Originalmente publicado em jazz.pt, aqui e aqui.
The excellence of every Art is its intensity, capable of making all disagreeables evaporate from their being in close relationship
with Beauty & Truth […].
John Keats
A 22 de dezembro de 1818, Keats escreve uma carta aos irmãos George e Tom. Aí, traça um elogio à «Negative Capability» de Shakespeare, isto é, à virtude de um grande poeta que, envolto em incertezas, dúvidas e mistérios, consegue ver a Beleza e, a partir dessa visão, fazer com que todos os desagradáveis se dissipem. Ora, numa ligeira torção, considero que a música editada pela Nonesuch Records tem este atributo raro, aspecto desde logo grafado na designação nominal, que aponta para a atualidade do arcaísmo da perfeição, que quer dizer “acabado”, e da excelência de algo, neste caso, da música.
Fundada em 1964 por Jac Holzman (1931), também fundador e diretor executivo da Elektra Records1, a label americana Nonesuch surgiu inicialmente como uma editora clássica, cujo fito seria o de conquistar auditores mais jovens e com menos poder de compra. O feito foi conseguido, dado Holzman ter reduzido para metade o preço dos discos, gesto inspirado nas pequenas edições de bolso da literatura clássica, tal como afirmado pelo fundador na página oficial da editora.
No dealbar desta aventura, Holzman optou por não fazer encomendas, à exceção das que solicitou ao compositor modernista Charles Ives (1874‑1954), o que o levou a apostar na licença de álbuns de pequenas editoras europeias, reembalando-os, de forma elegante e cativante, para o jovem público americano. Neste âmbito, o catálogo da editora apresenta obras de músicos clássicos marcantes, como Stephen Foster, compositor americano do século XIX, e Scott Joplin (1868-1917), compositor e pianista americano. Aliás, ainda nesta linha clássica, é de ressaltar a contribuição histórica da editora com a série intitulada George e Ira Gershwin Library of Congress series.
Fruto deste gesto editorial inovador, a robustez financeira da Nonesuch não só concedeu à Elektra Records algum desafogo para continuar com as suas edições de música pop, como também possibilitou a assinatura de contratos com bandas marcantes, como The Doors e Love, e artistas como Judy Collins (1939), Tom Paxton (1937), Tom Rush (1941), com a canção “These Days”, profusamente conhecida após a interpretação de Nico em “Chelsea Girl”, Tim Buckley (1947‑1975), entre outros. Desde os seus gestos iniciais, a assinatura da editora, em estreita relação com a Elektra, primou pela intensidade qualitativa ao misturar edições clássicas e modernas. No entanto, a Elektra acabou por ser vendida por Holzman à Warner Communications, em 1970.
No mesmo ano, e na vanguarda da edição, a Nonesuch edita o álbum “Computer Music” [H-71245], com trabalhos pioneiros de J.K. Randall (1929‑2014), na altura membro do Departamento de Música da Princeton University, Barry Vercoe (1937), autor do MUSIC 360 programming language, e Charles Dodge (1942), à altura, professor dos Departamentos de Música da Columbia University e da Princeton University e investigador em computer sound synthesis no IBM Thomas J. Watson Research Centre. Os trabalhos foram realizados no Computer Centres of Columbia & Princeton Universities.
Nesta medida, a missão editorial da Nonesuch tornou-se cada vez mais eclética, acolhendo no seu vasto catálogo música contemporânea, jazz, teatro musical, música popular americana e do mundo. Dando azo a esta expansão, a editora contempla no seu catálogo trabalhos do artista de teatro musical americano Stephen Sondheim (1930-2021) e do autor de musicais Adam Guettel (1964). A par disto, o fundador e a sua equipa iniciaram uma estreita colaboração com o New York City Ballet e The George Balanchine Trust, tendo também assumido a gravação sonora de programas de televisão (e.g.: “The Civil War”, “Angels in America”, “The Wire”) e de filmes (e.g.: “Powaqqatsi”, “Wings of Desire”, “Requiem for a Dream”, “Kundun”, “The Hours”, “The Thin Blue Line”, “There Will Be Blood”, “Sweeney Todd”, “Revolutionary Road”, “I Am Love”, “True Grit”, “Norwegian Wood”, “Inside Llewyn Davis”, “Boyhood”). Este espectro de ação amplo traduziu-se numa profícua colaboração com um leque diverso de compositores que trabalhavam para a indústria fílmica e não só, como Georges Delerue (1925-1992), Alex North (1910-1991), Toru Takemitsu (1930‑1996), Leonard Rosenman (1924-2008), entre outros.
Em 2004, depois de quarenta anos de edições em nome da perfeição musical, a Nonesuch foi congratulada com Grammys em quatro géneros musicais diferentes, a saber: melhor álbum clássico e melhor composição clássica contemporânea atribuídos a John Adams; melhor álbum alternativo concedido à banda de rock alternativo Wilco; melhor álbum de música mundial atribuído ao músico senegalês Youssou N’Dour (1959) e o Best Contemporary Jazz Album dado ao “Unspeakable” [79828-2] de Bill Frisell (1951).
Em 2024, ano em que a editora celebra sessenta anos de existência, pode-se acrescentar que a justa celebração da perfeição musical perseguida pela Nonesuch apresenta, retrospetivamente, duas frentes de estabilidade: por um lado, um catálogo forte e eclético; por outro, uma liderança editorial vigorosa, que se deveu, primeiramente, a duas figuras proeminentes. A primeira, Tracey Sterne (1927-2000), pianista prodigiosa2 e uma das primeiras mulheres a assumir as funções de editora musical, trabalhou inicialmente na Vanguard Records. O lema de Sterne assentava na procura de altos padrões de qualidade editorial, aspecto reforçado pelo seu perfil pioneiro, que conciliava um certo grau de brilhantismo no contato com os artistas e uma espécie de obstinação intransigente ao defender, com paixão, a música editada.
Seguindo as pegadas de Holzman, Sterne começa a construir a sua lista de artistas e a procurar talentos nos círculos da música clássica e contemporânea. Este gesto editorial de risco comportou uma boa receção crítica. Um dos exemplos de risco editorial terá sido a produção do álbum «Ancient Voices of Children» [H-71255] do compositor George Crumb, saído em 1971, e que congregou um conjunto de composições inspirado nos poemas de Federico Garcia Lorca. No entanto, o álbum chegou aos escaparates e vendeu mais de 70.000 unidades.
Durante o reinado de Sterne, a editora iniciou uma série audaz dedicada à world music, intitulada “Explorer Series”3, que contemplava a gravação e a edição de música indígena de todo o mundo, a partir das gravações de campo realizadas por David Lewiston (1929-2017), o «‘musical tourist’ who brought old sounds to new ears», como fixado por Anastasia Tsioulcas na National Public Radio, e produzidas por Peter Siegel. Sterne acarinhou esta série e não a considerou apenas uma produção antropológica, defendendo-a com o mesmo rigor e empenho, com que apostara em outras edições da Nonesuch Records.
Estas duas marcas inelutáveis de Sterne no catálogo da Nonesuch, permitiram à editora congregar um leque de artistas mundiais de alta qualidade, como o bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla e, no futuro, o compositor, cantor, escritor e produtor brasileiro Caetano Veloso, o músico Youssou N’Dour, entre tantos outros. Porém, em dezembro de 1979, Joe Smith despede, inesperada e subitamente, Sterne que, embora surpreendida, não deixou de especular sobre a razão do seu despedimento se prender com a descida das vendas. A demissão de Sterne ergueu protestos fortes no seio da comunidade artística, tendo sido assinada uma petição recebida pelo New York Times com mais de 2000 nomes.
O legado de Sterne teve discípulos e, a título de curiosidade, Joshua Rifkin (1944), professor de música na Universidade de Boston, maestro, pianista e musicólogo americano que trabalhou com Sterne, interpretou “Scott Joplin Piano Rags I, II, III” [HB-71248, H-71264 e H‑71305], álbum saído a lume em 1970, 1972, 1974, respetivamente. Este gesto editorial provocou um renascimento do jazz ragtime, dado ter sido o primeiro álbum a atingir um milhão de vendas.
Depois da saída de Sterne, e durante quatro anos, a direção da Nonesuch ficou a cargo de Keith Holzman, irmão mais novo do fundador, com sede em Los Angeles. Em 1984, depois da saída de Keith Holzman, surge a segunda figura capital da editora: Bob Hurwitz (1949) que, desde 1975 até 1984, foi o rosto da direção americana da ECM e que trabalhará ativamente na Nonesuch até 2017.
Hurwitz continuará a apostar na expansão editorial, sob o signo da perfeição, e, sobretudo, no selo de jazz da Nonesuch Records. Pianista, criado no seio de uma família interessada nos novos tipos de música, chegou a Nova Iorque aos 21 anos, determinado a ser músico ou a trabalhar no mundo fonográfico. O seu primeiro contrato foi com a Columbia Records, enquanto redator publicitário. Neste ambiente auspicioso e entusiasmante conheceu Karin Berg, Manfred Eicher, John Hammond e Goddard Lieberson, figuras significativas na cena musical. A par desta teia de conhecimentos, Hurwitz também estabeleceu relações estreitas com músicos de jazz que acabariam por fazer parte do catálogo da Nonesuch. Com carte blanche por parte de Bob Krasnow (1934-2016), fundador da Blue Thumb Records e, à altura, presidente da Elektra Records, oiça-se o testemunho de Hurwitz acerca da sua chegada à Nonesuch:
The first two years were incredibly fertile. We were able to sign Steve Reich and John Adams, and start working with Philip Glass, Kronos Quartet, and John Zorn. It was a time when most of the classical divisions of major labels were asleep. They were so busy devising genre “crossover” projects and re-issuing catalogue on CD, still a new technology at that time, that few people were doing anything from an A&R point of view.
A partir de 1984, a Nonesuch focou o interesse editorial na música jazz. Em 1985, edita “Desert Music” [79101-2] de Steve Reich; “Harmonielehre” [79115-2] de John Adams e o álbum début “Sergio e Odair Assad. Music for two guitars by Astor Piazzolla, Leo Brouwer, Hermeto Pascoal, Radamés Gnattali, Sergio Assad e Alberto Ginastera” [79116]. Um ano depois, sai o álbum inaugural “Kronos Quartet” [79111-2], com a mítica interpretação de “Purple Haze”, composição de Jimi Hendrix que fecha o álbum, e “World Saxophone Quartet Plays Duke Ellington” [979137-1]. Em 1987, sai a lume “Spillane” [9 79172-1] de John Zorn.
Abre-se, assim, um reinado novo e prolífero que abarca a contratação de músicos independentes, como acontece com Reich e Zorn que, na altura, assinaram contrato de exclusividade com a editora, que ainda hoje se mantém. Do catálogo arcaico da Nonesuch permaneceram o pianista clássico Richard Goode (1943), conhecido pelas suas interpretações de Mozart e Beethoven, e a soprano canadiana Teresa Stratas (1938). Mas note-se que esta lufada vibrátil e inovadora que Hurwitz trouxe à Nonesuch, ao reforçar a continuidade entre a música clássica e as produções de índole mais contemporânea, se encontra, ainda, em perfeita consonância com o espírito audaz de Sterne, cujo lema apontava para a atualidade arcaica da perfeição.
Porém, apesar desta afinidade atmosférica, Hurwitz estava ciente do conflito entre a sua sensibilidade e a de Sterne, que apostara numa linha mais cerebral de influência europeia. Assim sendo, Hurwitz, sem minorar as criações de compositores de música clássica contemporânea, como os compositores George Perle (1915-2009) e Leon Kirchner (1919-2009), defendia a divulgação, produção e edição de músicos independentes mais próximos da sua geração, aspecto que não deixou de salientar, nestes termos: «I think it’s a wonderful irony because the recording of new music is possibly the least commercially viable aspect of anything one can do in the record business. But all of our initial successes came out of that area.»
O instinto do produtor foi certeiro: os três primeiros álbuns de Kronos Quartet venderam cerca de 100 mil cópias, um resultado inédito para o quarteto de cordas inovador; o quinto álbum do mesmo quarteto, “Pieces of Africa” [79275-2], lançado em 1992, vendeu cerca de 400.000 cópias e apareceu como número um da Billboard. Lembre-se, igualmente, que as criações da autoria de Philip Glass, “Mishima” [979113-1] de 1985 e “Powaqqatsi” [7559-79192-2] de 1988, venderam mais de 100.000 exemplares, tal como aconteceu com o álbum “Different Trains / Electric Counterpoint” [9 79176-2], datado de 1989, de Steve Reich e do Kronos Quartet. No entanto, o álbum “Symphony No. 3” [7559-79282-2] da autoria do compositor polaco Henryk Górecki (1933-2010), uma obra minimalista dedicada ao povo polaco, vítima das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, foi um dos álbuns de eleição da música contemporânea, por parte dos auditores. A peça foi composta em 1976, mas só foi editada em 1992.
A orientação visionária de Hurwitz contribuiu para a construção de um catálogo cada vez mais amplo e eclético, que incluía artistas e compositores de jazz da cena musical de Nova Iorque, como John Zorn e Wayne Horvitz, e uma longa e produtiva colaboração editorial com o guitarrista Bill Frisell. Sob a chancela da Nonesuch, surgiram mais edições do World Saxophone Quartet e também de Zorn, a saber: “The Big Gundown. John Zorn plays the music of Ennio Morricone” [9 79139-1 F], datado de 1986, e “Naked City” [9 79238-2], de 1990. Todavia, a grande viragem editorial promovida por Hurwitz foi a oportunidade de trabalhar com Caetano Veloso. Com efeito, Hurwitz afirma que a contratação do cantor e compositor brasileiro, membro fundador do movimento subversivo Tropicalismo no final dos anos 60, «turned everything on its head», acrescentando na página oficial da editora:
I inherited a company that was beloved by many for its rich classical music tradition, and suddenly one day there is a genuine pop musician like Caetano. In one respect, he did not fit in any of the criteria that were established for the company, and yet he was artistically on as high a level as anyone performing music at that time. It broke down a wall, and perhaps at that moment, Nonesuch ceased to be ‘a classical label’. Suddenly, so much more was now possible. Years later, hearing Lorraine Hunt Lieberson sing Caetano’s “Tradição” as beautifully as she had sung Bach, Handel, Lieberson, or Adams, my initial instincts were reaffirmed.
A entrada deste artista maior no catálogo da Nonesuch, com o álbum homónimo [846 916-1] de 1986, abriu as represas do futuro: território inexplorado e virgem que, num só rasgo, educou a sensibilidade dos auditores e determinou os acordos editoriais futuros. Em 1987, a Nonesuch lançou uma reedição de “Le Mystère des Voix Bulgares” [E2 79165], uma coleção de performances vocais a cappella de um coro feminino búlgaro, inicialmente gravado por Marcel Cellier em 1975. Em 1989, surge o segundo volume de gravações do mesmo coro vocal feminino búlgaro, vencedor do Grammy Award for the Best Traditional Folk Recording desse ano, que alia a melancolia dos arranjos vocais a uma tonalidade simultaneamente moderna e folk. Logo após este sucesso búlgaro, Hurwitz integra no catálogo os Gipsy Kings, que conquistaram os auditores.
Ainda em 1988, Astor Piazzolla4 lança os seus álbuns, sob a chancela da Nonesuch Records. A presença incandescente do mestre argentino trouxe centenas de milhares de vendas, sendo exemplo disso a reedição, em 1998, do álbum “Tango: Zero Hour” [79469-2], gravado com The New Tango Quintet e datado inicialmente de 1986. A posteridade de Piazzolla continua a ser celebrada pelos seus pares, a saber: Gidon Kremer (1947), violinista clássico letão, maestro, diretor artístico e fundador da orquestra Kremerata Baltica, edita, sob a égide da Nonesuch, “Hommage à Piazzolla: The Complete Astor Piazzolla Recordings” [7559 79872-6], um box set de oito CD, lançado em 2012, que une a orquestra Kremerata Baltica e The Astor Quartet em torno das obras completas de Piazzolla.
Durante os 47 anos do reinado duplo de Sterne e Hurwitz, a Nonesuch primou pela vanguarda da música clássica contemporânea ao editar nomes como George Crumb (1929-2022), compositor americano de música clássica, Elliott Carter (1908-2012), compositor que se deixou conquistar pela música atonal, William Bolcom (1938), compositor e pianista, John Adams, Steve Reich, Kronos Quartet, Philip Glass, Louis Andriessen, compositor holandês (1939-2021), Frederic Rzewski (1938-2021), co-fundador dos MEV – Musica Elettronica Viva, Henryk Górecki, entre outros.
A existência avança com recuos e abalos e, em 1994, Bob Krasnow (1934-2016), o responsável pela entrada de Hurwitz na Nonesuch, foi despedido. O Warner Music Group decidiu que a editora devia ser transferida para a Warner Music International, que incluía as editoras Teldec e Erato, deixando assim a editora-mãe, Elektra Records. Nesta altura de mudanças turbulentas, Hurwitz conseguiu um feito tremendo: contratar David Bither, anterior gerente da Elektra Records. Bither inicia, assim, os seus trabalhos na Nonesuch como vice‑presidente sénior e, em 2017, torna-se presidente da editora, altura em que Hurwitz assume o cargo de presidente emérito. Após um período de trabalho autónomo e livre, sensivelmente entre 1984 a 1994, Hurwitz trabalhará em conjunto com a segunda voz de A&R na Nonesuch.
Desde o reinado de Sterne que a equipa da Nonesuch era constituída por não mais do que cinco pessoas. Ora, Hurwitz, cônscio da relevância da sua escolha, reuniu-se com 40 pessoas musicalmente qualificadas para tornar transparente a nova contratação. Os dois nomes em cima de mesa eram David Bither e Peter Clancy, diretor de publicidade e de promoção da Philips Records. A escolha pendeu para Clancy, connaisseur de música clássica e com ampla experiência na indústria musical, que assumiu a vice-presidência de marketing. No entanto, Bither, embora sem raízes no ramo fonográfico, continuou a participar nas conversas e campanhas editoriais durante os três primeiros anos de Hurtwitz. A relação de ambos foi bastante profícua e Bither tornou-se, inicialmente, chefe de marketing nacional e, por fim, vice‑presidente sénior e gerente geral.
O primeiro projeto de Bither na Nonesuch foi incluir no catálogo a cantora cabo-verdiana Cesária Évora5 (1941-2011), com o seu álbum homónimo [9 79379-2], datado de 1995, cuja estreia nos EUA vendeu 200.000 cópias, consolidando, mundialmente, a aventura editorial da Nonesuch. Em seguida, fechou contrato com a World Circuit Records, com sede em Londres, gesto editorial que trouxe consigo a edição de Buena Vista Social Club6, uma colaboração que reúne músicos de Cuba e Mali e que inclui, a título exemplar, o guitarrista, violinista e cantor cubano Eliades Ochoa (1946), o músico maliano Bassekou Kouyate (1966), o guitarrista maliano Djelimady Tounkara (1947) e, ainda, Toumani Diabaté (1965-2024), recentemente falecido, mestre da kora, um instrumento com 21 cordas tipicamente africano.
Através da associação da Nonesuch com a World Circuit Records, o catálogo amplia-se e passa a incluir as inesquecíveis gravações do compositor e cantor cubano Ibrahim Ferrer (1927-2005) e do cantor senegalês Cheikh Lô (1955). A par destas fecundas inclusões, o auditor poderá ainda ouvir o cantor e guitarrista maliano Ali Farka Touré (1939-2006), a Orchestra Baobab e AfroCubism, título homónimo do álbum [525993-2] do Buena Vista Social Club que saiu a lume em 2010. A este respeito, depois de Bither seguir atentamente o trabalho do diretor da Circuit Records, Nick Gold, com a jovem cantora e compositora maliana Oumou Sangare (1968), Hurwitz lembra:
With the Oumou Sangare record, Nick had found a completely new way to record African musicians in this very clear style that basically allowed them to be who they were; they seemed, in their own way, as revolutionary as what Manfred had done at ECM in the early years from a production point of view.
Com efeito, Bither afirma ter passado um dia inteiro com o produtor Nick Gold em Nova Iorque. Percebeu, de imediato, que estavam os dois editorialmente alinhados, aspecto reforçado pela partilha das gravações de Ry Cooder (1947), feitas por Nick Gold, e um grupo de músicos cubanos, que tinha acabado de chegar de Cuba. Sobre este encontro auspicioso, Bither declarou: “That was one of those moments of utter good fortune. We actually made the World Circuit deal knowing nothing about the Buena Vista Social Club record.”
Poucos anos depois da sua entrada na Nonesuch, Bither aditou ao catálogo a cantora Emmylou Harris (1947) e outras contratações importantes, tais como as bandas Wilco e The Black Keys, o compositor e músico senegalês Youssou N’Dour (1959); a artista experimental Laurie Anderson7 (1947), que lançou em 2024 “Amelia”8 [075597904665] e recebeu a atribuição do Grammy Lifetime Achievement Award 2024; Sam Phillips, com o seu début álbum, “Fan Dance” [79625-2], datado de 2001, Laura Veirs e o seu “Carbon Glacier” [79854-2], saído em 2004, T-Bone Burnett e o álbum “Tooth of Crime” [450300-2] e Christina Courtin, com o seu álbum homónimo [254652‑2], saído em 2009. Bither foi, igualmente, responsável por ter trazido para a Nonesuch “Smile” [79846-2] de Brian Wilson. Estes gestos editoriais de Bither foram reconhecidos pela editora, que deixa inscrito um tributo ao produtor na sua página oficial:
David’s coming to Nonesuch was an important moment in our company’s history; though we share many things in common in terms of our musical taste, David also brought in a different and highly evolved perspective that was invaluable in terms of our growth and development as a label. We became a much stronger company after he joined Nonesuch’s staff.
“Buena Vista Social Club” [79478-2], “Afro-Cuban All‑Stars. A Toda Cuba Le Gusta” [79476-2] e “Introducing Rubén González” [79477-2] são os títulos dos três álbuns inaugurais do Buena Vista. Estas edições, lançadas em 1997, agitaram as águas editoriais e tornaram-se o início de uma história marcante sobre música, arte e política. Clancy promoveu os lançamentos com requinte e sofisticação em revistas, rádios e jornais. Hurwitz, Bither e Clancy voaram, entretanto, para os Países-Baixos para assistir ao concerto que Ry Cooder organizara com os músicos cubanos. Depois do concerto, decidiram que a Nonesuch levaria o show ao Carnegie Hall.
Em julho de 1998, o concerto no Carnegie Hall foi capturado pelo olhar atento do realizador Wim Wenders, um ponto de ignição para a realização do documentário-musical, intitulado “Buena Vista Social Club”, que estreou em 1999 e que ganhou o melhor documentário no European Film Awards em 2000. O mote deste imperdível documentário parte da história «of an American musician [Ry Cooder] who went searching for the sounds of an island and discovered the soul of a people». Note-se que, por oposição à maioria dos álbuns que conhece o seu pico de vendas nas primeiras semanas da sua aparição, o álbum homónimo de Buena Vista Social Club atingiu vendas sólidas no primeiro ano e ainda mais consistentes nos anos subsequentes. Além deste elemento financeiro sadio, esta ação editorial gerou uma série de projetos, que incluiu vários músicos oriundos das sessões matriciais em Havana. Na verdade, estes encontros auspiciosos e ecléticos, coroados pelas edições da Nonesuch, tornaram-se um compromisso contínuo de qualidade, aspecto que honra a atualidade dos arcaísmos e excede qualquer estratégia de marketing, mas oiça-se o que diz Hurwitz na página oficial da editora:
One of the things I brought from my ECM days was the idea that you cannot second-guess the public in terms of what it might like; the experience of seeing Keith Jarrett selling millions of copies of a record of solo improvised piano music demonstrated to me that there are far more people interested in adventurous music than we can imagine. When I heard the finished tapes of Górecki and Buena Vista, I thought, ‘Great records, maybe we’ll sell 50,000.’ We could have never expected either of the albums to sell in the millions. I give much of the credit to a very sophisticated public that has the hunger for new and unusual music that touches them deeply. That said, Peter Clancy found a way to harness that public excitement in a way that I think is unprecedented in our business; rather than follow the playbook of pop or jazz or classical companies, which would have been the obvious thing to do, Peter found a way to do it that was never condescending, and always full of imagination.
Ao longo dos anos, a saúde financeira da Nonesuch Records mantém-se robusta e há uma aposta cuidada em novos membros para preencher os cargos que Hurwitz, Bither e Clancy ocupavam, como Karina Beznicki, que assumiu a vice-presidência da produção, cargo que ainda hoje ocupa, acompanhando todos os aspectos de produção e design dos álbuns. No entanto, a Nonesuch não deixou de colaborar com freelancers, engenheiros de som, diretores artísticos, designers, escritores, fotógrafos e publicitários que contribuíram, de igual modo, para a alta qualidade das peças e dos produtos que coroam o seu catálogo. Este sinal de abertura, um outro atributo basilar da Nonesuch, também pode ser encontrado nas relações colaborativas que a editora mantém com os artistas, desde a década de 80, como acontece, por exemplo, com a edição do box set no septuagésimo aniversário do Steve Reich, intitulado “Phases: A Nonesuch Retrospective” [7559-79962-2]; a peça “WTC 9/11” [528236-2] escrita por Reich para o Kronos Quartet, que saiu a lume em 2011; o 5-CD box set, intitulado “One Earth, One People, One Love: Kronos Plays Terry Riley” [7559-79513-1; 7559-79217-2; 7559-79639-2; 7559-79959-8 e 7559-79503-6], que celebra o octogésimo aniversário do compositor minimalista Terry Riley e que apareceu nos escaparates, em 2015, com um booklet de quarenta oito páginas; a composição do álbum “Scheherazade.2” [557170-2] de John Adams, datado de 2016, entre tantos outros artistas e compositores fiéis à qualidade do selo.
Em 2002, a Nonesuch lançou uma coleção de sete CD, intitulada “Rzewski Plays Rzewski: Piano Works. 1975-19” [79623-2] com obras para piano de Frederic Rzewski (1938-2021), compositor, pianista e cofundador do grupo de improvisação eletroacústica Musica Elettronica Viva [MEV], formado em Roma em 1966 e ativo até 2017, que seguiu as lições extraordinárias de Tudor e Cage. Esta coleção inclui as peças icónicas “The People United Will Never Be Defeated!” e “De Profundis”. No entanto, a obra para piano mais reconhecida da sua lavra, fruto também da sua duração (aprox. 8 horas), intitula-se “The Road”.
A Nonesuch continua a apostar em edições de música contemporânea, sem obliterar os artistas clássicos. Nesta linha, em 2005, sai a lume “Dimanche à Bamako” [79912-2] do casal maliano Amadou & Mariam, álbum produzido por Manu Chao. Em 2008, o pianista e compositor Fernando Otero (1952) lança o seu début álbum, intitulado “Pagina de Buenos Aires” [257084‑2], classificado com quatro estrelas pelo The Guardian (UK). Ainda no mesmo ano, a soprano Isabel Bayrakdarian (1974) edita “Gomidas Songs” [N 511487-2], um tributo ao compositor arménio Gomidas Vardabet (1869‑1935).
Nos anos anteriores, a editora apostara, igualmente, na edição de dois álbuns da mezzo‑soprano Lorraine Hunt Lieberson (1954‑2006), a saber: “Bach Cantatas, BWV 82 and 199” [79692-2] e “Neruda Songs” [79954-2], uma composição de Peter Lieberson inspirada nos poemas de Pablo Neruda e dedicada à sua mulher. Em 2009, surge no catálogo da editora “a/rhythmia” [467708-2], o début álbum do Alarm Will Sound, Contemporary Chamber Ensemble. No ano seguinte, é lançado “Shy and Mighty” [522413-2], álbum de estreia do compositor e pianista Timothy Andres (1985) e, em 2013, “Home Stretch” [534416-2], da autoria do mesmo artista, embora com assinatura de Timo Andres.
De facto, a colaboração de grande fôlego com a World Circuit trouxe um leque de artistas internacionais que expandiu, uma vez mais, o catálogo da editora, tais como: o duo Ali Fark Touré (guitarra) e Toumani Diabaté (kora), com a saída a lume do “In the Heart of the Moon” [79920-2] em 2005; o músico senegalês Cheikh Lô (1955) e o seu álbum “Lamps Fall” [79938-2], saído em 2006; o músico maliano Toumani Diabaté, com o álbum “The Mandé Variations” [433724-2/WCD079], datado de 2008; e, entre outros, o álbum “Made in Dakar” [433788-2] da Orchestra Baobab, datado de 2007. Em 2014, a Nonesuch edita o álbum de Bossa Nova, intitulado “Abraçaço” [541364-2] de Caetano Veloso, que ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum, lançado inicialmente em 2012, sob a chancela da Universal Music. Em 2016, sai a lume “Né So” [553578-2] da cantora, compositora e multi‑instrumentista maliana Rokia Traoré (1974), álbum produzido por John Parish, PJ Harvey e Tracy Chapman. O álbum contempla dez canções originais e uma versão de “Strange Fruit” de Billie Holiday.
O ecletismo do catálogo inclui, igualmente, edições de revivals da Broadway, como “The Light in the Piazza” [79829-2], saído em 2005, com música e letras de Adam Guettel (1964), inspirado na obra de Craig Lucas; “Sweeney Todd and Company” [368572-2], soundtrack do filme de Tim Burton, primeiramente editado em 2007 e “A Little Night Music” [523488-2], inspirado no filme “Smiles of a Summer Night” de Ingmar Bergman, duas criações de Stephen Sondheim (1930-2021).
A par disto, é também possível encontrar edições da dupla de rock The Black Keys (e.g.: “Magic Potion”); o álbum de estreia (e.g.: “Yours, Dreamily”) da banda The Arcs fundada por Dan Auerbach, guitarrista e vocalista da banda The Black Keys; quatro álbuns de estúdio da banda de rock alternativo de Chicago, Wilco (e.g.: “Yankee Hotel Foxtrot”); o álbum de cinco CD, “50 Song Memoir” [558154-1] da banda Magnetic Fields, saído em 2017; o álbum “Punch” [181732-2] da banda Punch Brothers, lançado em 2008, com o exímio bandolinista Chris Thile (1981). Em 2013, sai a lume “Bright Sunny South” [530858-2], uma recriação de música folk da autoria do multi‑instrumentista e cantor Sam Amidon (1981) que, em 2014, edita “Lily‑O” [543642-2]. Outra adição inovadora ao catálogo eclético é “Genuine Negro Jig” [516995-2], álbum vencedor de um Grammy em 2010 da Carolina Chocolate Drops, uma banda de cordas afro-americana, que mistura country, blues e música antiga. Em 2015, nomeado para Grammy de Melhor Álbum Folk, surge nos escaparates “Tomorrow is my Turn” [541708-2] de Rhiannon Giddens (1977).
O catálogo da Nonesuch também inclui artistas pop, country e folk, como Emmylou Harris e o álbum “Red Dirt Girl” [79616-2] lançado em 2ooo; a colaboração de Mark Knopfler e Emmylou Harris em “All the Roadrunning” [44154-2], álbum datado de 2006; a colaboração de Rodney Crowell e Emmylou Harris em “The Traveling Kind” [548243-2], edição de 2015 agraciada com o Duo/Group of the Year Award pela Americana Music Association Honours & Awards; o box set de Randy Newman, intitulado “Roll with the Punches (The Studio Albums 1979-2017)” [075597928105], saído em julho de 2021, que contempla sete álbuns de estúdio (“Born Again”, “Trouble in Paradise”, “Land of Dreams”, “Faust”, “Bad Love”, “Harps and Angels” e “Dark Matter”), capas originais dos discos, letras e demos de “Faust”; “California Trilogy” de Ry Cooder, que se inicia, em 2005, com o lançamento de “Chávez Ravine” [79877-2], seguido de “My Name is Buddy” [79961-2], editado em 2007, e “I, Flathead. The songs of Kash Buk and the Klowns” [465916-2], álbum que fecha a trilogia, datado de 2008; o “Travelogue” [79817-2] de Joni Mitchell, datado de 2002, e, ainda, “A Tribute to Joni Mitchell” [122620-2], saído em 2007, que contém colaborações de Annie Lennox, Björk, Caetano Veloso, Elvis Costello, Brad Mehldau, Prince, entre outros.
A intensidade de todas estas combinações artísticas torna o catálogo da Nonesuch uma unidade variável, tal como firmado por Ed Siegel, crítico do Boston Globe, assim:
There is a sensibility that unites them, one in which all these musical categories dissolve into… a musical world where boundaries between genres stretch and snap. Where [violinist] Gidon Kremer can go to new places with John Adams and then make a heartfelt case for tango master Astor Piazzolla as he has on a pair of CDs. Or a Dawn Upshaw can move so effortlessly from singing with Richard Goode to collaborating with Mandy Patinkin.
Desde os seus primórdios que a editora se encontra aliada ao Warner Music Group. Passados dez anos, sob a égide da Elektra, a editora é acolhida, durante oito anos, pelo Warner Music International e três anos pela Atlântica até chegar à sua casa atual, Warner Bros.
Em setembro de 2016, Kris Chen assume o cargo de vice-presidente sénior da Nonesuch e, lamentavelmente, com a chegada da editora à Warner Bros, dá-se o encerramento da linha de jazz, ainda que a abertura às edições da cena jazzística se mantenha ativa. Prova disso, e a título exemplar, são as críticas de António Branco a “Come What May” [585291-2] do Joshua Redman Quartet, saída em junho de 2019 na jazz.pt, e de Sofia Rajado a dois álbuns da guitarrista de jazz americana Mary Halvorson, em dezembro de 2022 na jazz.pt, e ainda a edição de “Ghost Song” [075597914672], datado de 2022, um “álbum notabilíssimo” de Cécile McLorin Salvant, considerado o disco internacional número um na lista de António Branco na jazz.pt.
A receita para a inscrição da Nonesuch na história da cena editorial é uma combinação atual de arcaísmos, como a perfeição e a beleza, e a construção de uma fraternidade artística, cujas mundividências singulares e intensas se transformam num todo, simultaneamente múltiplo e unitário.
[1] Sobre o apelo sentido por Jac Holzman para a criação da Elektra Records e os artistas de alta qualidade que perfazem o seu catálogo, veja-se o imperdível documentário da BBC, intitulado “The Man Who Recorded America: Jac Holzman’s Elektra Records”.
[2] Oiça-se “Teresa Sterne: A Portrait” [79619-2], um CD duplo lançado em 2000, com a chancela da Nonesuch Records, que celebra a obra e os trabalhos de Sterne. O primeiro CD contém as performances de Teresa Sterne, datadas de 1938 a 1951, quer a solo quer com a CBS Concert Orchestra e a New York Philharmonic. O segundo destaca as gravações prediletas da pianista e produtora, a partir do catálogo da Nonesuch Records (e.g.: Paul Jacobs, Joshua Rifkin, Jan DeGaetani, Gilbert Kalish, Joan Morris e William Bolcom, além de seleções da série Explorer). Este CD duplo apresenta, ainda, um livreto de 48 páginas com ensaios de William Bolcom, George Crumb, Richard Freed, Gilbert Kalish, David Lewiston e do presidente da Nonesuch Records, Robert Hurwitz.
[3] A Nonesuch Explorer Series encontrou auditores entusiasmados e um público de contracultura que recorria à audição de “The Ramayana Monkey Chant” (a última faixa do álbum “Golden Rain. Balinese Gamelan Music” [H-72028], saído em 1969) durante as suas «chemically altered armchair travels», como fixado na página oficial da editora. O impacto da série reverberou no mundo da crítica, senão leia-se o que diz o crítico musical Milo Miles: «When I was a teenager, every record store indicated that music from other countries was unimportant. Foreign music albums had cruddy covers. They were dusty and stuck in the back. The only people who bought them must have been immigrants. The Nonesuch Explorer Series changed all that. The covers were bright and lively, with intriguing art and a look of something both hip and professional. The terrific two-LP sampler could provide a first exposure to Indonesian gamelan, Japanese wooden flute, and African thumb piano.» E, num numa leitura retrospetiva, que nos transporta até aos anos 60, leiam-se as linhas saídas no San Francisco Chronicle: «Flash back to the 1960s, when the Explorer Series began. Pioneers from Benjamin Britten to the Beatles had begun to steadily open our ears to what seemed like exotic sounds. Everyone, it seemed, was open to new ideas. In this atmosphere Nonesuch’s Music from the Morning of the World exploded as a chart-topper in the 1960s, alongside the then-new Nonesuch recordings of songs and dances from Mexico and the Bahamas that inaugurated the series’ recordings of overlooked music of the New World. This was all happening when most Americans thought Mexican music meant mariachis, when reggae was not a household word, when Andean flutes were not ubiquitous in soundtracks, when Cuban music was dying along with most of Cuban culture under Communism, and when Brazilian music was about to take over as the dominant influence in international pop.»
[4] A atualidade intemporal do mestre de tango é reforçada por Gidon Kremer no Journal da Nonesuch, assim: «You can sense through his music an experience that makes you at the same time joyful and sad. And saying these two words, ‘joyful’ and ‘sad,’ I could say as well that the striking combination of two extreme emotions go together like they go in Franz Schubert’s music, in Astor’s music. I know very few composers where you can feel it in such a passionate way.» Note-se, aliás, que o mestre argentino continua, ainda hoje, a ser justamente celebrado: a 28 de setembro de 2024, no Hot Club de Lyon, o Quinteto Libertad! fez uma inesquecível “Hommage à Astor Piazzolla”, intitulada “Nuevo Tango”. O quinteto é composto por Joseph Bonneton (violino), líder do projeto, que aproveitou o ensejo para apresentar na sessão musical composições da sua lavra, Pablo Amado (bandonéon), Adrien Irankhah (piano) e Florian Coppey (contrabaixo).
[5] Existe um documentário imperdível e comovente da autoria de Ana Sofia Fonseca, intitulado “Cesária Évora”, saído em 2022, que retrata de forma inédita e intimista a “diva de pés descalços”, desde a atmosfera generosa da sua casa, sempre de porta aberta, e o seu percurso internacional.
[6] Em 1997, “Buena Vista Social Club”, com quase três milhões de unidades vendidas, tornou‑se o álbum mais vendido na história da editora, o que promoveu a venda de centenas de milhares de álbuns de músicos vinculados ao projeto (Ibrahim Ferrer, Rubén González, entre outros).
[7] Não resisto em partilhar uma nota sobre o documentário award-winning, “Sisters with Transistors”, dedicado às mulheres pioneiras na música eletrónica, que rompe um silêncio de décadas. Realizado por Lisa Rovner e narrado por Laurie Anderson, este documentário magnético saiu a lume em 2020 e em janeiro de 2021 em Portugal. Em março de 2021, Lisa Rovner e o coprodutor Marcus Hed juntam-se numa conversa entusiasmante acerca do documentário, organizada pela EMPAC – Experimental Media and Performing Arts Center, em Rensselaer, New York.
[8] Este oitavo álbum de Laurie Anderson, o terceiro sob a chancela da Nonesuch, é dedicado a Amelia Earhart (1897-1937), defensora dos direitos das mulheres e a primeira mulher a sobrevoar o Oceano Atlântico em 1928. Em Junho de 1937, começa a sua viagem ao mundo e desaparece. Publicou a obra « 20 Hrs., 40 Min. Our flight in the Friendship» (1928).