Considerações breves sobre os Reis de Portugal, classificados por ordem crescente

[N°16] D. Miguel I [1828-1834] A última esperança de um Portugal segundo as suas máximas fundamentais. Apoiado pelo Povo, despojou a vida procrastinadora e lutou contra os nossos sans-cullotts. O único 25 de Abril que preza congratulações é o de 1826, quando o Povo aclamou D. Miguel no Terreiro do Paço. Infelizmente, o dinheiro venceu, e veio a ser desentronizado em Evoramonte; a Lei do Banimento de D. Maria II, uma Rainha impopular, parece contraditória, visto que não se aplicou a ela mesma. Até Salazar, foi o último governante patriota.

[N°15] D. Pedro II [1683-1706] Tirando D. José, todos os nossos absolutistas foram exímios Governantes. Acautelando vindouras instabilidades por conta das influências de D. Afonso VI, o substitui e honra o ofício do Reino com benemérito. É quem finda, em papel, a Guerra da Restauração [que não fôra uma Restauração, mas sim uma Reposição]; foi um Homem sempre provido a ouvir os seus conselheiros com a maior das sabedorias; o desenlace das grandes manufaturas iniciam-se aqui, com a produção têxtil em Portalegre ou os lanifícios no Fundão; é. neste Reinado que as tropas portuguesas alcançam os arredores de Madrid, em intervenção na Sucessão Espanhola; a Lei dos Bons Costumes, fortemente protecionista. Em relação ao Tratado de Metheun, a incógnita incompreendida, tem condições para críticas abertas mas, na. vigência, muito contribuiu para a Economia portuguesa. Tínhamos privilégio na Inglaterra com os vinhos, privilégio que a Inglaterra não tinha com os seus panos aqui. Se alguém saiu prejudicado neste Tratado, foi a Inglaterra… e ainda bem, é sinal que não fomos nós.

[N°14]

D. Afonso II [1211-1223]

Um excelente administrador, que infelizmente partiu cedo. Aproximando-se o N°1 desta lista, a questão torna-se mais espinhosa, pois a impopularidade das opiniões pode transtornar a sinceridade da lista. Respondeu sabiamente ao conflito herdado de D. Sancho I, concernente ao Testamento das filhas deste com o Rei Afonso; foi o primeiro Rei a celebrar Cortes com o Clero e a Nobreza, em 1211; é o autor das primeiras Leis Escritas do Reino, abordando pontos imensamente complexos para a saúde nacional, sendo alavancado pelas Inquirições e Confirmações, exigindo do seu Reino uma maior acurácia e firmeza administrativa; preparou imensas embaixadas ao estrangeiro para obter tratados comerciais; enviou tropas a Navas de Tolosa e foi o primeiro Rei a submeter o Tesouro Real à dízima eclesiástica.

[N°13] D. Afonso IV [1325-1357] Reinado longo, de pendências que não pediu [Peste Negra, aturar o filho adúltero e Afonso Sanches, que desbaratou], mas um bom Governador. Participou pessoalmente na Batalha do Salado contra a Mourama, recusando o despojo após a vitória, digno do maior dos elogios. Eficazes acordos comerciais com a Inglaterra e aliança firmada com Castela e Aragão; implantação dos imparciais juízes de fora, superiores a qualquer mesquinhez arruaceira; proibiu a vingança privada e a intromissão da Nobreza na Justiça; aquando da. Peste Negra, dificilmente poderia escolher um melhor Rei – punição severa da usura, leis pragmáticas (embora estas de difícil cumprimento) e fiscalização dos campos; foi o Rei descobridor das Canárias. O romantismo em torno de Inês de Castro retirou-lhe o mérito sabedor.

[N°12] D. Duarte I [1433-1438] Talvez opinião impopular. Não é um mau Rei, pelo contrário. Apenas não é melhor que os outros. A sua Lei Mental é, primeiramente, inspirada no crer de D. João I (por isso é ‘Mental’); foi um desleixe esta expansão informe da Nobreza, neutralizada de forma respeitável. Era um filósofo, sábio, mas sentimental, falecendo agonizado no martírio do Infante Santo [Nota: o Infante Santo chegou a insinuar que, se a expedição a Tânger não fosse realizada, sairia do País; nem o Infante D. Henrique ‘deixou o irmão morrer’, que é uma opinião patética, nem D. Duarte. A Pátria é mais importante que cada um dos seus componentes]. Não deixa de ser, no entanto, o Reinado onde Gil Eanes dobra o Bojador e onde Afonso Gonçalves Baldaia alcança o Rio do Ouro. Perde em Marrocos, mas assim se fazem os Heróis.

[N°11] D. Maria I [1777-1816] Uma espetacular Rainha. Se ficou ‘louca’, talvez foi pelo vírus que os Maçons lhe passaram. É difícil herdar um Reino completamente definhado e mesmo assim ser julgada. Tirou o Pombal do Governo junto com o seu concubinato; deu amnistia aos presos…

…políticos daquele; revogou as políticas anticlericais e fruiu na sua Cúria os mais cristãos e deleitosos homens; extingue as monopolizações das Companhias decrépitas; caça abertamente as lojas livres; tratado comercial muitíssimo benéfico com a Rússia; política protecionista e criação de imensas fábricas gerais (chapéus finos, lã, algodão, botões, rendas, chumbo de munição, resina, lacre, verdete…); resolução do problema das estradas, minas e canais; retorno aos quadros Universitários pré-Pombal; fundação da Academia Real de Fortificações e da Ciência; o seu plano urbanístico com Pina Manique, um dos meus caçadores de sans-cullotts favoritos, iluminação dos centros e uma piedosa política de piedade aos religiosos e da gente pobre, veja-se as benesses que a mesma instituiu aos pescadores. Grande Rainha e cristã.

[N°10] D. João IV [1640-1656] Não deteve a mesura de grandiloquência que teve, por exemplo, D. João I. MAS, foi um Rei muitíssimo prudente nas horas de asfixia. Uma crítica (sempre de estatuto modesto, pois jamais me compararia a estes heróis da Pátria) que posso atribuir é a…

…sua indecisão em alguns e pontuais momentos, como na própria Conjuração. Foi um pouco hesitante na colocação de tropas na fronteira também, mas é necessário entender o contexto delicado; um passo mal dado poderia gerar a inexistência do nosso Portugal; e, se Portugal ainda. existe, a ele o devemos; coroou Nossa Senhora da Conceição, quem nos deu forças para tamanha guerra, como eterna Rainha de Portugal; é o Rei da Batalha do Montijo e da segunda vitória dos Guararapes; além das embaixadas secretas que o mesmo enviou ao estrangeiro. Louvemos.

[N°9] D. Sancho I [1185-1211] Talvez outro parecer impopular. É somente pela faceta militar que o coloco em 9°, pois é, indiscutivelmente, um dos maiores administradores que Portugal teve a honra de ver nascer e reinar. Cautelosamente, foi um Rei muito impregnado nas coisas…

…administrativas; chegou a enviar agentes da sua Cúria ao exterior para recrutar colonos às áreas conquistadas pelo pai, o que é louvável. É nestas ações que funda, por exemplo, a conhecida vila da Azambuja. Os Forais concedidos, por exemplo, a Viseu, ou Covilhã, ou Bragança…

..aliados a esta política de recrutamento, muito devemos pelo fortalecimento e preenchimento do espaço recheado pelo matagal entrincheirado. No seu Reinado, o Tesouro Real era aviltado. O problema foi o Testamento de 1209, que gerou o bem sabido conflito; além da perda de Silves.


[N°8] D. João V [1706-1750] Grandioso Rei, que restaurou a Portugal um protagonismo no panorama internacional. Promulgou as Ordenações Militares, pilar ignorado pelo Reinado seguinte; regimentos e a Aula de Fortificação e Arquitetura Militar; além do Tratado de Utrecht, fôra um..

…Rei imensamente vinculado na soberania portuguesa além-mar. Combateu os maratás, os mascates, desbaratou os Ingleses em Cabinda, venceu a Batalha de Surate e interviu fortemente na Batalha do Cabo Matapão, em favor dos Estados Papais, a quem sempre se submeteu; venceu a…

..Companhia do Rio da Prata, tomou o forte de Tiracol e fundou a Coudelaria de Alter para a sub-raça cavalar lusitana. O seu projeto arquitetónico e científico é comparável a qualquer um dos Reis acima. Convento de Mafra, Aqueduto das Águas Livres, Biblioteca da Universidade de Coimbra; fundador da Academia Real de História e do Patriarcado de Lisboa; política conducente ao Santo Ofício [aos moldes portugueses], fábricas de papel, vidros, pólvora, seda, sempre em um teor protecionista, coadunadas às suas Leis Pragmáticas contra o produto externo.

[N°7] D. Afonso V [1438-1477] É, debativelmente, o Rei que acarretou a mais intelectual Cúria na nossa História. Nuno Gonçalves, Zurara, Fernão Lopes, D. Jorge da Costa [o Cardeal de Alpedrinha], D. Luís Coutinho, entre outros; é, ele próprio, um dos mais cultos Reis da nossa..

…História – é de sua cabeça que nasce a faceta dos Painéis de S. Vicente; fôra um dos únicos no seu tempo que, na maior das cristãs mesuras, juntou um exército para uma cruzada a Constantinopla, aquando da sua queda; a missão não desencadeou, justamente pela apatia dos demais Reinos. Perde em Toro, MAS é o consagrador da ação missionária, do Evangelho de S. João, do Quinto Império. A procura da tomada do trono Espanhol era um passo importante a tomar. Muito se procura defender o Infante D. Pedro, tio deste que, prolongando indevidamente a sua. Regência após a maioridade, era augustiosamente ambíguo – era mais preocupado com a tomada de Aragão do que com a governança de Portugal, inclusive, serviu-se deste povo para alimentar o seu malévolo arsenal. SE D. Pedro vencesse em Alfarrobeira, não haveria Império. Estava. o maior dilema em jogo – ou um Império Glorioso, ou uma relevância local. Graças a Deus, ganhou o primeiro; é Rei da tomada de Alcácer Ceguer, Anafé, Arzila e Tânger; além das missões de povoamento. Fôra o último Rei-Cavaleiro da nossa Pátria. Subestimadíssimo.


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[N°6] D. Afonso III [1248-1279] General de S. Luís IX, fôra uma dádiva da Providência em momentos de grande agonia nacional. Abdicou de Bolonha para governar a Pátria dos seus, tornando-se o pai do Estado Português e o conquistador dos Algarves. É o primeiro a realizar Cortes…

…com a presença dos Três Estados, em Leiria; é quem transita a capital do Reino para Lisboa, visionando os benefícios futuros ao mesmo Reino; fundador de vilas, promoveu também o recrutamento de colonos e nacionais; Inquirições Gerias sob a influência do Direito Romano, que…

…é quem o traz para cá; homem virtuoso, de grandes qualidades, protetor das Ordens Mendicantes. Foi vítima de uma injusta excomunhão, como fôra vítima de favorecimento espanhol um outro Rei que apreciaremos ainda. A disparidade de posição entre este e D. Sancho II é evidente.

[N°5] D. João II [1481-1495] Um dos Reis que mais admiro, sem dúvida. Foi injustiçado pelo Papa Espanhol no Tratado de Tordesilhas [os Reis “Católicos” sabiam não ter qualquer hipótese contra a nossa Marinha, preferiram assim agir], mas sempre se acautelou contra as influências..

..destes na nossa política interna. O Duque de Bragança foi financiado pelo casal sorrateiro? Morto. O Duque de Viseu conspirava perante o Reino? Apunhalado pelo próprio. Fácil e eficaz. É quem saneia as finanças e estabelece um centralismo régio, necessário face a tão grandes. conspirações. É o Rei que ultrapassa o Golfo da Guiné; é quem obra a construção do Castelo de S. Jorge da Mina; é o Rei de Diogo Cão, de Bartolomeu Dias, de Álvaro de Caminha; é quem primeiro procura o Preste João; fundador do Hospital Real de Todos os Santos. Glorioso.

[N°4] D. Manuel I [1495-1521] Não esmorece perante a grandiosidade de D. João II. É o Reinado de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Duarte Pacheco Pereira, Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, que conquista Malaca, Goa e Ormuz; relações diplomáticas com a China e a…

…Pérsia; conquistador de Safim, Azamor e Agadir; obreiro do envio de missionários católicos a todas as partes do mundo; é também um Reinado de grande apogeu intelectual, de Pedro Nunes, Sá de Miranda, Damião de Góis; a arte patriótica manuelina; descobridor da Gronelândia e. da Terra Nova; como cereja no topo do bolo, com todas as justificações que a História nos reserva a respeito, é quem expulsa os J’s do País. Felizmente, foi Rei. Infelizmente, finda com a sua morte o maior apogeu da nossa História [obrigado, D. João III].

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[N°3] D. Dinis [1279-1325] O ano de seu nascimento corresponde ao primeiro ano após o começo da Idade do Espírito Santo, segundo Joaquim de Flora. A ideia da expansão do Catolicismo daqui advém. Um visionário, dos melhores e mais completos Reinados do nosso Portugal. É quem…

…remedeia a relação com a Santa Sé, por meio de uma Concordata; alia-se a Aragão; define as fronteiras em Alcanizes; proteção da Ordem do Templo; mais Inquirições e Códigos Legislativos; promulgador da língua portuguesa e fundador do Estudo Geral; enxuga o paúl de Ulmar e…

…semeia o Pinhal de Leiria, as madeiras que fecundariam as Naus futuras; distribui terras pelas pobres gentes; um Reinado fortemente marcado pela exportação massiva, prosperidade sem antecedentes; fundador de grandes Feiras Francas. Um Rei muitíssimo respeitado no Continente.


[N°2] D. João I [1385-1433] O conspirador que hoje em dia desejaríamos. Conduz a morte do invasor Galego; gere o País no seu momento de maior perigo; vai a terreno campal lutar pela sua Pátria, em Aljubarrota; é o Rei de Valverde e Trancoso; é a cabeça sábia dos Descobrimentos..

…aliada à santidade de Nuno Álvares Pereira; a expansão a Marrocos ainda é de seu tempo; descobre Porto Santo, a Madeira e os Açores; realiza imensas expedições às Canárias. Pela traição punida, este Reinado é o que nos reserva a mais portuguesa e patriótica frente de guerra; é o Rei de Windsor e da reconciliação com Castela. Passou fome, viu o seu povo igualmente faminto no Cerco de Lisboa, mas ambos não se prostraram diante do inimigo. Ouvidor sábio dos Três Estados, que recorrentemente convocava. A ele devemos desculpas pelo nosso estado atual.

[N°1] D. Afonso I [1143-1185] É D. João V quem inicia o estudo da santidade das ações de nosso primeiro Rei, vindo a argumentar na Cúria Romana com essa justa preocupação. No retorno de eventual Estado Confessional, mantenhamos a firmeza de reconhecer a santidade de suas acões…

…e reconheçamos do fundador de Portugal, o mais acérrimo defensor de Cristo. É o Rei de S. Mamede, Arcos de Valdevez, Cerneja; é o fundador dos Mosteiros de Alcobaça e S. Cruz de Coimbra; é o Rei de Ourique; conquistador inato, de Leiria, Santarém, Lisboa, Almada, Palmela,. Alcácer do Sal, Sacavém, Óbidos, Torres Vedras, Tomar, e poderia continuar. Em Sesimbra localiza-se a nossa primeira vitória naval, sob o comando de D. Fuas Roupinho; o seu Reino é legitimado pela Bula de 1179; perde em Badajoz, pois esses almóadas foram auxiliados por…

..Fernando de Leão, traiçoeiramente; é D. Afonso Henriques ‘Pius, Victor, Triumphator ac sempre Invictus’. Desservir D. Afonso na sua mensagem da Pátria material e espiritual, é igualmente desservir-nos a nós mesmos.