Nos últimos tempos, mais um exemplo de uma incauta ideia activista contemporânea: colar as mãos a molduras ou vidros que revistam famosas obras de arte, em museus. É importante notar que os jovens que o fizeram há duas semanas com a pintura “Primavera”, de Sandro Botticelli, circa 1470-1480, verificaram que a mesma estava coberta por um vidro protetor e que não iriam
danificar a obra original. Mesmo assim, o comportamento é perturbante, particularmente por envolver obras de arte, e um destes dias poderá ser facilmente replicado por alguém disposto a danificar a própria obra. Estes não são bons exemplos para ninguém. Artigo no The Guardian.
Chamámos a atenção para um fenómeno que parece contemporâneo mas não é: trata-se do insulto barato e da utilização de termos que, em essência, não têm conteúdo pejorativo, para, através da sua redução à vulgaridade, atacar um adversário. Actualmente, podemos contar no léxico comum com “neo-liberal”, “comuna”, “fascista”/“facho”, o sufixo “(…)-fóbico”, etc; um pouco mais atrás no tempo, tínhamos “reaccionário” (possivelmente advindo de pessoas que objectavam contra a lei newtoniana da acção-reacção), e também “situacionista”, etc. Mais atrás ainda, whiggish (na Grã-Bretanha), “conservador”, “jacobino” e, claro, “medieval”! A propósito de toda esta tolice, quisemos lembrar a sátira de Samuel Beckett na peça À espera de Godot, em que para determinadas personagens envoltas numa disputa verbal o pior insulto que poderiam usar era “ARQUITECTO!” (e essa graça, apesar de pertencer ao absurdo, tem a sua origem histórica, que podem conhecer aqui). Cremos que é muito equivalente ao insulto barato das expressões que enunciámos, algumas que fazem parte do nosso quotidiano, e agradecemos ao professor António M. Feijó por nos ter apontado isto.
Desejamos, é claro, a todos os arquitectos, neo-liberais, fascistas, comunistas, fóbicos em geral, reaccionários, situacionistas, whigs, conservadores, jacobinos e medievais (inclusive aos medievalistas) um excelente resto de mês de Agosto, como não podia deixar de ser! Na imagem, um roteiro da peça anotado por Beckett com o elenco dos insultos.
Para quem segue a política norte-americana, uma referência orientadora para o que se passa no resto do mundo, principalmente no mundo das democracias liberais parlamentares e representativas em que vivemos, tem-se tornado cada vez mais difícil obter conteúdo noticioso que não tenha significativo viés político. É bem sabido que a Fox News pende para o lado republicano, mas talvez não seja tão comum entre europeus saber-se que a CNN passou, de há uns anos para cá, a pender para o lado democrata de um modo tão polarizado como a Fox. O que resta, então? Pouca coisa. Apresentamos duas referências sobre este assunto: na imagem, uma disposição ideológica dos órgãos de comunicação norte- americanos do site AllSides, que curiosamente realiza comparações diárias entre as manchetes que órgãos de esquerda, de direita e de centro fazem da mesma notícia. Recomendamos também o fabuloso agregador de notícias Real Clear Politics, que faz um trabalho fantástico ao ir buscar conteúdos a todos os lados. Talvez um destes dias uma entidade semelhante venha a ter lugar no panorama português.