Pegando na deixa de João Manuel Almeida, nosso colaborador, que abordou a referida instituição medieval portuguesa aqui, vimos deixar um pouco de informação sobre a mesma.
Os besteiros do conto eram uma espécie de conjunto de milícias populares sancionadas — e não apenas sancionadas, mas forçadas a existir por decreto — pelo próprio reino. Leandro Ribeiro Ferreira, da Universidade do Porto, e autor de um dos poucos trabalhos sobre esta força militar — que poderão encontrar em De homens-comuns a força de elite: os besteiros do conto em Portugal na Idade Média (1385-1438), resume exemplarmente a sua constituição no seguinte parágrafo:
Criada em Portugal em 1299, por D. Dinis (1279-1325), era formada por elementos recrutados, essencialmente, dentro do grupo popular dos mesteirais, com preferência para aqueles que revelassem especial aptidão no manuseio da besta. Esta força militar de base concelhia possuía uma estrutura de comando autónoma relativamente aos restantes contingentes militares municipais, gozava de um sistema remuneratório próprio e beneficiava de um atraente conjunto de privilégios. Para além disso, os besteiros do conto estavam também sujeitos a um conjunto de deveres específicos, nomeadamente ao nível do treino, da posse e manutenção de armas de qualidade e de um número específico de munições, para além de se encontrarem obrigados a manter um elevado grau de prontidão, circunstâncias que os convertiam numa autêntica força de elite.
Em baixo, documento do Arquivo Municipal de Lisboa (original aqui) onde D. João I regulamenta a instituição:
Também do Arquivo Municipal de Lisboa, o Rol dos Besteiros do Conto em pergaminho, da autoria de D. Duarte, de 1420. Todas as terras do Reino constam aqui, com os respetivos besteiros a armar.
Por último, a visão bastante elogiosa de João Manuel Almeida sobre a instituição.
Continuando a estudá-las, mais me convenço que é uma instituição muito proveitoso que nunca deveria ter acabado: os Besteiros do conto precisam de um retorno moderno – os Espingardeiros do conto! (…) [sobre a coexistência com o serviço militar feudal] Na altura ocorriam em paralelo. Haviam as hostes régia e senhorial. Ademais, os besteiros do conto. Em um País (como o nosso), parece-me um modelo a replicar aqui. Um Concelho pobre não consegue financiar exércitos, mas consegue armar pontuais homens com boas armas.”