Na despedida da rubrica de Cláudia Zafre, Peace to Mutants, cujas entradas podem encontrar aqui, inauguramos hoje uma nova série de contribuições regulares também dedicada à música. Intitulada O Canto do Mundo, em homenagem a uma lendária editora, a rubrica incidirá fundamentalmente sobre edições de música tradicional de todas as partes do mundo. Para começar, nada melhor do que destacar uma também muito lendária editora dona de um portefólio de centenas de títulos com registos magníficos de inúmeras tradições musicais de todas as proveniências, abordando desde tradições eruditas até populares, e focando-se em particular nas paisagens sonoras de locais do mundo mais obscuros e menos conhecidos para a psique ocidental, como as infindáveis tradições musicas locais da áfrica e da ásia profunda.
Fundada em 1957 pelo musicólogo Charles Duvelle e pelo experimentalista musical Pierre Schaeffer, o projecto pretendia inicialmente agregar conteúdos musicais reconhecidos e divulgados por equipas locais nas colónias francesas. Mais tarde, o projecto desvinculou-se da ligação exclusiva aos conteúdos relacionados com a soberania francesa — aliás, a descolonização que começava a ter lugar levou também a isso — e expandiu-se para se tornar um agregado fenomenal de música tradicional de todas as partes do mundo.
A título de exemplo, destacamos aqui três títulos específicos, que pretendem ser apenas um sortido avulso deste enorme universo que a editora representa dentro do também enorme e praticamente infinito universo da música tradicional por todo o mundo. Começamos pelas paisagens africanas, cuja polifonia complexa e visceral poderia perfeitamente ser confundida com uma composição de vanguarda do panorama ocidental do século XX.
Depois, abordamos também uma peça magnífica mas desta vez proveniente de um vasto mundo de tradições eruditas, de corte, de música de arte, do universo asiático.
Por último, e voltando a casa, destacamos a magnífica e hipnótica polifonia dos territórios da europa, mais especificamente da Itália.