As desvantagens de Estar na Moda ser Homossexual

Entre “marginais” e “animais de estimação”, queremos hoje desempoeiradamente escrever sobre as desvantagens que pode representar o estatuto presente de estar na moda ser-se homossexual ou qualquer outra identidade ou prática sexual minoritária, alternativa, não conforme a maioria demográfica ou os ditames da cultura dominante.

Por oposição às vantagens, muitas vezes mais evidentes, começamos por elencar uma das principais desvantagens, da qual possivelmente muitas existem de forma paralela ou derivada: estar na moda implica maior conformidade a um estereótipo de comportamento, social, político, ideológico, filosófico, etc. — ser-se homossexual de certa maneira mas não de outra — e assim resultando em existir menos liberdade e fluidez de forma concreta do ser, inviabilizando em particular as formas de expressões que o vulgo entenda como paradoxais — ser homossexual mas não gostar de homossexuais, ser homossexual mas também conservador, nacionalista e/ou católico. A ortodoxia e a identidade monolítica não corresponde à verdade das disposições individuais, pois as pessoas gays são tão diferentes entre si como qualquer outro grupo social, étnico, religioso etc. Existem pessoas de olhos azuis de todos os tipos, tal como existem pessoas gays de todos os tipos. Como Tolstoi bem apontou, não existe “a opinião católica”, “a opinião conservadora”, “a opinião comunista”, anarquista, libertária, o que for: existe uma miríade de opiniões católicas, comunistas, conservadoras, e também gays. É muito duvidoso que a existência de várias pessoas com um atributo em comum, o da atracção sexual, constitua uma unidade cultural sólida ou sequer uma comunidade coesa.

Esta padronização é intensificada com a atenção especial que “estar na moda“ convoca, ao contrário da desatenção e desinteresse que o estatuto de marginal exótico e desconhecido proporciona.De certo modo, estar na moda tolhe de certo modo a liberdade e a originalidade do ser-se marginal: estar na moda fixa a ortodoxia, e a clandestinidade pode ser mais libertadora: a sociedade não fazia regras tão tácitas e explícitas sobre o que um homossexual tem de ser ou pensar — as pessoas que não nos querem ver nem pintados dão-nos mais liberdade do que as pessoas que nos adoptam como se fossemos animaizinhos de estimação. Uma prisão pode ser maior que a outra e vice-versa, conquanto interfiram na liberdade do indivíduo, sendo que no primeiro caso poderia envolver o perigo da subtracção total da mesma e no segundo formas mais complexas de modelação dessas expressões conforme a norma socialmente admissível. Não deixa de ser verdade que uma sociedade em que a homossexualidade esteja até mesmo legislativamente interdita é uma sociedade completamente desvantajosa; mas, na contemporaneidade, a fixação com “identidades”, aliás já sujeitas a protecções até mesmo constitucionais, pode ser uma forma muito retorcida de forçar padrões.

Em conclusão, nem todos os gays são iguais, não existem opiniões políticas, hábitos culturais, crenças religiosas ou filosóficas comuns a todas as pessoas homossexuais.  Por último, deixamos aqui a recomendação de uma obra bibliográfica de fotografia, Loving: A Photographic History of Men in Love, 1850s-1950s, de… capa dura!, um extraordinário volume de pessoas comuns do sexo masculino com representação apaixonada, e o documentário, em tudo muito semelhante, 100 Years of Men in Love: The Accidental Collection, disponível na Amazon e noutras plataformas, com o material de dois coleccionadores exactamente sobre o mesmo tópico. Saudações a todos e bom resto de semana!