Um resumo das nossas publicações e actividades do mês de Agosto de 2022. Imagem: Imagem da deusa Minerva gravada em anel de ouro, Séc. I, autor desconhecido, Museu Paul Getty.
Um estudo sobre o sentimento público português relativamente a António de Oliveira Salazar, 50 anos após a sua morte, através da rede social Twitter.
A Virtude do Livro: Autobibliografia e Metaficção em O Que Fazem Mulheres, de Camilo Castelo Branco
Um breve estudo acerca do caráter metaliterário da obra O Que Fazem Mulheres, escrita por Camilo Castelo Branco em 1858.
Os Desencontros da Comunicação Institucional: Futebol, Editoras e Filosofia
Um artigo sobre uma polémica recente envolvendo um manual de filosofia do 10º ano, onde ninguém se entende: os dirigentes do futebol e as associações cívicas, as editoras, e os professores. Tudo intermediado pela pouco esclarecedora comunicação social.
Recuperamos ainda dois artigos: um excelente ensaio de Fátima Pinheiro sobre a vitalidade filosófica das Confissões de S. Agostinho, que se vê não só pela forma como tem provocado e alimentado a obra de inúmeros pensadores, como também pela profundidade reflexiva e espiritual que a determina e conforma; e, ainda, num intervalo completamente diferente — mas com algumas preocupações semelhantes quanto ao papel da linguagem — uma crítica à obra Pra Cima de Puta, da muito conhecida apresentadora de televisão Cristina Ferreira, da autoria de João N. S. Almeida.
Três avisos
Nos últimos tempos, mais um exemplo de uma incauta ideia activista contemporânea: colar as mãos a molduras ou vidros que revistam famosas obras de arte, em museus. É importante notar que os jovens que o fizeram há duas semanas com a pintura “Primavera”, de Sandro Botticelli, circa 1470-1480, verificaram que a mesma estava coberta por um vidro protetor e que não iriam
danificar a obra original. Mesmo assim, o comportamento é perturbante, particularmente por envolver obras de arte, e um destes dias poderá ser facilmente replicado por alguém disposto a danificar a própria obra. Estes não são bons exemplos para ninguém. Artigo no The Guardian.
Chamámos a atenção para um fenómeno que parece contemporâneo mas não é: trata-se do insulto barato e da utilização de termos que, em essência, não têm conteúdo pejorativo, para, através da sua redução à vulgaridade, atacar um adversário. Actualmente, podemos contar no léxico comum com “neo-liberal”, “comuna”, “fascista”/“facho”, o sufixo “(…)-fóbico”, etc; um pouco mais atrás no tempo, tínhamos “reaccionário” (possivelmente advindo de pessoas que objectavam contra a lei newtoniana da acção-reacção), e também “situacionista”, etc. Mais atrás ainda, whiggish (na Grã-Bretanha), “conservador”, “jacobino” e, claro, “medieval”! A propósito de toda esta tolice, quisemos lembrar a sátira de Samuel Beckett na peça À espera de Godot, em que para determinadas personagens envoltas numa disputa verbal o pior insulto que poderiam usar era “ARQUITECTO!” (e essa graça, apesar de pertencer ao absurdo, tem a sua origem histórica, que podem conhecer aqui). Cremos que é muito equivalente ao insulto barato das expressões que enunciámos, algumas que fazem parte do nosso quotidiano, e agradecemos ao professor António M. Feijó por nos ter apontado isto.
Desejamos, é claro, a todos os arquitectos, neo-liberais, fascistas, comunistas, fóbicos em geral, reaccionários, situacionistas, whigs, conservadores, jacobinos e medievais (inclusive aos medievalistas) um excelente resto de mês de Agosto, como não podia deixar de ser! Na imagem, um roteiro da peça anotado por Beckett com o elenco dos insultos.
Para quem segue a política norte-americana, uma referência orientadora para o que se passa no resto do mundo, principalmente no mundo das democracias liberais parlamentares e representativas em que vivemos, tem-se tornado cada vez mais difícil obter conteúdo noticioso que não tenha significativo viés político. É bem sabido que a Fox News pende para o lado republicano, mas talvez não seja tão comum entre europeus saber-se que a CNN passou, de há uns anos para cá, a pender para o lado democrata de um modo tão polarizado como a Fox. O que resta, então? Pouca coisa. Apresentamos duas referências sobre este assunto: na imagem, uma disposição ideológica dos órgãos de comunicação norte- americanos do site AllSides, que curiosamente realiza comparações diárias entre as manchetes que órgãos de esquerda, de direita e de centro fazem da mesma notícia. Recomendamos também o fabuloso agregador de notícias Real Clear Politics, que faz um trabalho fantástico ao ir buscar conteúdos a todos os lados. Talvez um destes dias uma entidade semelhante venha a ter lugar no panorama português.
Dois Tópicos Exóticos
Um encantador e muito bem escrito artigo do Financial Times sobre ética e estética no uso de camisas reveladoras por homens, começando por Emmanuel Macron, passando por Sean Connery e chegando aos vestuários vanguardistas de Harry Styles e David Bowie. É uma refrescante variação da preocupação com a moral do decote feminino. E um artigo da revista The Critic sobre a arte de fingir que se leram livros, que pode dar jeito a muitos guerrilheiros da intelectualidade urbana — seja por razões de vaidade própria ou para contrabalançarem a vaidade de terceiros.
Quotidiano e Arquétipos
Primeiro, um tópico visual do qual todos somos próximos; é possível que seja um tema mais ligado à contemporaneidade e não tanto universal, dado que está muito relacionado com o tempo livre. O fotógrafo Martin Parr retratou-o, em 1993, no mesmo ambiente onde todos nós observamos o fenómeno: restaurantes e sítios públicos de convivência. Trata-se de “casais aborrecidos”. Não devemos, no entanto, pensar que tais casais estão infelizes: podem estar simplesmente habituados à passagem do tempo, ao contrário da maior parte das pessoas que acham que a felicidade é estar sempre ocupado.Outros trabalhos do autor, muito
dedicados ao quotidiano, podem ser encontrados aqui. Depois, um atempado artigo da revista Areo descrevendo paralelos entre a mitologia contemporânea do mundo dos super heróis e fontes antigas como os heróis gregos, a literatura romântica, etc. É uma boa leitura.
Três Sugestões Literárias
Partilhámos também uma leitura muito leve mas de um legado histórico enorme: o pai de todos os livros de auto-ajuda da idade contemporânea, o famosíssimo How to Win Friends and Influence People, do auto-didacta, ex-vendedor, conferencista, professor e autor Dale Carnegie. Com certeza que versões desse título estarão na cabeça de muitos de nós: aquele que era basicamente um curso de marketing social de raiz amadora foi importante para personagens tão díspares como Warren Buffett e Charles Manson, além de ter sido inaugural da até agora inesgotável tradição da auto-ajuda e do melhoramento individual secular.
Sugerimos também uma edição que tenta fazer o ponto do estado-da-arte entre filosofia e neurociência. Os ensaios reunidos parecem avançar que a ciência do cérebro está ainda muito distante de articular minimamente como o órgão funciona e ainda mais longe de entender como as funções cerebrais se relacionam entre si. A recensão da Notre Dame Philosophical Review pode ser lida aqui.
Partilhamos por fim um encantador livro ilustrado sobre várias espécies de seres vivos que terão existido no planeta mas ficado entretanto extintas.
Agradecemos também as submissões que nos têm feito chegar. Aceitamos muitos e variados temas, mas podem consultar uma lista de sugestões de tópicos para ensaios aqui. Desejamos um excelente resto de mês de Agosto a todos, com muito descanso e preparação para mais um ano de grande actividade. Até breve!
Imagem da deusa Minerva gravada em anel de ouro, Séc. I, autor desconhecido, Museu Paul Getty.
Revista Minerva Universitária
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