Não há machado que corte a raiz ao desalento?

Dizem que a realidade está fragmentada. Falam até de uma espécie de caos, provocado por ocultos engenheiros nas academias, nos tribunais e nos serviços públicos. O que sabemos, é que entre a sinistra entrincheirada e a destreza desmembrada, novos petizes emergem na nossa vida social e política. 

Novos petizes que prometem devoção e amor eterno aos seus líderes, são fiéis e dedicados, porém não suportam a traição, a frustração e a angústia, sempre que a sua relação dual é ameaçada. 

São garotos impulsivos, dotados de estranhos sentimentos ambivalentes. Por vezes, amam a liberdade e soltam as suas pulsões interiores, quase obscenas, num inebriante grito de glória patriótica. Outras vezes, reprimem os sentimentos mais lascivos e caem numa nostálgica santidade decrépita.

Vivem correlativamente, entre o desejo de trair o líder e encantar o manhoso, ou amar o chefe e decepar o subordinado.

Eles não fazem planos a longo prazo. Vivem o presente e querem soluções imediatas. Fomentam e alimentam teorias da conspiração, porque as fabulações e as fantasias são fontes de prazer libidinal, bem mais excitantes do que a realidade enfadonha.

Entre os gaiatos impulsivos e a triste realidade política e social, em que Portugal está mergulhado, eis que surgem os destros desmembrados para desanimar a nossa vida coletiva. Tentando a reconciliação com os mortos, prestam culto às memórias do passado. Fazem discursos acabrunhados e pouco convincentes. Não mobilizam afetos nem despertam pulsões. Estão conformados, inférteis e moribundos.

Surgem também os sinistros salvadores e obreiros das democracias, sua propriedade por direitos históricos adquiridos. Eternas promessas, eleições, conciliações, coligações frustradas, em movimento perpétuo, rumo à desgraça coletiva, que se auto regenera sempre que o abutre aparece para comer as vísceras.

Perante este malogrado cenário, será que estamos fatalmente condenados ao pesado, frio e dilacerante machado para cortar a raiz ao desalento?