui, e a versão em tese do mesmo aqui; terceiro, uma excelente peça da revista Pública, de São José Almeida, também autora de uma monografia sobre o tópico.
Economia: Ciência Exacta e Ciência Social

Um interessante e recente artigo científico e totalmente referenciado com um panorama sobre o estado-da-arte da classificação taxonómica e categórica da disciplina da economia na academia; nomeadamente em que medida é que está mais perto das ciências exactas ou das ciências sociais.
Sobre Aplausos e Empatia


Primeiro, um curioso artigo da NBC sobre um fenómeno contemporâneo, que é parte, segundo a autora, de uma tendência maior: a da auto-congratulação social por motivos por vezes espúrios, tanto em manifestações individuais (redes sociais e filosofia do “empowerment”, por exemplo) e em acontecimentos colectivos como na ovação de pé, hoje mais comum que antes.
Segundo, várias peças sobre a “empatia”, conceito que contemporaneamente no discurso público se toma como qualidade moral, intelectual, quase de necessidade lógica, etc., tida como imprescindível às conversas e às trocas de ideias. Tal qualidade não tem origem no vazio: é fundamentalmente promovida pelas religiões. A tradição de interromper alguém que apresenta um argumento e acusá- lo de não ter empatia é portanto uma tradição religiosa. Nada de errado nisso por si só. Mas o termo parece significativamente vago: muitos que o usam não teriam a empatia universal que religiosos convictos têm pelo criminoso, pelo violador, pelo assassino — ou, pelo menos, teriam por alguns a quem fossem familiares.
Sendo assim, talvez seja de considerar que é um ponto, na maior parte das vezes que é levantado, absolutamente inócuo, desonesto, com mera função de “conversation stopper”. Será talvez preocupante a banalização desse tipo de argumentos de superioridade moral baseadas na emoção e usados como autocolantes retóricos, mas também nada tem de novo. Deixamos um bom artigo e um pequeno vídeo da revista bigthink sobre o assunto, além da referência bibliográfica que lhes deu origem.
Pornografia e Arte Digital


Algumas abordagens de profundidade crítica e filosófica à área da pornografia. Primeiro, um volume recente com vários ensaios, abordando os prós e contras em redor da prática, fora das ideias comuns sobre o assunto, recenseado aqui. Depois, um artigo que refere pesquisa indicando, genericamente, efeitos negativos nos homens e positivos nas mulheres, da revista Psyche. Por fim, uma análise tentativamente científica sobre problemas para a saúde mental, com alguns pontos muito interessantes como o seguinte: “If our reward system interprets each new porn clip as the same thing as a new sexual partner, this means an unprecedented sort of stimulus for our brain. Not comparable to Playboy, or even ’90s-era dial-up downloads. Even decadent Roman emperors, Turkish sultans, and 1970s rock stars never had 24/7, one-click-away-access to infinitely many, infinitely novel sexual partners.”. Ainda por último, um podcast recente sobre feminismo e pornografia.
Apresentámos também para debate um tópico recente relacionado com autonomia artística nas artes: a inteligência artificial. Partindo de certas predeterminações matematicamente redutíveis, que levam à autonomização de artesãos virtuais capazes de escrever, desenhar ou compor, alguns artistas têm investido neste modo de criar arte — que tanto pode produzir texto, imagem, som ou outras expressões — e que pode devolver resultados muito imprevistos, curiosos e interessantes. A espécie de questão social/política levantada por alguns artistas quanto à validade de tais peças como pertencentes ou não àquilo que entendemos como arte é o menos importante aqui; aliás, desde a arte primitiva, até ao barroco ou às vanguardas do início do passado século, que experiências de relativização/redução/aniquilação do autor têm sido realizadas. Todas elas acabaram por constituir uma continuidade da anterior tradição que em geral entendemos como arte. A única questão particular aqui, e não exatamente diferente, será o processo: como é que um artista é artista ao delegar em complexas predeterminações matemáticas condicionais a feitura de uma obra.
Deixamos aqui dois artigos sobre o assunto, um neutral e descritivo e outro crítico e depreciativo, como ponto de saída para uma conversa que decerto se prolongará.
Literatura


Apresentámos, ou melhor, recordámos o gigante crítico literário Harold Bloom, falecido há poucos anos, numa peça de 2002, onde se abordam muitas das coisas que ocuparam o seu trabalho. Bloom trabalhou, a partir de certa altura, ou melhor, desde sempre, em contra-ciclo com as correntes da crítica literária do seu tempo; abordou Shelley quando os poetas românticos eram vistos como de fraco conteúdo, escreveu sobre uma teoria da influência literária de tonalidades quase místicas e cabalísticas, e acabou a carreira como homem de um só departamento, pois a sua voz era tão única que mais ninguém tinha paciência para se encaixar com ele. Saudamos esse modo de estar na universidade, particularmente nas humanidades mas não só.
Por último, um volume recente que é tanto um relato de experiência da loucura na primeira pessoa como também uma abordagem filosófica robusta ao tópico; está
recenseado na Norte Dame Philosophical Review, de onde destacamos este breve excerto para abrir o apetite: “A meditation on water metaphors in Husserl’s Phenomenology of Internal Time-Consciousness culminates in an involuntary hospitalization. A careful exposition of the schizophrenic “word salad” transforms, almost imperceptibly, into word salad. Philosophical musings alternate with fragments of a mad diary at such a dizzying rate that there are lengthy passages where the reader simply does not know whether she is reading a philosophical exposition or a mad diary.” Podem ler a recensão aqui.
Submissões
Por fim, desejamos a todos, como sempre, excelentes leituras e bons e profícuos trabalhos, dentro e fora da universidade. Voltamos a deixar o convite para nos enviarem as vossas propostas de artigos, seja em fase já concluída ou enquanto versão incompleta, mero esboço ou mesmo apenas ideia. Aceitamos, como já sabem, todos os temas de relevo, mas podem consultar algumas sugestões de tópicos aqui. Até breve!

Retrato de Gertrude Stein (1874 – 1946), escritora, patrona das artes e dona do famoso salão de Paris onde se reuniam vários autores das vanguardas do início do passado século.