Sugestões: Excelentes Documentários sobre Economia

Recomendamos hoje várias obras documentais, de audiovisual, sobre filosofia económicas. É difícil navegar a oferta dentro desse mundo, pois abundam entradas do género alarmista, programático, catastrofista: análises histéricas às “crises do capitalismo”, abordagens beatas e moralistas ao pecado da dívida, teorias da conspiração sobre bancos mundiais e controle da população, etc. Tentemos manter os pés na terra e sugerir algumas obras perfeitamente lúcidas, acessíveis ao público em geral e até optimistas. É possível que alguns destas sugestões não o sejam inteiramente, mas confiamos na inteligência dos leitores para, caso necessário, darem o devido desconto e aproveitarem o que cada uma tem de bom e de válido. Mas estas são seguramente escolhas acima da média: se verificarem a seguinte lista de documentários contemporâneos sobre o tema, contemplarão exactamente o tom sensacionalista, alarmista, descontrolado e sem juízo crítico e histórico sério que infelizmente domina o panorama do género.

Começamos com Poverty, Inc., de 2010, de Michael Matheson Miller, produzido pelo centro de estudos liberal Action Institute. Aborda, de modo exótico em relação às abordagens mais comuns, o papel da indústria do assistencialismo económico, exercido maioritariamente pelos países desenvolvidos do hemisfério norte em relação aos países sub-desenvolvidos do hemisfério sul, em particular as dinâmicas de poder, de vício e dependência, a que esses mesmos países e povos são sujeitos, frequentemente prendendo-as em ciclos de que nunca se conseguem libertar e que, em parte, e de múltiplas e discretas maneiras, beneficiam os emissores dessa caridade institucionalizada, mais do que os receptores. É uma espécie de narrativa de neo-colonialismo aplicada à abordagem paternalista do mundo desenvolvido ao resto do planeta. Podem encontrá-lo aqui em várias plataformas pagas.

Seguimos com Heaven on Earth: The Rise and Fall of Socialism (2005), um documentário da PBS que retrata a ascensão e queda das experiências do século XX em larga escala que pretenderam dar corpo às ideias de Karl Marx sobre a sociedade ideal. Dividida em três capítulos, a peça começa mesmo no socialismo utópico, nas suas raízes no século XIX, o corpo teórico e político desenvolvido posteriormente por Marx e Friderich Engels, e os inícios do movimento de emancipação e direitos operários. No segundo capítuo, passamos para as revoluções políticas de várias variantes do socialismo no início do século XX: a bolchevique, a de Mussolini, a expansão do comunismo chinês. Versões mais leves deste ideário são também encontradas no socialismo britânico, nos kibbutz israelitas e em alguns países de África. Todas estas experiências foram largamente falhadas. Por último, abordam-se os explícitos e inegáveis colapsos em grande escala de todas essas experiências, nomeadamente a da URSS, a transformação da China, e o triunfo do modelo democrático liberal a que Francis Fukuyama chamou “o fim da história”. Podem ter o prazer de assistir ao documentário completo aqui.

Depois, temos uma das obras mais sólidas e mais populares na sistematização e divulgação dos princípios do liberalismo económico, com um excelente trabalho na explicação dos seus sucessos. Free to Choose, do economista Milton Friedman, produzido também pela PBS em 1980, consiste numa obra literária e numa série televisiva de dez episódios com um argumento forte e muito optimista quanto à capacidade dos mercados económicos, ou seja, da livre iniciativa das pessoas, para se auto-regularem e constituírem a base mais poderosa conhecida para a riqueza económica e a sua distribuição. É importante notar que o argumento de liberais como Friedman nunca é que o liberalismo económico é um sistema perfeito, mas simplesmente que, conforme os dados históricos indicam, é de longe o modelo económico com maior probabilidade de trazer prosperidade ao maior número de pessoas possível. A série completa pode ser assistida nesta ligação.

Continuamos com Capitalisme, série documental em seis partes produzida pelo canal Arte e tutelada por Ilan Ziv, em 2014, que empreende uma leitura histórica abrangente da ideologia económica a que hoje, e desde há dois ou três séculos, chamamos de capitalismo. Começando com as raízes do comércio livre na fase inicial da globalização, depois com o corpo teórico de Adam Smith, continuando com David Ricardo e Thomas Malthus, a critica de Marx, o debate entre Keynes e Hayek, e a tentaiva de reintegração entre moral secular e economia de Polanyi. Mais uma vez, a série está disponível na íntegra para ser assistida online na seguinte ligação.

Seguimos com a ia homenagem não só necessária mas mesmo imprescindível a um dos sistemas económicos mais populares de hoje e desde há quase oito décadas: a social-democracia. Em Social Democracy In Denmark, de 2014, de Lance Soler, empreende-se uma viagem ao sistema social de um dos países nórdicos tão afamados pela suposta implementação irrepreensível, e com grande unanimidade entre a população, do sistema social-democrata. Podem assistir ao documentário na seguinte plataforma paga.

De seguida, uma reportagem de trinta minutos também da CBS, Speaking Frankly: Socialism, de 2020, sobre o pesadelo totalitário de muitos regimes no presente considerados socialistas como Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, entre outros. Apesar de baseados numa ideologia tentativamente igualitária, com grande frequência, facilidade e estrondo caem num charco de pobreza, de corrupção, de opressão policial e estatal, e de ausência de liberdades básicas a que a resposta dos serviços públicos em termos de habitação, saúde, educação e alimentação, por se situar no âmbito da pobreza e da corrupção, não consegue compensar, substanciando como se tratam de sistemas falhados. Podem ver o documentário aqui.

Seguimos com Masters of Money, de 2012, produzido pela BBC, em três episódios, cada um deles dedicado a um economista titã na paisagem intelectual moderna: no caso, John Maynard Keynes, Friederich Hayek e Karl Marx. O primeiro como pioneiro de macroeconomia, partidário de intervenção estatal e políticas redistributivas; o segundo, pai da escola austríaca de neoliberalismo económico, apiante do mercado livre e desconfiado de iniciativas do poder central; e o último, lendário crítico do capitalismo através da lente do materialismo histórico, sistematizador inigualável, se bem que imperfeito, desse modelo económico, e proponente de uma altenrativa política ousada e utópica. É mais um conteúdo que está disponível gratuitamente online; podem começar com o primeiro episódio aqui.

Por último, Money as Debt, do canadiano Paul Grignon, de 2006, aborda como os sistemas de criação de dinheiro dos estados modernos podem assentar, em parte, em esquemas de pirâmide e como as emissões de dívida pela parte dos estados acabam por ser uma maneira de políticos em busca do voto resolverem superficialmente problemas materiais e empurrarem as dificuldades para o futuro. Podem visualizar o documentário completo aqui.