O vinho e os relógios podem pertencer a mundos muito distintos; porém, encontrámos dois pontos principais em comum: o envelhecimento e a personalização. Imagem: Universal Geneve Aero-Compax 1940 e Chateau Mouton Rothschild, 1934. Publicado originalmente em https://www.institutoportuguesderelojoaria.pt/post/vinho-e-relojoaria.
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DO VINHO
O envelhecimento do vinho é um processo complexo e multifacetado que envolve vários processos químicos e físicos. Durante o envelhecimento do vinho, há uma interação do líquido com a madeira da barrica ou com a garrafa, isto para além de reações químicas entre os componentes do vinho.
Oxidação
Um dos processos químicos que ocorrem durante o envelhecimento do vinho é a oxidação, que é a reação química na qual um composto perde electrões. A oxidação pode ocorrer de várias maneiras, como a exposição do vinho ao oxigénio, por meio da porosidade da barrica de carvalho ou da rolha.
Estrutura – polimerização dos taninos
Outro processo químico importante que ocorre durante o envelhecimento do vinho é a polimerização dos taninos. Os taninos são compostos orgânicos encontrados nas uvas e na madeira da barrica que ajudam a dar ao vinho a sua estrutura e sabor característicos. Durante o envelhecimento, esses taninos polimerizam-se e formam moléculas maiores e mais complexas que podem suavizar a sensação de adstringência no vinho e acrescentar complexidade ao sabor.
A reação de Maillard
Além disso, durante o envelhecimento ocorrem diversas reações químicas que podem afetar a cor, o aroma e o sabor do vinho. Por exemplo, a reação de Maillard ocorre quando os açúcares e os aminoácidos do vinho se combinam, resultando numa variedade de compostos que podem contribuir para o aroma e o sabor do vinho envelhecido.
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DOS RELÓGIOS
A patina nos mostradores e nos ponteiros é uma forma natural de envelhecimento que ocorre ao longo do tempo devido à exposição a vários fatores, como a luz, a humidade e a oxidação. A patina é uma camada fina de descoloração que se forma na superfície do mostrador e dos ponteiros dos relógios, geralmente de cor amarela ou acastanhada. É causada por uma combinação de reações químicas e físicas que ocorrem quando o metal dos ponteiros e o revestimento do mostrador reagem com o ambiente, ao longo do tempo.
A oxidação
Tal como o vinho, os relógios também envelhecem devido à oxidação. A oxidação é uma das principais causas da existência de patina. O oxigénio do ar reage com o metal dos ponteiros e o revestimento do mostrador, formando uma camada de óxido que se acumula ao longo do tempo. Essa camada pode mudar a cor original dos ponteiros e do mostrador, criando uma aparência mais escura ou amarelada.
Luz e humidade
Além disso, a exposição à luz e à humidade também pode acelerar o processo de envelhecimento e de surgimento de patina. A luz do sol pode causar descoloração, a humidade pode levar a corrosão e ao aparecimento de manchas.
Marca de autenticidade
A patina é valorizada por muitos colecionadores de relógios, pois é vista como uma marca de autenticidade e história. No entanto, alguns proprietários de relógios preferem manter os seus relógios em condições originais e evitam a formação de patina, armazenando-os em condições controladas e evitando a exposição a fatores ambientais que possam acelerar o processo de envelhecimento.
Restauro
Ao contrário do que acontece com o vinho, os relógios podem ser restaurados. O processo de restauro pode variar dependendo do tipo e da extensão dos danos. Nalguns casos, apenas uma limpeza cuidadosa pode ser suficiente para melhorar a aparência do mostrador. Noutros casos, pode ser necessário um processo mais complexo que inclui a remoção de rachas, manchas ou até mesmo a aplicação de um novo revestimento.
É também possível que seja necessária a substituição total do mostrador. Isso é especialmente comum em relógios antigos que têm mostradores originais muito danificados ou que foram substituídos por mostradores não originais. Por fim, noutros casos, o relojoeiro pode optar por criar um novo mostrador, o mais fiel possível ao original, com recurso a várias técnicas especiais aprimoradas ao longo dos anos.
LOTEAMENTO DO VINHO
Não fazendo sentido restaurar vinho, o mais próximo que se pode fazer é o seu loteamento. Este é um processo que consiste em combinar diferentes lotes ou castas de vinho para criar um produto final consistente em termos de sabor, aroma e cor. O processo é frequentemente usado em adegas vinícolas para criar lotes que possuem características desejáveis de diferentes castas. Pode-se por exemplo dar força a um vinho envelhecido com até 15% de vinho mais jovem. Esta percentagem é a máxima recomendada.
O processo de loteamento começa com a seleção cuidadosa dos lotes de vinho. Cada lote de vinho é geralmente produzido a partir de uvas colhidas numa única casta, região e/ou variedade de uva. Cada lote pode ter suas próprias características distintas, como sabor, aroma e cor, que são influenciados pelo clima, solo e outros fatores que afectam o crescimento e maturação das uvas. Depois dos lotes serem selecionados, o enólogo ou o especialista em loteamento irá provar cada um para avaliar as suas características. Pode usar notas de degustação para avaliar a acidez, o teor de açúcar, o corpo e outros elementos de sabor que são importantes para o produto final.
Receita
Com base nas características dos lotes individuais, o enólogo ou o especialista em loteamento irá criar uma receita ou fórmula que indica a proporção de cada lote a ser usado no resultado final. Pode ajustar essas proporções várias vezes até obterem o perfil de sabor e aroma desejado.
Maturação
Quando a receita é determinada, os lotes são misturados num grande tanque ou barrica para que as características do sabor e aroma se integrem ao longo do tempo. Isso é conhecido como a fase de maturação. Durante esse período, o enólogo pode provar o lote periodicamente para avaliar o progresso
Engarrafamento
Quando o lote é considerado pronto, o vinho é engarrafado e rotulado. Cada garrafa pode ser rotulada com informações sobre as variedades de uva usadas, as regiões de origem e outras características que podem ajudar a identificar as características distintas do produto final.
PERSONALIZAÇÃO DE RELÓGIOS – Modding
À semelhança do que acontece com o loteamento dos vinhos, acontece por vezes que alguns utilizadores optam por ajustar o aspecto de um relógio aos seus critérios estéticos. A este processo dá-se o nome de modding ou personalização. Há muitas técnicas diferentes de modding de relógios, e a complexidade do processo pode variar dependendo do tipo de modificação que é realizada.
Algumas das técnicas mais comuns de modding de relógios são a troca de mostrador, instalação de ponteiros, instalação de aros e escalas, trocas de correias ou braceletes, ou mesmo substituição do movimento. Este é um processo que pode ser levado a cabo por coleccionadores, com resultados arriscados, ou por relojoeiros experientes, com resultados mais fiáveis.
Ao contrário do que acontece com o vinho, a personalização de relógios não é uma técnica muito bem aceite. Muitos coleccionadores são da opinião de que este processo desvirtua o relógios. Outros sentem que esta alteração torna os seus relógios realmente especiais.
E foram estas algumas observações sobre os paralelos entre duas indústrias à partida tão díspares. Mais comentários e sugestões sobre este tópico são bem-vindos. Contactem o Instituto Português de Relojoaria em http://www.institutoportuguesderelojoaria.pt.